março 18, 2011

les portugais sont toujours gais...

Parafraseando uma expressão há longo tempo ouvida, eu diria que Portugal está a transformar-se num local perigoso… e eventualmente pouco recomendável para frequentar. Pelo menos, com assiduidade.

Talvez não para estrangeiros, que esses estão sempre cobertos pelas altíssimas personagens do nosso ideário mais ou menos político, católico, apostólico e romano, numa bênção traduzida em hospitalidade, recheada da tradicional bonomia do bom povo português. E alegria, também, pois todos se lembrarão daquele extraordinário slogan turístico: les portugais sont toujours gais    

Perigoso porquê? Ora, vejam-se, assim, pequenas coisas recentes:

- O senhor presidente da República ao activo exorta os nossos jovens modernos a assumirem nos seus projectos de futuro, a galhardia… com que a juventude de 60 marchava para a guerra das colónias!!! Será que ele está a insinuar que a malta deserte? Ainda mais…?! E, depois, para quê? Para a ditosa Pátria, nossa amada, nem sequer lhes reconhecer o padecimento do stress de guerra, que vitima ainda hoje tantos dos pais e dos avós desses mesmos jovens?

Para «boca» infeliz, esta bate o bolo-rei, os carapauzinhos e as escutas a Belém, de longe.

- O nosso excelentíssimo governo propõe-se diminuir o IVA que incide sobre os campos de golfe, esse desporto de massas, de 23% para 6%. Modo quiçá subtil de equilibrar finanças, pois acaba de voltar à carga com o aumento para 23% de bens ditos essenciais, como certos alimentos básicos. Tem de haver – e percebe-se, que diabo! – um justo equilíbrio entre as coisas… E sempre ficará a  relva para pastarmos nos ditos campos quando o vencimento já não der para a sopinha diária.  

- A oposição de regime, dita de direita - porque a outra não é tanto do regime… é só um bocadinho - vai saltitando de PECado em PECado, até à redenção final. Leia-se, até ao momento em que, ganhando as eleições, puder fazer o mesmo ou significativamente pior do que fazem os actuais (des)governantes;

Chegados que fomos ao quarto PEC, barafustam: «- Assim não vale! Não brincamos mais com as vossas bonecas! Estão sempre a mudar-lhes os vestidos e, agora, elas estão já todas rotinhas, não têm graça nenhuma…».

Sócrates, do alto do seu autismo autocrático, cumpre com o que lhe mandam os reis das marionetas e não passa cartão a ninguém, na sua nobilíssima missão de «salvar o país» mesmo contra a vontade deste.      

- Após um dia e meio de greve dos camionistas, Portugal estava sem gasóleo em muitos postos de abastecimento de combustíveis! As filas de condutores desesperados multiplicavam-se e estendiam-se! E dizia o outro que o povo era sereno… Um dia e meio? Será mania de açambarcamento ou é pelintrice institucional? Como será que – mutatis, mutandis -  o povinho se tem amanhado, ao longo destas semanas, na Tunísia e no Egipto – estou a falar, claro, do pãozinho para a boca? Para já não falar da Líbia, do Japão…

- A propósito, as gasolineiras afinam os seus preços ao milésimo do euro e, conveniente e convergentemente, sempre a subir, com uma regularidade de relógio suíço. Mas não há cartelização, não senhores, diz a autoridade respectiva! Claro que não. Em país de milagres nem devemos esperar outras coisas.

- No momento em que as Estradas de Portugal anunciam a necessidade de reparar ou substituir uma data de pontes construídas há meia-dúzia de anos, por iminente ameaça de derrocada, o seu presidente, Almerindo Marques, aproveita para apresentar pedido de demissão ao governo, invocando razões pessoais. Porventura, prevendo alguma eminente derrocada, digo eu, ainda que haja quem sustente que nesta vida não há coincidências…

- O empresário das sucatas Manuel Godinho entregou, entre várias outras coisas que andou por aí a entregar para arrecadar outras, um Mercedes SL 500 a Paiva Nunes, administrador de uma empresa do Grupo EDP. Este parece que fez ao outro uma data de «jeitos» em negócios vários. Mas dizem ambos que a cena do carro foi só a título de empréstimo entre amigos e que tal coisa seria «normal». Coisita de somenos, assim aí a rondar os duzentos mil e muitos euros. Alguém tem aí um Mercedes SL 500 que me empreste, de um modo normal, sem complicações, para ir ali comprar uns enchidos  ao supermercado do bairro, que eu já volto?

- O supostamente insuspeito Instituto Nacional de Estatística, no Censo Nacional que está a levar a efeito por todo o país, quer que os «recibos verdes» se definam, no preenchimento do inquérito, como «trabalhadores por conta de outrem». Claro que isto só pode advir de uma mente perturbada. Talvez por efeitos de alguma droga alucinógena ou – quem sabe? – do muito mais prosaico excesso de tinto… Agora que, se a maltinha for na conversa, isso dá um grande jeito ao Sócrates, ai, lá isso dá…

Seja como for, digo eu que também por cá ando, este país parece estar, de facto, muito mal frequentado. E não haverá novos pastorinhos que reinventem umas apologéticas aparições? Resposta: não. Porque pastorinhos licenciados, mestrados e pós-graduados  são cépticos demais para crendices e as aparições estão pela hora da morte. No limite, só ocorrem por Bruxelas e pouco mais...

De resto, haveria de dizer-se que aquilo não passarva de efeitos 3D de segunda categoria, direccionados para o alto de alguma azinheira num festival de música alternativa qualquer e não se ligava mais ao assunto.

Milagre, milagre, aquilo que se chama verdadeiramente milagre, é descobrir no panorama nacional matéria para se elaborar uma crónica não deprimente…

7 comentários:

  1. Socorro!!! Tirem-me deste filme...

    ResponderEliminar
  2. Grande síntese do estado do Estado!

    ResponderEliminar
  3. Sim, e como o pessoal não faz nada, até parece que estão a gostar deste regabofe de lhe enfiarem PEC atrás de PEC no pacote,perdão, digo, pacote de PEC atrás de pacote....
    Por isso bem que o título deste post poderia levar uma operaçãozita cosmética, tipo, les Portugais sont toujours gays....

    ResponderEliminar
  4. E certamente era isso o que o OrCa queria dizer :O)

    ResponderEliminar
  5. Isso é o que chamo um verdadeiro rol de "misérias"! Não vos invejo não!! :-(

    ResponderEliminar
  6. Quem está num Jardim, Laura, não pode ter inveja de nada ;)

    ResponderEliminar