maio 07, 2012

Manifesto

Caro concidadão,

Lamento o incómodo, mas realmente, espero que compreenda, é intolerável continuar a roubar-me desta maneira. Ainda mais de forma tão prolongada. Parece-me muito exagerado. Eu compreendo que goste de ser roubado e insultado e tratado abaixo de cão… mas, por favor, respeite a minha pobreza e a minha inteligência, ao menos nos próximos trinta anos. Nem é assim tanto… De qualquer forma, o que lhe peço encarecidamente é tão só que não se deixe enganar pela quinquagésima oitava vez, e que, numas próximas eleições, tenha a bondade de NÃO VOTAR em:

• Partidos que integrem elementos, nem que seja apenas um, que declaradamente tenham lesado o interesse público, a menos que o próprio partido corrija de imediato a situação em causa expulsando esse(s) elemento(s);

• Partidos que alguma vez tenham tomado alguma medida, nem que seja apenas uma, notoriamente contrária ao interesse público, mesmo que apresentem novos candidatos de boa aparência (e que esses tenham “pernas boas” ou sejam verdes com antenas);

• Partidos que algum dia tenham feito eleger um primeiro-ministro ou um ministro que tenha ousado, sem o mínimo de vergonha, mentir aos seus eleitores com quantos dentes tem na boca (por mais que lhe agrade a cor da bandeira, não volte a votar num partido destes NUNCA MAIS).

Peço-lhe ainda, por obséquio, que vote. Não se abstenha, nem vote em branco ou nulo, que isso será o mesmo (ou pior) que não votar. Na última eleição havia à sua disposição uma listagem de dezoito partidos, algum há-de arranjar que não viole as premissas anteriormente apontadas. O Estado somos nós. Embora no caso, o Estado (ladrão) seja muito mais o caro concidadão que eu, porque eu há muito que cumpro estas regras elementares.

Grata pela sua atenção,

Subscrevo-me atenciosamente,

Sua concidadã

(Se o meu “caro concidadão” fosse de outra têmpera, o 25 de Abril seria sempre uma festa de arromba! Em vez disso, já tenho ouvido a várias pessoas que se soubessem o que isto ia ser “iam buscar o Salazar à cova”. É triste, não é?

Porém, se as coisas são o que são, é só porque estes tipos (governo) lidam com o à-vontade de estarem a “governar” uma manada de vacas acéfalas e desdentadas. Se estivessem a lidar com “pessoas” não teriam nem de longe nem de perto esta margem de manobra.

E o que é mais curioso é que quanto mais mentem e roubam mais votos têm, que a população descontente vai a correr votar na “oposição”… e com o receio imenso do “vazio do poder” (Ai! Ai! Que é o fim do mundo! Vamos morrer todos!) anda assim a ser jogada entre o rosa e o laranja como um berlinde nas patas de um gato…

Uma grande parte das pessoas rouba se puder (ainda mais se o roubo for "fácil"). Isto é comum a toda a população, políticos incluídos. Sempre foi assim. Não sei qual é o espanto. A questão foi sempre a de impedir o roubo ou, ao menos, mantê-lo em níveis aceitáveis. Coisa que não acontece porque ao contrário de fazer pelo voto uma selecção de pessoas “honestas”, o “caro concidadão” apura uma selecção de ladrões, cada vez mais aptos e mais audazes e com redes de conexões mais bem consolidadas. Só lá fica a pior cáfila. As pessoas honestas ou saem ou são postas na rua. E depois queixa-se e admira-se muito o “caro concidadão” de ser cada vez mais roubado. Isto é muito estranho, não é? De facto, quem devia cá estar não era a Troika, mas a National Geographic …)

21 comentários:

  1. (Peço desculpa a todos pelo uso, talvez excessivo, do "espaço", mas pareceu-me haver um buraco a jeito... e não resisti. E depois... tenho que dar andamento aos "atrasos"... :O) )

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    1. Excessivo?! Tu estás tolinha? Só escreves sobre temas em que tens bons argumentos. E esse é o tema deste blog. Força nisso, Libelita!

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    2. Não gosto de "abusar" (ou melhor... gosto, mas só em situações "especiais"...) Obrigada pelo apoio. Vou-lhe dando... ao menos, como tu dizes, "desabafo"... e sempre tenho alguma fé que no meio de tanto "chumbo" algum se aproveite... ;)

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  2. Eu só não percebi a simultaneidade de as vacas serem acéfalas e desdentadas, nomeadamente a conexão entre estas duas características.
    Tirando esse detalhe bovino, não olhei como um boi para o palácio enquanto ruminava esta prosa embora aproveitasse o pretexto de comentar esta posta para de caminho ir deitar o olho (de boi) a uma outra (não vou aqui citar linques...).

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    1. Caríssimo tubarão,
      Não há propriamente uma con exão entre estas características, é só mesmo a questão de (estas vacas), para além de estúpidas, nem serem capazes de "morder".

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  3. É um blogue óptimo que gosto de ler todos os dias e comentar e onde são rosas benvindas todas as trufas com o seu leque afrodisíaco de aromas e sabores.

