março 16, 2011

"Quando o povo se junta"...

Como ser ordinário não significa ser inculto, deixo-vos aqui um excerto de um livro da minha colecção, bem polémico para não arrefecermos os argumentos depois da manifestação da Geração à Rasca: «Carta de Sócrates a Alcibíades, seu vergonhoso amante», de Miguel Real (pseudónimo), editora Licorne (2ª edição, 2010).

"(...) Mas com inimigos individuais posso eu, ó Alcibíades, e a saliva que à minha passagem lançam para terra em nada me aflige; ao contrário, revigora-me a alma saber-me nas palavras e nas acções diferente dos homens perversos.
O mesmo não acontece, porém, quando o povo se junta. É difícil fazer frente simultânea contra o ulular, o zurrar e o rosnar. São faces que se confundem e corpos que se chocam no idêntico afã da calúnia e da mentira. O povo precisa de bodes expiatórios para que as culpas próprias se reconvertam em aparentes puras intenções. Vota no orador que mais alto fala ou no que transparentemente se dirige ao seu coração. Juntos, os cidadãos são imorais - ninguém nunca me convencerá, mesmo agora que o cepticismo lançou raízes na minha alma, que de muitas vozes e muitos braços nascerá a moralidade de vida. Confesso, Alcibíades, que tenho medo dessa amálgama de corpos e almas que apenas pode identificar-se com uma de três imagens: um passivo rebanho, uma insaciável vara de porcos ou uma faminta alcateia. Não é menor consideração escrever estas palavras sobre o mais elevado povo que os mortais até hoje contemplaram; é que, ainda que os deuses tenham favorecido o espírito dos atenienses, não lhe mudou o fundo humano, e este é irrecusavelmente animalejo. Em suma, de homens tornam-se bestas os meus concidadãos atenienses. Por isso, recuso falar na assembleia e expor-me aos apartes anónimos que dispõem a mente das multidões às grandes chacinas ou às grandes injustiças. (...)"

6 comentários:

  1. Brilhante! mas este texto é do Sócrates "verdadeiro"...

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  2. Atenção, rapaz: o texto é de um autor (filósofo) português, escrito como se fosse pela mão do Sócrates. É ficção.

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  3. E somos todos animados de movimento,logo animalejamos pela vida, por entre as roupagens que definem os nossos status: Lobos, porcos, e rebanhos e vestimos-lhes a pele, ai se vestimos!
    Nem que seja pelo cansaço....

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  4. Estava à espera que comentasses mais como um lobo...

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  5. Aúúúúúúuúúúú´ú.........

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