março 12, 2011

A maioria só lá esteve para fazer companhia

A esta hora está a sair da rua a manif da geração à rasca e até parece compostinha nos écrãs da televisão.

Contudo, tenho estado atento às entrevistas de rua (as que verdadeiramente definem o calibre de um movimento desta natureza) e fico cada vez mais boquiaberto perante a ausência de credibilidade tanto da causa como, e acima de tudo, da juventude que hoje a protagoniza.

A verdade é esta: a maioria das pessoas na rua não sabem ao que vão. E as que sabem só têm um objectivo e verbalizam-no: fazer cair este Governo, como se estivéssemos a falar do Sporting e estivesse em causa mudar de treinador.

O problema é que não faltam treinadores melhores do que aquele que o Sporting deixou sair, mas as alternativas de poder escasseiam e nenhuma das pessoas presentes na manif faz a mínima ideia ou tem a menor intenção de apresentar a sua.

Cada vez mais é nítido que a malta à rasca quer apenas o sangue de um bode expiatório, procuram a vitória possível de criarem as condições ideais para derrubarem um Executivo cheias de esperança no senhor que se seguir. Mas sem o nomearem, sem soluções para os problemas que os movem e que, quem tem visto o que eu vejo não pode negar, acabam por nem estar directamente ligados ao que serve de mote para esta contestação popular porque sim.

É mesmo, como alguém já referiu, a geração tiririca (tirem os que lá estão porque pior do que está não fica) e utilizam a sua capacidade de mobilização virtual e mediática para algo que feito assim, sem norte, não passa aos meus olhos de uma fantochada.

Das pessoas entrevistadas quase metade dificilmente se podem apelidar de jovens e apresentaram justificações quase sempre ligadas à mobilização de ordem familiar ou se tratava de pequenos grupos representativos de classes que ali se juntaram por oportunismo descarado, para aproveitarem os holofotes dos media e dizerem de suas razões.

Uma manif assim só pode ser um sucesso, chamando por uns (os jovens) mas reunindo outros que se aproveitam do pretexto para darem mais um empurrãozinho na ansiada queda do Governo que, como já se percebeu, dará lugar a um outro capaz de dar a volta a isto numa pressa do camandro.

Eu nem percebo porque insiste o actual Governo em manter-se em funções. Se for verdade que têm garantidos tachos magníficos cá fora não sei o que estão a fazer lá dentro. E se o povo (venham eleições e logo se tiram as conclusões) diz que os que lá estão são maus é porque acredita que os próximos farão melhor e eu sinceramente gostava de ver isso, mas por outro lado tenho que privilegiar os interesses do país e desses não faz parte substituir um Governo baseado num partido que, mal ou bem, está unido em torno de um líder por um outro Governo formado pelo partido alternativo cujo presente (mas sobretudo o passado) esclarecem acerca da forma como se entendem entre si.

Num clima de crise financeira e com vários abutres externos com o cerco montado à espera do safanão que constitui o seu sinal de entrada no castelo, não consigo entender a lógica da malta supostamente tão à rasca que lhes quer abrir os portões com esta sua intervenção queixinhas que continua a dar-me a razão que eu preferiria perder:

Não fazem a mínima ideia do que querem fazer a seguir.

E eu, como muitos outros à rasca propriamente ditos, tenho um presente concreto para gerir e não me compadeço da ameaça de um futuro feito pelos que não sabem por, nem para, onde querem ir.

42 comentários:

  1. À brocha, como disse uma repórter da SIC Notícias quando lhe aterrou na reportagem um emplastro em versão okupa...

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  2. 200000 mil é muita gente... assim de repente a maior manifestação desde 1974 ... em quem votará toda esta gente nas próximas eleições?

    Eu também não acreditava que isto podia acontecer.. mas aconteceu!

