março 29, 2011

Dos políticos que (não) o são.

A propósito deste post, que também publiquei aqui, gerou-se uma troca de ideias sobre o conceito de político. O Charlie afirma que Miguel Portas não é um político. O OrCa, que um político é um político e que não deixa de o ser por ser honesto, como parece ser o caso.
Analisemos a questão: no dicionário online Priberam, e enquanto substantivo masculino, político é "Aquele que se entrega à política. Estadista", sendo que a política é descrita como sendo a "Ciência do governo das nações. Arte de regular as relações de um Estado com os outros Estados. Sistema particular de um governo." Ora, se assim é, não há dúvida de que Miguel Portas é um político, sim senhores. E dos bons, na minha pouco humilde opinião. O facto de, no sentido figurado e enquanto adjectivo masculino, se descrever "político" como "finório, astuto", deriva muito mais do que os seres humanos foram fazendo do nobre exercício da política do que do conceito em si.
E a questão inevitável é se poderemos, com o Charlie, resgatar do âmbito do conceito aqueles que cremos honestos, porque a maioria não o é, ou se, como advoga o OrCa, fazer o contrário: afastar os que privilegiam os favores, o chico-espertismo e os boys (and girls, já agora!), por manifesta incompetência.
Creio que todos estarão com o OrCa por princípio mas acabarão por ir ao encontro das palavras do Charlie por manifesta necessidade. Eu, na utopia dos meus... 37 anos (????? Tinham-me prometido que me deixaria disto lá pelos 30, tinham-me vaticinado um resto de existência entregue ao comodismo e não vejo jeitos...), estou com o OrCa, sem deixar de compreender o sentido do que o Charlie diz.

E se me lembrei disto agora e senti necessidade de o deixar escrito foi porque vi (mais uma lacuna cinematográfica colmatada!) Invictus, de Clint Eastwood, esta noite, e relembrei um outro político que devolveu ao seu país aquilo que o mesmo país lhe retirara: a liberdade. Durante quase 30 anos encarcerado, injustiçado, apelidado de terrorista, Nelson Mandela esqueceu a dor, a revolta, o medo, a sede de vingança e erigiu, como Presidente, um país democrático, onde o apartheid passou a ser apenas um nome feio.
Foi político? Foi.
Dos honestos? Sim, senhores.
E é menos político por isso? Mas é que nem um bocadinho.

É por estas e por outras que os meus heróis nunca estiveram nos livros aos quadradinhos nem nos filmes. São pessoas iguais a mim (mas em bom e em grande), que aparecem na televisão a dizer coisas e a mudar o mundo. Mesmo ao lado dos outros (os finórios, os astutos), sim. Mas estes, pobres!, são aniquilados por poderes especiais que eles nem sonham que existem. (Pelo menos, é assim que o livro/filme acaba, para mim)

30 comentários:

  1. Chiça! Bolas! Gaita!...

    E o Dragon Ball?

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  2. Náááá... aquele penteado e a voz esganiçada nunca me inspiraram confiança.

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  3. Caríssima Ana, permite-me que acrescente, meramente como adenda ao que explicitas quando referes que «a política é o governo das nações», que tal asserção é válida para o exterior (as nações entre si) como para o interior (os cidadãos dentro de uma nação).

    A «honestidade» por si só nada valerá, como estaremos todos de acordo, se não se consubstanciar em coisas concretas, pois parafraseando o Gabriel Celaya, podem ser gritos no céu, mas na terra são actos.

    O acto do Miguel Portas – ainda que ele fosse o maior salafrário à face da Terra, que não me parece que seja… - vergastando em sede própria um conjunto de atitudes de que ele, afinal, é também involuntário beneficiado, denota, no mínimo uma atitude de grande verticalidade política, para utilizar as grandes palavras. E esse exemplo é tão raro… que nem admitimos, à primeira, que sai da boca de um político.

    Em todo o lado conhecemos, decerto, honestos e desonestos. E até conheceremos diversos escalões intermédios.

    Em qualquer caso, teremos como amigo honesto, por exemplo, aquele que não defrauda as nossas expectativas, aquele com quem se pode contar num compromisso, também aquele que se empenha na prossecução de um objectivo definido como comum entre ele e nós. Aquele que não nos ilude, que nem precisa de nos mentir, que é capaz de nos dizer, na cara, «- olha, pá, agora não posso, tenho de fazer…». E nós aceitamos isso como certeza inquestionável, apenas porque norteia, entre nós, uma coisinha que se chama confiança.

    Temos outros «amigos», mas são-no apenas de circunstância.

    Não é nada daquilo o que tem ocorrido com os nossos (des)governantes, que se revelam aldrabões empedernidos e que são incapazes de nos dizerem um «- agora, não…», pois temos a certeza de que nos estão a enfiar um barrete.

