maio 01, 2012

O 1.º de Maio no Pingo Doce

E, de repente, por causa disto, todos os caminhos vão dar ao Pingo Doce, país afora.
E não importa se se perdem horas de um feriado de que ninguém estaria disposto a abdicar, noutras circunstâncias. Nem que se traga para casa champôs, desodorizantes, detergentes, caixas de minis e de Chocapic (eu vejo-os passar, aqui da janela) para meses - em que nunca se gastaria dinheiro, de uma vez, de outro modo.
Entretanto, a polícia (paga pelos contribuintes) tem de intervir em situações de trânsito (já soube que, no Marquês, havia carros parados em TERCEIRA fila e, por aqui, ainda não pararam as buzinadelas) e, à cautela, mantém-se nas redondezas, não vá sair cena de estalada, em luta pela última garrafa de whisky da marca X ou pela última caixa de Tampax com aplicador suave.

Quem poupa? Ninguém - não há uma alma que não leve para casa algo de que não precise, por conta dos 50%.
Quem ganha? O Pingo Doce (e palminhas pelo saber - em terra de cegos, quem tem olho é mesmo rei!)
Quem perde? Todos os que estão dispostos, em troca de um golpe de marketing mascarado de promoção anti-crise, a perder o seu valioso tempo de descanso em filas de supermercado. Perdem sobretudo os que andaram a clamar pela falta de respeito pelo 1.º de Maio do grupo Jerónimo Martins, que obrigava os seus empregados, coitadinhos, a trabalhar, coitadinhos, num feriado tão importante para quem trabalha: aposto que agora estão lá, na fila, a clamar não já pelos coitadinhos, mas contra os coitadinhos, que não estão a aviar as filas suficientemente depressa.

E viva o Dia do Trabalhador. Ou do Pingo Doce - acho que é mais isto.




(fotografia tirada há instantes, no PD aqui da frente: a fila é para entrar, senhoras e senhores. PARA ENTRAR!!!)

24 comentários:

  1. tenho um pingo amargo a pouco mais de cinco minutos a pé.
    nem que oferecessem a mercadoria eu lá iria.

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  2. Vocês os dois escreveram sobre o mesmo tema no mesmo dia...
    "Feeeeeeeeeeeeeeelings... uâu, uâu, uâu... feeeeeeeeeeeeelings..."

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    1. Pronto. Here we go again...
      (as alcoviteiras do Gil Vicente ao pé de ti, eram umas meninas!!!)

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  3. O mais perto vê-se da minha varanda. Vou lá dia sim, dia não, porque não sei fazer compras "para a semana".
    Hoje, nem pela saladinha que me estava mesmo a apetecer lá entrei.

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  4. Eu só entraria lá para chamar uns quantos nomes a uns quantos rostos.
    Mas depois cairia em mim pela inutilidade do gesto: não existe uma comunicação fácil quando cruzamos com olhares bovinos, os mesmos das tais doenças loucas provocadas pelo facto de comerem os seus semelhantes, triturados e misturados com serraduras diversas a que depois chamam de rações.
    É disso mesmo que se trata: de uma espécie de canibalismo em que as pessoas trocam sucessivamente a sua dignidade por doses reforçadas de ração.
    Já vai longe o tempo em que me indignava em voz alta pelo facto de ver artigos da Indonésia em certos estabelecimentos.
    A minha indignação de então sabe-me a ingenuidade. Timor já vai longe da tirania dos seus vizinhos, e agora a nossa tirania é esta em que tendo nós governantes cobardes com os ricos e prepotentes com os pobres, os senhores dos Hipers fazem tábua rasa de este dia de referência mundial. E o povinho, empobrecido e brutificado por muita telenovela e desemprego, corre. Corre como o gado preso quando as grades se abrem para as manjedouras.
    Hoje são eles a comer, amanhã serão eles os comidos, mas a culpa será sempre do outro e nunca deles....

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    1. Eça é que é Eça. A culpa é dos políticos...

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    2. Ainda há bocado falava o Coelho a dizer que temos que nos habituar a viver mais dois ou três anos desempregados.
      Acho que é fácil a gente tirar as pilhas guardar tudo num armaŕio.
      Não sei o dia de amanhã, toda a gente pode perder o rendimento e ficar em maus lençóis.
      Dependo da disponibilidade dos meus clientes, como todos os empresários, como todos os empregados, como toda a gente. Dependemos da circulação da moeda e quanto menos gente tiver moeda, menos moeda poderá circular.
      Acho que antes de me tirar as pilhas, vou ali buscar a caçadeira, o boné e o camuflado. Tenho pena, mas a Mṕnica terá que perdoar-me por ir ficar sem o seu dois-em-um, brinquedo e arma de arremesso, embora por outro lado o Cascão me vá ficar eternamente agradecido...