    As pessoas são proibidas de dizer disparates como esse de ir buscar o Salazar à cova. O Nelo até se arrepiou todinho ao ouvir falar em covas..Melhéres, livra açim!!!
    Quem tem saudades do Salazar são as pessoas que de algum modo ou outro se revêem no modelo pequenito, pobrezito, e conformadozito do senhor de Santa Comba, misógeno e sovina que jamais teve uma relação amorosa outra que não fosse a que mantinha com o adereço entre os pés e o chão que pisava, jamais tentou um voo de alma, agarrado ao dinheiro e ao calçado de tal sorte que lhe chamavam " o botas" e depois de um atentado ao carro oficial, o "senhor esteve". Deixou de anunciar visitas e assim, os noticíarios da Emissora Nacional, referiam-se a ele dizendo o presidente do concelho, sua excelência sr doutor oliveira salazar (que não o da serra) "esteve" de visita em tal ou tal parte.... Não fosse o diabo tecê-las e ter uma bomba à sua espera...
    Mas os saudosos, se tem memórias melodramáticas cheias das tais saudades da vida de sol a sol a troco de uns copos de vinho, brôa e couves e uma rebanhada de filhos a comer pão com ranho, paridos de uma mãe analfabeta e de bigodes maiores do que os do marido, deixam-me perplexo.
    Deverão ter problemas na indentificação das suas memórias, pois o que temos a governar - excluindo felizmente o campo da sua afectividade mais próxima-, não é nem mais nem menos do que um novo Salazar.
    Nem sei porque se queixam, vamos a passos largos a caminho da aldeia da roupa branca com a única diferença de quase já não termos gente no que resta do que eram as aldeias...

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    1. Meu querido Charlie,
      O português odeia a ditadura. Odeia. Isto vai muito além até do domínio da razão. Para além da razão é algo de emocional. O português odeia mesmo a ditadura. É um trauma. O português tem aversão à ditadura. Isto é ponto assente. Quando alguém diz uma coisa destas (mesmo com ar sério e tal) o que quer realmente dizer é que isto está tão mau, tão mau, que ainda está pior que no tempo da ditadura. É um insulto. Uma provocação. A pior que se possa conceber, que a malta fica toda com os pêlos eriçados. Exactamente como a que tu acabas de fazer... dizendo que já vamos a caminho da aldeia da roupa branca... O português odeia a ditadura. Se alguém quiser chatear a sério um português, que elogie o Salazar... que vai ver que ainda colhe é um "banano"....

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    2. E quanto à questão do artigo... Eu só vejo uma possibilidade, apenas uma, de alterar este estado de coisas: a malta meter na cabeça de uma vez por todas que é importante que use do seu direito de voto e que não deve votar, sejam quais forem as suas preferências políticas, em mentirosos e em ladrões. De nada adianta fazer uma revolução, tirar o A e pôr o B. Quantos ladrões estão lá neste momento? Cento e cinquenta mil? Duzentos mil?? A única hipótese de mudar isto é com outro tipo de atitude. Isto é que seria resolver de vez o problema, e nem é nada difícil. Quer dizer, é difícil, mas não devia ser, é óbvio e perfeitamente evidente que não se deve votar em ladrões nem em mentirosos. Acho que isto é evidente para qualquer pessoa. De outra maneira, mesmo que houvesse uma alteração forçada, em pouco tempo voltaria a estar tudo na mesma.

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    3. Mas olha que dava jeito a muita gente apanhar-se durante uma semanita (nem seria preciso mais) no Portugal de 1973...

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    4. ... se as pessoas continuarem a votar em mentirosos e em ladrões... vão continuar a ser enganadas e roubadas (com tendência a piorar). É elementar. Não há volta a dar-lhe.

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    5. Sãozinha,

      Suponho que sim. À medida que o tempo passa a memória vai-se apagando (como é natural)... Mesmo assim, a caminho das quarenta primaveras, ainda é uma memória muito viva... e não é isso que altera a capacidade de cada um para exercer a democracia. O que não falta por aí são pessoas que estiveram no Portugal de 73 e no Portugal de 63 e continuam a votar em mentirosos e em ladrões enquanto pelo caminho se vão entretendo a discutir com o vizinho as suas preferências de "mais à esquerda" ou "mais à direita"... quando há muito que o problema transcende este.

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    6. Desde que "aterrei" no 25 de Abril que sempre disse isso (e na altura tinha 14 anos): "esquerda" e "direita" foram conceitos que sempre me fizeram confusão. Sempre disse: quero é ir para a "frente".

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    7. O problema resume-se a uma linha: não se deve votar em mentirosos nem em ladrões. Qual é a dúvida? Depois... com o tempo, as coisas irão melhorando... Infelizmente uma coisa destas nunca se pode fazer de um momento para o outro. Enquanto isto não mudar: "tudo na mesma, como a lesma".

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    8. (estamos a ter muitos simultâneos... ehehehehehehe...)

      Claro!! Mais que tudo, é preciso é que o sistema funcione! Depois disso talvez se possa entrar do domínio da "optimização"... mas até lá é isto o essencial. Sem isto não há nada.

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    9. (E isto é uma coisa que se pode mudar, justamente porque tem que ver com os interesses do indivíduo. Quando as pessoas se aperceberem que isto lhes prejudica os interesses individuais, mudam. Só ainda não o fizeram por ignorância).

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    10. (ou seja... aqui vale a pena investir cartucho... :O) )

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    11. (mil perdões. A prova de que a questão da "esquerda" e da "direita" é um "falso problema" (ao contrário de uma razão de convicção profunda) é que a maioria oscila sem problema nenhum entre o "mais à esquerda" e o "mais à direita").

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    12. (em fuga generalizada do verdadeiro problema: o roubo)

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    13. Pois. Estou a roubar-te o problema que abordas: o roubo :O)

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    14. Querida, não te acanhes! Problemas rouba-mos todos!! :O)

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