março 03, 2011

As relações dos outros

Nunca percebi muito bem por que é que um casal não resolve as coisas entre si, antes de as vir badalar aos amigos. É sempre injusto para o membro da parelha que está a ser motivo de conversa e, quanto a mim, é confrangedor para os amigos. Pelo menos, para aqueles que o são de ambos e têm a amizade acima da cusquice.
Há cerca de um mês (demasiado tempo, eu sei), fui confessora de algo que não me apetecia ouvir.
Soube que uma relação acabara, para um dos lados de um casal, e que só se mantinha, no dizer de quem comigo falava, por uma questão de altruísmo, "porque não é justo acabar com uma relação só porque uma das partes não se sente bem".
Vou exceptuar-me a comentar esta última ideia pelo respeito que a pessoa, por outros motivos, me merece e passar ao que de facto me interessa: possuidora daquela informação, e sendo amiga da metade que (como o corno) seria a última a saber que já não era gostada, que fazer?
Nada, dir-me-ia a maioria. O melhor, nestas coisas, é não fazer nada. Não te metas. Eles são adultos, que se resolvam. Não és advogada de ninguém: se fores falar com o que permanece na ignorância, o outro até tem a vida facilitada, não teve de ser ele a lançar a bomba.
Aproveitei-me do facto de ter ido para a neve para "esquecer" o assunto; de resto, podia ser que o autor do desabafo fizesse o que me permiti sugerir-lhe: que conversasse com a outra pessoa, que lhe falasse do amor acabado (de que eu já sabia há muito tempo, mas de que só agora ouvira falar), que fosse honesto, era o mínimo que (se) esperava dele.
No entanto, um dia antes da partida, jantámos juntos e o que sentiu necessidade de "partilhar comigo" (não me lixem, não foi partilha!) estava como se nada fosse. (Que direito tivera de me tirar o sono para agora fazer de conta que nada acontecera?!)

Mas hoje falei com a outra metade. Quis saber como estava. E não estava bem, por motivos vários, todos relacionados com a parelha. Que lhe tinha feito X, Y e Z. Pedi-lhe desculpa pelo que lhe ia dizer e por não lho ter dito antes e contei-lhe. Porque gostaria que fizessem o mesmo comigo e, sobretudo, porque acho que é o que deveria ter feito desde logo. Mas pelo menos houve menos drama, menos indignação (da minha parte).
Sei que, se alguém vai ficar mal no meio disto tudo, para além da metade que está a tentar perceber qual era a matrícula do camião que lhe passou por cima, sou eu. É dos livros. Um dia, reconciliam-se, passam uma borracha no assunto e, porque eu lhes faço lembrar a merda que fizeram, em mim também.
Mas, at the end of the day, se o fizerem, que tipo de amigos são?!
(Tento convencer-me e não estou convencida.)

A minha verdadeira natureza é esta e ser assim dá-me cabo da mioleira.

10 comentários:

  1. Mas se fosses assado ainda davas mais cabo da mioleira.
    Também tive sempre o princípio de fazer e dizer o que devo, mesmo que possa não ser "política-de-amizadamente" correcto.

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  2. Esse exercício do «empresta-me aí um ombro» é uma grande chatice e, no geral, um grande exercício de egoismo. Por todas essas razões que invocas, de profundo desconforto e dificílima gestão de amizades cruzadas. Muitas vezes até traz alguma água o bico...

    Ao longo deste tempo todo que levo de nascido e mal criado, preferi escolher a declaração de princípio seguinte: - Caro amigo, se trazes choraminguices, vamos ali beber um copo e contar umas larachas... Pode sempre acontecer que o interlocutor se esqueça do que o trouxe até mim.

    E, depois, não estou disponível para confessionário, porque não posso nem quero trair a confiança com a outra parte, principalmente se for o caso de dividir a amizade com o terceiro ausente.

    Aqui é dos poucos casos em que a ignorância parece ser boa companheira.

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  3. A ignorância, nesses casos, é um sossego.

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  4. A ignorância é absolutamente invejável. Por isso disse, mesmo há um mÊs atrás, que ouvi o que não queria ter ouvido. Não que não suspeitasse do que se passava, mas a verbalização estraga tudo!!
    Grumpft!

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  5. A verbalização estraga mesmo tudo. Ide ver isto (em ante-estreia, que está para publicar n'a funda São):

    http://www.youtube.com/watch?v=PsJ6p5QLvOQ

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  6. AnAndrade,
    Já vivi situaçôes do tipo e de cada vez acabei por me chatear... e com ambos! Concluí por isso que o melhor mesmo é não saber nada... se possível, claro!

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  7. É o que vai acontecer aqui, Laura.
    Um já fez questão de tentar safar-se do que disse; a outra está a fazer de conta que está tudo bem comigo, enquanto está tudo mal com ele.
    Um dia destes fazem ambos de conta que a relação não acabou há milénios e eu passo a ser a vaca que lhes tentou sabotar o idílio.

    Para a próxima, tapo os ouvidos e canto qualquer coisa bem alto!! ;)

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  8. Canta o «Bacalhau quer alho» que se presta a gritar.

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  9. Sempre ouvi dizer que a roupinha suja se lava em casa, embora haja quem se pele por ver de que cor as cuecas de alguém se sujam...

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  10. Mas olha que ninguém meter a colher entre marido e mulher...

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