    Jorge

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  3. Eu, optimista militante assumida, não me deslumbrei, não sinto o coração a saltar-me do peito, não acho que vá mudar o que quer que seja.
    É bom que as pessoas se manifestem? É bestial.
    É bom que tenham pensado profundamente no que as leva a menifestar-se? Seria. Oh, se seria.

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  4. Shark, eu também já referi outro exemplo que me deixou "à brocha". Mas retira as pontas à normal curva de Gauss e reconhecerás que havia ali muita malta com boas razões... e bons argumentos para estar ali.

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  5. Isso é indiscutível, Paulo. Eu sei que quando refiro maiorias estou a assumir generalizações com toda a injustiça que isso encerra.
    Contudo, isso não invalida que essas alminhas mereciam mais pelo seu esforço do que uma festança popular (abundaram a cerveja e a ginjinha, não me forniquem...) sem planos para o futuro.
    Quem me dera aparecesse um grupo destes putos com uma ideia decente para o seu futuro e o do nosso país.

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  6. Houve e ouvi por lá ideias decentes, não me forniques, camarada, pá.

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  7. Tu estiveste na de Coimbra, companheiro, onde estiveram escassas centenas de pessoas e de outro campeonato da imensa mole humana lisboeta.

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  8. Nós somos de outro campeonato. A malta é mais... Briosa :O)

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  9. Esse Gauss deve ter dado voltas na tumba quando soube que em Portugal o número de telemóveis supera largamenta o da população. Quem é que quer sentir-se preso em curvas previsíveis? Ninguém. Mas quem é quer ser ninguém???

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  10. Provavelmente para si, desemprego e precariedade não lhe devem dizer muito. Acertei, não!? Infelizmente, a maioria dos participantes da manifestaçãp conhecem bem o seu significado.

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  11. Anónimo, se se identificasse a gente agradecia.
    E se fosse a si não fazia palpites. Palpita-me que se engana.

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  12. Anónimo/a: esse acto de cobardia típico de quem não dá a cara pelo que acredita confirma o meu pressuposto de que com gente assim o país não muda nem com 2 milhões na rua.
    Conheço melhor do que você de certeza absoluta e a coragem de que necessito para o enfrentar é a que me leva a desprezar quem não tem tomates para mandar as bocas devidamente identificado/a.

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  13. Shark, tem lá calma, pá. Pode ter sido apenas um esquecimento de identificação. Isto das novas tecnologias põe muita gente à rasca.

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  14. Companheiros, camaradas, amigos, palhaços: está a parecer-me que podemos cair, com facilidade e precipitação, na incontinência verbal, para a qual não há fraldas que nos valham. E isso não é útil.

    Como também não é útil cultivarmos os juízos apriorísticos, de uma ou da outra parte. Ou da outra, ou da outra, etc.

    Por exemplo, Shark, tu fazes-me um favor muito grande mas não sustentes razões nas entrevistas merdosas - e quase sempre «bem» seleccionadas - que passam nas televisões, pois aí, com muita pena minha, quem não te dá crédito sou eu. Creio que sabemos bem como essas coisas se fazem... Olha, vê o exemplo das greves, com entrevistas aos coitadinhos que não têm o comboio por causa dos malvados grevistas, só como mero exemplo.

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  15. Ah, povo é só o que sabe dar as respostas mais adequadas e as outras não deviam contar para nada. No fundo é essa a lógica, Orca, desse teu raciocínio. É que para mim todas as opiniões são válidas (como os votos, não é?) e expressam uma realidade ainda que, na tua teoria, não representativa.
    Pois eu acredito no que vi e ouvi e da parte de quem organizou a coisa só ouvi banalidades e nenhum compromisso.
    Se não quiseres dar crédito não dês.
    Basta-me a razão que me assiste e fica assim provada, a menos que te sobrem crédito e argumentos para me desmentires.