    E isto não é característica da «classe política» - conceito abstruso, desde logo – mas sim de certos, determinados e perfeitamente referenciáveis elementos do corpo político deste país, gente como nós, de carne e osso, que se servem da nobre actividade política para se governarem, a eles e/ou aos senhores das marionetas, subvertendo tudo e todos…

    (Desculpa lá a chateza, mas isto dá pano para mangas...)

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  4. A propósito de «amigos», acho muita piada ao conceito de «amigos» do Facebook :O)

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  5. Chateza?? Qual chateza??? ;)
    Dá pano para mangas, dá... Os meus posts só não têm três páginas e meia cada que é para ver se não fico sem leitores.
    Acrescentaria só que, como todas as características (e actividades) humanas, só entendo a honestidade se traduzida em actos: teoria sem actos de nada vale; actos sem uma intenção que os norteie são (ou podem ser) destituídos de significado. Como diria o meu "amigo" Kant (de forma superior), "pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas". :)

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  6. São - Uuuuuuiiiiiii, isso então dava para uma tese de mestrado!! Ou de doutoramento, pronto, que as teses de mestrado pós-Bolonha são uma anedota...

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  7. Eu tenho é que comprar uma bicicleta de corrida para tentar acompanhar a vossa pedalada :O)

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  8. São - Tu???? Tu até a passo de caracol, rapariga...

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  9. Chiu! O Charlie não pode saber que estamos aqui a falar de bicicletas e de pedalada.

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  10. Tens razão!!!!! Ainda me tira a bike estacionária e me obriga a ir para a estrada ou para o monte... respirar ar puro... blergh!!!
    (hehehehehehe, brincadeirinha, Charlie...)

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  11. Pois... tu podes brincar com ele porque tens O saco!

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  12. Quanto ao BTT fiquem sabendo que não há nada melhor para a saúde do que uma boa pedalada :D ;))
    Ainda o Verão passado tive o grato prazer de ter como companheiros de trilhos, um casal que vive por aí no Norte. Ela de Gaia, (marroquina como chamam no Puorto aos Gaienses) ele de Beringel, uma aldeia perto de Beja, onde vivo.
    Passadas três horas de pedalada pela maior Sauna Lusa a Céu Aberto, estavam extasiados. Acho que por aí, os trilhos são curtos, muita pequena propriedade que corta a continuidade dos acessos, mas por aqui, encontramos o bom sabor de viajar pelo infinito do mundo, algo que senti em áfrica.

    No que toca ao mais substantivo desta posta de bacalhau do alto de azeite e vinagre com todos, é claro que tiro sempre o chapéu à ANa pela assertividade dos textos e que os comentários do ORquita só não secundam porque igualam.
    O meu comentário, vai no sentido de afirmar a deturpação total do sentido daquilo que deve ser "um político".
    Vem à liça um velho conceito que no interior se tinha no tocante às pessoas que se evidenciavam nas suas localidades pelo seu prestígio e honestidade, verticalidade de carácter independente da sua maior ou menor expressão económica. Eram chamados os "homens Bons"
    A fuana política é dominada por toda a sorte de truculentos, ávidos e sequiosos, mentirosos e ladrões, onde um homem bom como o Miguel aparece, não como um epifenómeno, mas antes como um elemento incómodo para os restantes.
    Seria bom a sociedade recuperar este conceito de "homem bom", começando por exigir um pacto com os eleitos, não pelos partidos, mas pelos que directamente os elegem.

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  13. Excelente ideia, essa de revalorizar os "homens bons".

    E "fuana"... é a fauna de fulanas que não dizem os "éles"? :O)

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  14. Também alinho nesse movimento em favor dos Homens Bons da comunidade.

    Há alguns dias, aliás, no último Prós e Contras, apareceram alguns. Que os há! Temos alguma tendência, no nosso desespero, para nos esquecermos que existem... Mas, se procurarmos bem, comfirmamos que existem e, afinal, nem são tão poucos como isso...

    É da sombra que nos fazem os merdosos.

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  15. E qual seria o critério para definir esses Homens Bons?
    Ou seja, como é possível avaliar-lhes a virtude e, depois de eventualmente se chegar a uma confirmação, como se evita a corrupção que o exercício do poder acarreta?
    Não sei se a Democracia nos disponibiliza os meios para a tarefa...

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  16. Quanto à classe política chamo-lhe isso mesmo, tamanha a teia de cumplicidades necessária para se guindarem a um estatuto de elite (notem bem os privilégios crescentes da classe no seu todo e digam-me quantos deputados votaram contra legislação que os beneficia de forma directa, a bem da Nação) que não fazem por merecer.
    Os políticos, worldwide, utilizam a propaganda (nomeadamente os media que conseguem controlar de alguma forma) para se pintarem como os novos heróis, os novos salvadores das Pátrias, e assim garantirem uma exposição mediática forjada e uma justificação forçada para manterem o seu status quo.
    Apesar de toda a animosidade encenada multiplicam-se os exemplos de casamentos de conveniência e de silêncios de circunstância que abafam realidades tão descaradas como o célebre escândalo das viagens à pala pelo qual ainda ninguém pagou um preço político e ninguém de entre a classe se fez paladino contra os seus pares.
    Se os há lá bons, devem estar a viver um inferno interior...

