maio 15, 2012

IV. “Tecnologia da Natureza pura” ou “A maldição da Criação”

No princípio não era nada o “Verbo”. No princípio não éramos nada. À vista dos tigres, com os seus enormes dentes e garras, ou dos elefantes, com a sua imensa força e tamanho, das pernas grandes das avestruzes, das guelras dos peixes, da asas das aves, não éramos nada. A Natureza deu-nos a nós a inteligência para criarmos meios que permitissem defendermo-nos das ameaças e obtermos os nossos alimentos num ambiente que nos era tremendamente hostil. A nossa inteligência principiou exactamente com a nossa extrema fragilidade e no limiar da escassez. De acordo com algumas teorias mais recentes, foi a aproveitar dos restos das carcaças dos grandes predadores que nos safamos. E só o que restava das carcaças eram os crânios e os respectivos cérebros a que os grandes predadores não conseguiam aceder. Nós lá inventamos maneira de partir aquilo (porque não havia mais nada para comer)… e foi “ouro sobre azul”… porque se por um lado precisávamos da tecnologia para sobreviver, por outro, esse tipo de alimentação fornecia-nos os nutrientes mais favoráveis ao desenvolvimento da inteligência. Parece-me uma boa teoria. É lógico. Daí em diante foi sempre a andar… inventamos o fogo, a roda, aprendemos a controlar alguma coisa da Natureza e a cultivar alguns alimentos… e depois das grandes feras vencidas, nunca o aperfeiçoamento tecnológico deixou de ser necessário, porque sempre prevaleceu a maior de todas as ameaças: o nosso semelhante. E assim foi, sempre em luta destemida com o próximo, e sempre a inventar e a aperfeiçoar novos instrumentos até à bomba atómica e aos satélites… e sempre com um imenso lastro de destruição à nossa passagem… Não fosse a Natureza um dia destes dar-nos um “basta” nisto, e pudéssemos nós saltar para outros planetas, que iam também… Somos Natureza pura! Tanto ou mais que outro animal qualquer. E estamos bem longe de ser “meiguinhos”… como os herbívoros e a generalidade dos grandes mamíferos marinhos… quer nos agrade ou não (porque pensamos… às vezes…), a nossa essência é violenta e carnívora.

É assim que ainda hoje, embora já não seja nada “desportivo”, uma boa parte de nós mantém o gosto por abater bichos grandes e perigosos… elefantes, rinocerontes, tigres, touros… reminiscências das nossas primeiras grandes ameaças… E quanto à nossa maior ameaça, está bem viva, e ao que parece jamais a esqueceremos…

… e só a nossa boa consciência a rondar a cegueira a respeito de nós próprios nos impede de ver que ainda a que a cada cem de nós haja um ou dois de uma doçura, inteligência e sensibilidade de pasmar, em maior número os há de uma bestialidade acima da média. E não é a doçura, a inteligência e a sensibilidade que nos torna mais aptos à sobrevivência nesta selva… mas antes a inteligência aliada à ferocidade.

  Resumindo: a espécie Homo sapiens sapiens vai extinguir-se para muito breve, não para tão breve como outras das muitas espécies que a cada dia se extinguem à conta da sua capacidade de destruição, mas para muito breve. Só por milagre seria de outra maneira. Porque ao contrário do que o Homo sapiens sapiens (não) pensa, o Homo sapiens sapiens só sobrevive enquanto o conjunto do equilíbrio a que ele pertence funcionar. Exacto. Aquele equilíbrio que o Homo sapiens sapiens está neste momento a alcatroar e a cimentar e a terraplenar e a emporcalhar irremediavelmente para fazer coisinhas que o Homo sapiens sapiens (não) pensa que lhe serão mais úteis: uma estrada, uma malinha nova, uma sandalinha de outro modelo, um míssil, um telemóvel, um carrinho diferente, etc., e, acima de tudo, para conseguir algo que o Homo sapiens sapiens adora: poder e dinheiro. Tem, por isso, o Homo sapiens sapiens (que de sapiens só tem mesmo a designação peneirenta) os dias contados. À vista de muitas, pode desde já adiantar-se que foi “uma espécie de muito curta duração”. Isto da “inteligência” não dá mesmo resultado nenhum, muito menos com espécies agressivas. Os meus votos são de que na próxima versão de equilíbrio não suceda outro azar nem outro desastre destes… um paraíso tão belo reduzido a uma lixeira de sacos de plástico, entulhos e tralhas inúteis e fedorentas, só porque uma espécie, apenas uma entre bilhões delas, falhou.

