maio 18, 2012

A posta no manifesto para uma alternativa livre de inclinações


Aos poucos a Europa prepara-se para uma enorme convulsão, consolidada que está a impotência política para suster a queda das peças do dominó financeiro e estando já à vista, no colapso grego, a queda da peça que sustém o sistema de forma precária.
Neste contexto, Portugal apenas levará uns meses de atraso da Grécia pois só os ilusoriamente optimistas poderão acreditar que nos iremos safar por entre os pingos desta chuva ácida que corrói pelas finanças toda a estrutura social, ao ponto de podermos passar do choque de civilizações à derrota de uma delas por falta de comparência.

A ameaça é séria e embora até possamos acreditar-nos capazes de arregaçar as mangas e reconstruir o país depois da bronca temos sempre que ter em conta o cariz absolutamente imprevisível destes processos de degradação em bloco, como a História do Mundo o comprova com iniludível profusão.
Sendo cada vez mais óbvia a desorientação e mesmo a incapacidade dos actuais líderes europeus para lidarem com o problema, já relegando para segundo plano o silêncio desconfortável de tantas nações perante a agonia de parceiros que, pouco tempo atrás, já fantasiavam um enlace federalista.
E terá sido precisamente o falhanço na concretização dessa asneira colossal que terá deixado o euro à mercê de uma crise sem paralelo e desprovido de mecanismos que lhe pudessem valer como tábua de salvação.

O problema português não será tão diferente assim do que culminou com a fragmentação do mapa político-partidário na Grécia. Se tentarmos prever as tendências de voto por cá num enquadramento de aflição tão séria como a dos gregos e olharmos para as alternativas que a Democracia nos disponibiliza, presumo que não será necessária uma bola de cristal ou um comentador televisivo para adivinharmos um desfecho semelhante, tirando para já a extrema-direita da equação, e igualmente criador de um sarilho político que pode acabar com o que resta.
Por isso se torna urgente a entrada em cena das tais alternativas em falta, partidos políticos ou movimentos organizados de cidadãos capazes de interpretarem a vontade popular sob uma perspectiva menos idealista e mais pragmática.
De pouco nos serve o debate acerca do modelo de sociedade que queremos no futuro se antes não estiverem sobre a mesa as medidas capazes de resolverem, ou pelo menos atenuarem, os efeitos desastrosos da caldeirada no presente.

Confesso que me agradou a criação de mais um movimento de cidadãos empenhados em congregarem esforços colectivos em torno da resolução do problema. Contudo, depois de passar a vista pela informação disponível encontrei nomes, encontrei intenções, mas não encontrei nada de concreto quanto àquilo com que se compram os melões e que constitui nesta altura a maior aflição da malta. É o velho problema da esquerda livre, insistem na premissa de que se consegue suprir a falta de meios com uma dose reforçada e renovada de ideologia e acabam sempre por trocar o passo com a História e por entregarem aos oponentes o controlo do sistema quando as coisas se complicam onde mais dói a uma sociedade ocidental e capitalista, qualquer que seja a inclinação do espectro partidário.

Livres para reincidir?

Do Manifesto para a Esquerda Livre apenas retive alguma variação nos chavões tradicionais e nada que nos permita antever naquela iniciativa o brotar de algo de palpável para preencher o enorme vazio que os gregos sentem na pele e concretizam nas urnas, como arriscamos em Portugal numa conjuntura similar.
Nunca como num cenário de crise descontrolada os eleitorados se revelam mais nas tintas para as doutrinas, para as ideologias, para os binómios esquerda-direita que, na prática, pouco ou nada contribuíram para evitar o trambolhão e na hora da verdade votam ambidextros.

E se continuarem a fazer cócegas demagógicas e inconsequentes em busca da militância perdida, insistindo no finca-pé em lados opostos da trincheira que deveria ser comum nesta altura em vez de anunciarem a ruptura com as receitas fracassadas e a procura com afinco de uma corrente de acção em detrimento de uma corrente de pensamento, acabarão chocados com a alta tensão da reacção popular desesperada, desorganizada e permeável aos discursos mais extremistas mas, e é disso que o povo julga precisar, com a força dos argumentos e a aparente sensibilidade para uma causa que não precisa de mais esquerda ou de mais direita e sim de uma atitude firme e arrojada, independente de espartilhos ideológicos ou de conveniência partidária, abrangente quanto baste para aglutinar a maioria dos portugueses em torno de um projecto de mudança com pernas para andar.

A crise exige e o país implora uma alternativa vincadamente patriótica e capaz de atrair os nossos melhores para um combate onde não existem, porque se esgotam, tempo ou energia para desperdiçar em quezílias menores, em escaramuças ideológicas que desviam a atenção do que interessa.
Interessa acima de tudo salvar Portugal, quando chegar a hora do cada um por si que todos aguardam mas ninguém verbaliza.
E isso, no meu modesto entender, jamais poderá acontecer se repetirmos os erros dos outros e avançarmos para o caos repartidos entre feudos e capelinhas das elites instaladas e não com base numa união de facto entre pessoas livres, sim, mas da perpetuação de práticas e de doutrinas que já provaram não resultar em benefício seja de quem for, sobretudo quando se enfrentam os períodos menos bons que, afinal, elas próprias criaram ou permitiram.

11 comentários:

  1. Estamos a ficar "alinhados" e isso pode não ser bom augúrio... Mas concordo em absoluto: "uma atitude firme e arrojada, independente de espartilhos ideológicos ou de conveniência partidária, abrangente quanto baste para aglutinar a maioria dos portugueses em torno de um projecto de mudança com pernas para andar". Mas dá-me ideia que não vamos lá... :(

    ResponderEliminar
  2. Vamos sim, sempre são uns séculos nisto...

    ResponderEliminar
  3. Vai atirar-se alguém da varanda, dentro de um móvel?

    ResponderEliminar
  4. Se fosse reeditado o momento que eles querem apagar ao retirar-lhe o estatuto de feriado nem a IKEA e a Moviflor juntas conseguiam reunir a mobília necessária...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu estava a pensar em mobiliário em madeira, com tampa e forrado por dentro...

      Eliminar
  5. Só se for forrado a pipocas, e faxconta que estamos a ver um filme de terror...

    ResponderEliminar
  6. Mas agora a sério, não acho que isto tenha saída...
    ainda ontem vinha no Expresso e nos outros jornais, escapelizado a imensa tramóia do Duarte Lima e sus muchachos, tudo gente de finíssimo recorte social.
    As coisas andam assim, sempre assim, até ao dia da guilhotina. Ou seja, isto vai acabar mal.
    Ainda por cima temos um puto estúpido a mandar no país, e partilha a carteira da sala de aulas com o outro puto tonto que não percebe nada do jogo da bola no recreio mas acerta sempre nas contas, excepto quando vai fazer mandados à mãe, e perde sempre dinheiro pelo caminho- diz ele, para não dar o braço a torcer que lá na mercearia o merceeiro o engana sempre com os troikos...

    ResponderEliminar
  7. E depois admiram-se do povo ser uma massa hululante e sem sentido...

    ResponderEliminar