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  5. Embora eu não faça compras no dia 1 de Maio (ponto), acho isto uma maravilha! São as leis pelas quais nos regemos, e à vista de todos cumprem-se como um relógio suiço. Há a dizer-se que foi uma manobra inteligente por parte do Pingo Doce... devem ter feito um negócio (neg ócio) do caraças! E no dia 1 de Maio, ui! Ui! Melhor nem por encomenda! Apoiado! Venham de lá muitas ideias destas, que assim se tratam dos estômagos e dos cérebros duma só penada, um verdadeiro dois em um, a tender para um três em um... É mesmo assim que se devem tratar os "animais"... não é ao colo, nem com festinhas (tadinhos), nem com beijinhos...

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  6. Eu até acho que nem fizeram grande negócio, pois os descontos eram segundo parece enormes, completamente fora do normal. Podemos estar até perante situações de dumping, de concorrência desleal etc. Mas isso não os deve assustar em nada estando no poder quem está.
    O maior lucro que eles tiveram foi na abertura de mais esta brecha nos valores da sociedade.
    Agora que se tiram feriados, se tiram rendimentos e se roubam fundos particulares de pensões ( nunca entendi como é que neoliberais nacionalizam fundos privados), estamos a chegar ao patamar que eles querem. Total liberalização para os donos da economia contra a total submissão e escravização dos que deles dependem. Dum lado o Amém aos caprichos e interesses dos poderosos, do outro, a fácil disponibilidade da força de trabalho, mantida domada pela pressão da sobrevivência.
    Só falta a prova de fogo: derramar sobre as pedras da calçada, panelas de moedas em brasa para que do alto eles assistam divertidos à balbúrdia do salve-se-quem-puder para trocar queimadelas por porções do vil metal. A lei da Selva, do domínio do mais forte sobre os fracos, afinal a lei que lhes interessa ao estarem na mó de cima.
    Quanto aos beijinhos e festinhas, guardo-os para outro tipo de universos :)

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    1. Eu acho que não estás a ver muito bem o filme... Os "maus da fita" são os tipos da fila. E os gajos são muitos!! Qualquer daqueles imporia a "lei do mais forte" sobre os restantes... assim tivesse poder! Imporia, não. Impõe! E os mais fracos, somos nós. Aqueles que não estão protegidos pelo dinheiro, e a quem a "ética" impõe limites à luta pela sobrevivência. Seremos nós os primeiros a cair. Em todo o caso, por mim, a partir de agora, selva por selva, estarei sempre do lado da inteligência, que ainda assim, me parece, é a que defenderá melhor os interesses de todos.

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    2. ... os tipos da fila e outros (governo e tal...) são farinha do mesmo saco. Não é a posição hierárquica que lhes altera a estirpe. Esses é que são os fortes... e estão em maioria. Os fracos são os tipos infectados pela "ética", a ponto alguns de o serem com fome e tudo... e estão em clara minoria. E não é a porem-se estes a "lutar" pelos direitos dos fortes pobres que vamos a algum lado...

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    4. A lei do mais forte é a lei do egoísmo.
      Eles, os das filas, são os maus, mas são fracos, e estúpidos, vendem-se pelo mesmo preço baixo que as bestas de carga, ao trocar os pesos duma vida inteira por um pouco mais de água no maceirão.

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    5. Também pode ser. Mas são estes "fracos e estúpidos" que à força do número, como ratos, fazem cair de patas os elefantes e os rinocerontes... e os que nos fazem governar a todos por bestas (ou bostas). Porrada nesta malta!! Sem trégua!!! A ver se acordam!!! Só tenho pena que se levante alguma voz de censura, perante este triste episódio, que não seja unicamente dirigida e estes imbecis... muitos, depois de bem abastecidas as despensas, estarão em casa muito descansadamente no seu sofá a ver o telejornal e a sentirem-se as "vitimas" do governo (que eles nem elegeram nem nada) e do capitalista selvagem... Pois é... a "culpa" é sempre do governo e do capitalista selvagem... o resto da malta é toda muito civilizada... e não é de agora nem de ontem... nem deixará de o ser amanhã...

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    6. ... os tiranozinhos tiranozados pelos tiranozões... :O)

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    7. ... são estes que tu classificas de "fracos" que têm o verdadeiro poder (pelo menos por enquanto). Hoje, por exemplo, podiam ter aproveitado a oportunidade para dar uma chapada imensa ao "governo" e ao "capitalista selvagem"... era só não ter entrado ninguém, ninguém, no Pingo Doce. Que amanhã, o "governo" e o "capitalista selvagem" até falavam baixinho... até lhes faltava a voz...

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    8. Aplaudo de pé este conjunto de intervenções.

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    9. Incluindo aqui a alcoviteira?!...

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    10. Atão eu ia deixar a alcoviteira de fora?

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    11. Al cu vi teira, cheira-me a Nelísmo....

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