(… parece que adivinhava que comer do fruto daquela sacana daquela árvore ia acabar por me deixar indisposta… Agora pronto. O melhor é comer um chocolate… ou dois… e a seguir dar-lhe nuns sais-de-frutos…)

30 comentários:

  1. A seguir deve vir o Homo sapiens sapiens sapiens... e por aí fora...

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    1. ... a seguir é ao cubo... :O)

      Olha o que encontrei para aqui quando noutro dia andava a ler umas coisas sobre o "síndrome da floresta vazia": "A história da Vida na Terra é uma história de extinções, tendo os paleontologistas identificado 5 períodos relativamente curtos; 1 a 10 milhões de anos; de extinção em massa. O mais significativo ocorreu no final do Período Permiano, que eliminou entre 77 e 96% das espécies existentes na época". Pensava que ainda só tinham sido identificados dois... Enfim... como se não bastasse aprender-se tão pouco e tão devagar, o conhecimento agora é actualizado quase todos os dias... Ao menos agora, se já antes não sabíamos nada, o que não faltam são argumentos que atestem a nossa ignorância. É estranho que alguns não se convençam... mas a apanhar com um nome destes desde pequenino (Homo sapiens sapiens), (entre outras), até é natural que a ignorância vá ao ponto de que a malta não tome sequer consciência de ser o que é...

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    2. ... e anteontem no Jardim Botânico fiquei a saber que a espécie Ginkgo biloba, ao contrário do que eu tinha lido noutro sítio há uns anos atrás, não existe há duzentos milhões de anos, mas há duzentos e setenta milhões de anos (não andava longe... são só setenta milhões de diferença...). Sabias que (está na Wikipédia) esta espécie: "Foi descrita pela primeira vez pelo médico alemão Engelbert Kaempfer, por volta de 1690, mas só despertou o interesse de pesquisadores após a Segunda Guerra Mundial, quando perceberam que a planta tinha sobrevivido à radiação em Hiroshima, brotando no solo da cidade devastada". Ah grande Ginkgo!!! Isto é que é uma espécie a sério!!

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    3. (... uma explicação lógica para este comportamento do Homo sapiens sapiens, partindo do pressuposto de que ele é realmente sapiens, é de que ele esteja empenhado em entrar para o guinness da extinção de espécies... Eu apostava que vai conseguir... Nós somos animais muito inteligentes... havemos de arranjar maneira de ficar para a história...)

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    4. Olha que é capaz de ser mesmo isso. Nesse caso, deveria chamar-se Homo sapiens sapientissimus

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    5. ... também podia ser Homo sapientissimus superhipersapiens... :O)

      (... gostava de saber como é que pões um itálico nisto...)

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    6. A caixa de comentários permite os comandos de HTML mais simples:

      Itálico é com símbolo < seguido de i do símbolo > no início e com símbolo < seguido de /i do símbolo > no fim.

      Para negrito, é idêntico mas com b (bold) em vez de i.

      Podes também pôr links: símbolo < com o comando a href="link" e acaba com o símbolo > [aqui escreves o texto que queres] e acabas com os símbolos < / a e >.

      (não posso pôr aqui os comandos exactos porque... seriam executados)

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    7. Obrigada, querida!

      deixa ver se apanhei

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    8. Linda menina!

      (olha a novidade)
      (vês? Dá para usares duas formatações distintas para o mesmo texto)

      E o link externo, experimentaste?

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    9. Ainda não que não tenho o que linkar, mas amanhã já linko... se conseguir... ;)

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    10. Já que não arranjo o que linkar, ponho a malta a ler qualquer coisa útil ali do outro lado...

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    11. Deixa lá ver agora...

      [Já que não arranjo o que linkar, ponho a malta a ler qualquer coisa útil ali do outro lado...]

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  2. Pois então no próximo renascimento da vida na Terra a inteligência passa para os beija-flor, assunto resolvido!
    :)

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    1. Pelo sim, pelo não, acho que o melhor é que nunca vá além da dos chimpanzés (e mesmo assim já é muito...) Mas a Natureza é que sabe, se calhar também lhe dá gosto de vez em quando fazer uma experiência nova...

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    2. Todos menos o ornitorrinco! Dotado de inteligência, bastará olhar para o espelho e não vai descansar enquanto não tiver asas. E daí aos motores de explosão é um tiro em termos cósmicos...

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    3. Propões o quê? As libelinhas, que já têm asas e saltam um passo?

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    4. (... não é por nada, mas libelinhas com inteligência era fixe... davam cabo do planeta na mesma, mas ao menos curtiam à brava aquelas metamorfoses todas... e aquilo devia ser com cada montanha de complexos... que era mesmo giro...)

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    5. Só temos que lhes aplicar muita purpurina :O)

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  3. Sim, ornitorinco, ornitironco, ou orniticonco, todas as experiencias sao bemvindas.
    Bora brincar aos Deuses, esses gandas malucos... ;)

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  4. Concordo! Ainda saía praí um ornitibronco hehehehe :)))

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