março 23, 2012

N.A.O. | Ora vamos lá a ver se a malta se entende

A verdade é que já não posso ouvir falar do maldito acordo ortográfico (N.A.O.), que já por aqui fez correr muita tinta.
E, quando oiço outras pessoas dizerem o mesmo, que estão fartas do assunto e que era atirá-lo pela janela porque está pejado de idiotices, estou absolutamente convencida de que só se amaldiçoa o que se conhece, da mesma forma que só se gosta do que não nos é estranho (ok, ok, este último período dava para outro post, mas deixêmo-lo assim, que para o assunto chega bem).
Estava rotundamente enganada.

A nova virose facebookiana (não informática, ressalve-se, mas pior: a da ignorância que se alastra acriticamente) radica na imagem que se segue:


E esta imagem vi-a, há uns dias largos, no perfil do D. e hoje no perfil da A..
No outro dia, um dos meus professores referiu-se a esta frase como sendo de Miguel Esteves Cardoso (lá nos idos anos 90, quando todo o processo começou) e subscreveu-a. E foi então que comecei a ficar preocupada.
Aos dois (D. e A., apenas; quanto ao professor, fiz de conta que estava muito distraída, já que a conversa não era comigo) expliquei que a mensagem não era só enganosa, antes constituía um rotundo erro, não só porque o acordo não prevê qualquer alteração na acentuação das palavras exdrúxulas, que continuam a sê-lo na (antepenúltima) sílaba tónica, como também porque a palavra facto, em Portugal, manter-se-á tal como está, justamente porque se lê o C e a regra geral é a de que desaparecem as consoantes mudas (esqueçam os agás no início das palavras, esses ficam, ok?); já no Brasil, continuar-se-á a escrever fato - um dos muitos casos de dupla grafia que, quanto a mim, são o maior dos argumentos contra esta parvoíce: se é para manter excepções, por que não deixar as coisas como estão?
E pronto, poderia quedar-me pela dilucidação e estava feito.
Mas não deixa de me fazer comichões esta imensa impressão de que, quando fala, a maioria das pessoas não sabe do que fala. E isso é tanto triste como assustador.


Nota: não, a minha formação não é linguística, tenho tanta obrigação de conhecer o N.A.O. como qualquer outro cidadão e só sei do que falo porque estou ciente de que o conhecimento nunca fez mal a ninguém, por um lado e, por outro, porque não falo do que desconheço. Sim, sim, já sei... manias minhas!!

6 comentários:

  1. Há críticas que, de fato, são uma cagada.

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  2. O pá.... eu ia fazer este post hoje .... :-)

    Jorge

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  3. Pois eu sou contra esta coisa hedionda que nos obriga a escrever mal as palavras apenas para agradar a uma imensidão de gente que não sabe escrever correctamente.
    As justificações para uniformizar uma coisa que não é uniforme são ocas e infundadas.
    Se os Brasileiros quiserem escrever "umidade" em vez de humidade, ou conceção em vez de concepção ( que não cria confusão alguma com concessão, cria lá agora!!!) e uma tonelada de outros disparates de igual jaez, isso é lá com eles. Agora querer que no mundo Luso, e principalmente nos países de expressão Portuguesa em África se deixe de escrever consoantes que nós pronunciamos levemente mas os que os Africanos destacam com ênfase, é um disparate completo. Não se fala o Português do mesmo modo em todo o mundo, senhores!!! Tal como não se fala o mesmo Francês nem sequer em França quanto mais suas nas ex-colónias, e o mesmo para o Inglês, o Castelhano etc, etc.
    Esses Países foram pelo caminho natural do bom senso e adaptaram a grafia às suas espeficidades locais, sem que isso tenha levado a que um Londrino tenha dificuldade em ler um texto da Nova Zelândia, ou vice versa.
    No caso deste "acordo" bem sei que ficaram algumas duplas grafias, meia dúzia praí se tanto, não sei, podem ser mais, mas basta ir a qualquer forum da net onde se põem dúvidas sobre a ortografica correcta das palavras e pesquisar por exemplo "exceção" - que deve ser escrito "excepção" tal com "excepto", e não no execrável exceto,- para ver a imensidão de gente que tem dúvidas se a palavra deve ser "exceção" ou "excessão"....
    O corte com etimologia, em favor de uma pretensa, e totalmente falaciosa fonética global, não só não facilita, como complica. Ao não se respeitar na grafia a raiz da palavra, todas as derivadas dela ficam flutuando à solta, desancoradas e perdidas.
    No caso de Exceção, seria tão simples e elucidativo o "p". Excepção, ja´que "excepssão, não lembraria ao Diabo, creio que nem a um pobre como o nosso Nelo, tão desgraçado que ele é a escrever.
    E a prova disso mesmo é a confusão dos pobres diabos que enchem tudo quanto é forum a perguntar coisas que seriam evidentes se não se cedesse ao facilitismo de querer legitimar erros e falta de conhecimentos.
    Se há necessidade de simplificar algumas palavras? Sim, podemos simplificar algumas em que não se criam confusões derivadas da homofonia entre elas, em que não se diluam sentidos, em que não se desenraizem do seu contexto genitivo. O contrário não será simplificar mas complicar, e isto fundamentalmente porque "num habia nexexidade..ts ts ts!"

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  4. Charlie: és tu contra o NAO como o é qualquer pessoa de bom senso, o que não nega a "tese" deste post: para criticar, é preciso conhecer. :) o exemplo é o do acordo mas poderia ser qualquer outro!

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  5. pronto, já la vai, Saozinha, mas deixa lá a estrela (boa) da Ana brilhar mais tempo neste firmamento. :)

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