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  17. Tu e a tua mania de fazeres observações pertinentes, Shark :O)
    Olha que belo tema para fazermos uns posts: Homens bons, há?

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  18. Eu respondo - há.
    Shark - Se todos os homens são corruptíveis pelo poder (a premissa é tua, não minha), isso significa que te consideras corruptível, se estiver poder em jogo?

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  19. Não vale. É para escreveres um post, não para responderes aqui :O)

    Uma das questões do Shark é: como e quem avaliaria? A minha sugestão é fazeres um post com o que tu achas que são homens bons que conheças. E partimos daí para outros... e para vermos, com casos concretos, as limitações desta "classificação" (que as há, não duvides). Bora?

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  20. E eu respondo também: existem diversas formas de corrupção dos valores de um decisor e podem passar por coisas tão simples como uma cedência a um pedido de um familiar ou de um amigo e tão complexas como ter que vergar a poderes superiores ou mesmo decidir em rota de colisão com valores pessoais.
    Pelo meio temos o fenómeno da multiplicação das tentações, aligeirado pela moderna visão do "já que tenho a fama, terei o proveito", mais a cumplicidade por inerência nem que apenas silenciando as máculas de outros por solidariedade de classe ou outro motivo qualquer.
    Seja como for, existirá sempre a corrupção da pessoa original pelo poder, seja ao nível ético ou à escala da recolha de dividendos políticos ou mesmo pecuniários.
    Eu já tive alguns poderes menores e soube sempre sair de cena pelo meu pé quando a pressão corruptora se fez sentir.
    Até ver sou incorruptível mas pretendo manter esse registo, afastando-me bastante e depressa de qualquer situação em que o poder, esse presente envenenado, me possa ser oferecido.
    E em boa medida foi por isso que há uns tempos virei costas a 11 anos de militância activa num partido.

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  21. Apesar de não esquecer o repto do post, não posso deixar de responder ao Shark... :) De militância partidária, eu também percebo, Shark. Oh se percebo!!! Activa, efectiva, executiva, chama-lhe o que quiseres e I've been there. Saí não porque antes achasse que havia boa gente e depois concluísse que era tudo mau, mas porque entendi que a ideologia só vale quando as práticas são comuns e vistas da mesma perspectiva.
    A diferença, parece-me, é que eu correria menos riscos de estar numa posição corrompível; mas isso pouco importa. O que importa não sou eu, não és tu, somos nós e os outros. E desses todos, basta que haja um que não caiba na (tua) frase que diz "Seja como for, existirá sempre a corrupção da pessoa original pelo poder", para a tua certeza cair por terra. E há. Não um, mas mais. Que detiveram ou detêm poder e não se vergam; poderiam ter mais, eventualmente, mas isso é outra conversa. tenho pena que não conheças nenhuma assim. São gente boa de se conhecer. :)

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  22. Bem... muito gostam vocês de preliminares :O)

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  23. E também não sais dos ditos cujos?

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  24. Ó Paulinho, cada um sai quando lhe der mais jeito...

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  25. Mas dá-me a impressão que o Shark perde-se por lá...

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  26. Os preliminares são bons. Os finalmentes, também. Na verdade, toda a jornada pode dar gozo, se vista com bons olhos... Olha, lá estão outros «bons» polémicos...

    Uma das coisas encantadoras que apurei é que temos por aqui uns «desencantados» da militância. Já agora, juntem lá mais um. Sem arrependimentos, claro, que um gajo aprende que se farta naquelas vidas. Ainda havemos de trocar experiências.

    Nisto tudo, chato, chato é confirmarmos aquela máxima já tão antiga de que o poder corrompe. A grande falha, até à data, das democracias existentes é, quanto a mim, elas não terem sido capazes de gerar em si os órgãos que exerçam uma vigilância atenta, actuante, efectiva e eficaz sobre os tais «maus homens», principalmente os devotados à actividade política - homens estes que vão constituindo um fenómeno social que actualmente tende a formar um grupo com diferentes prerrogativas em relação aos demais mortais.

    E não vejo, na verdade, mecanismos capazes de contrariar tanta venalidade. Os tribunais, ai-ai... O voto parece-me que tem sido curto.

    Pronto, é mais uma achega...

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  27. (Muito gosto eu de vos provocar... ihihihih... já me estou a rir... ihihihihih...)

    Ó OrCa, camarada, pá! Essa "vigilância atenta, actuante, efectiva e eficaz sobre os tais «maus homens»"... não era o que fazia a PIDE?!

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