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  16. Se assim fosse, São, o anónimo teria reparado depois da publicação do comentário e teria corrigido o problema. Não o fez e por isso essa justificação não cola.
    E eu sempre lidei assim com este tipo de intervenções e o resultado nos meus blogues, como constatas e apesar do tom duro do que escrevo, tem sido precisamente acabar com esta praga do anonimato para encher o peito de uma coragem de que quem tem razão nem necessita.

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  17. Este tema deu-me fome... e sede...

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  18. Continunado...
    Manter ESTE governo não é sustentar o interesse nacional! E outro que venha de novas eleições, porventura também não o será. Então em que é que ficamos? Cantando e rindo, até aparecerem outros três pastorinhos a clamar que viram o salvador?

    Eu tenho dito, reiteradamente, que - uma vez mais, como mero exemplo - o problema do «recibo verde» aliado à precariedade - fenómeno, aliás, de contornos muito portugueses, não fácil de descortinar por essa Europa fora - provém, antes de mais, da absoluta e rigorosa inoperância da Inspecção Geral do Trabalho. Isto porque esses «recibos verdes», esse fenómeno manhoso, pelintra, mafioso, etc,. é praticado, em primeira mão, pelo próprio estado e pelas grandes empresas, ao arrepio de tudo quanto é legislação em vigor e em total impunidade, por não haver organismo eficaz que o contrarie.

    E não venham para cá falar-me das micro, pequenas e médias empresas, pois o cancro social que isto é está instalado é nas grandes empresas e nos grandes negócios e, como digo, no estado, onde é suposto a tal Inspecção do Trabalho não «rachar lenha».

    E quando algum «atrevido» tentar levantar cabelo, mesmo dentro da IGT, cai logo o Carmo e a Trindade. Também sei, um pouco, do que falo...

    Isto cria - como todos estamos fartos de saber, indepedentemente da abordagem à «coisa» da manif - um ambiente de puro terror que aconselha o Zé a acautelar a vidinha, antes de mais...

    Das «conjunturas internacionais» também me cansam as histórias contadas. Esmagou-se a agricultura, trucidou-se a indústria, delapidou-se a pesca, arrazou-se a rede ferroviária nacional - tudo, tudo, sob as batutas do centrão...

    E o povo, pá? Claro que o povo só queria dinheiro para comprar um carro novo, pois era esse o seu alto nível de politização e amor à «coisa p´blica» que lhe vinha dos tempos salazarentos. Os Homens da Luta não andam nada longe da verdade e também não me parece que sejam muito parvos!

    E 24 horas de Abril não chegam para contrariar esta cultura, como me parece evidente.

    Depois, foi a tomada do poder pelos novos-ricos, pelos oportunistas sem escrúpulos que souberam guindar-se, dentro dos partidos, às tetas da porca estatal.

    E é essa corja que nos trama. E é essa corja que lá está. E são esses que não têm perdão, nem argumento. São os tais das reformas milionárias, das vivendas senhoriais, os pés-rapados que há uma vintena de anos não tinham onde cair mortos.

    E é essa corja que, hoje, define e determina quem há-de morrer de fome com pensões miseráveis...

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  19. E eu que até preciso de mudar de carro e não tenho coragem para ficar a dever... :O)

    OrQuita, faz um post, que o que dizes não deve ficar aqui por um diálogo só entre nós.

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  20. Depois há o problema de coerências várias... O que eu ouvi mais, ao longo da manifestação, foi: então, e as pedras? Trouxeste as pedras? Porque, na verdade, para muitos isto já só lá vai à pedrada.

    Talvez isso sustentasse outras abordagens à postura em que o Shark persiste... Talvez isso exaltasse, até mais, o orgulho nacional. Porque, enfim, convenhamos, duzentos e tal mil gajos descontentes na rua e nem um vidrinho partido, nem uma prisão por desacatos, carais!, nem nos jogos de futebol mais pacíficos, essa nova religião dos novos tempos!

    Agora, pegando neste excerto do comentário do Shark: «Ah, povo é só o que sabe dar as respostas mais adequadas e as outras não deviam contar para nada. No fundo é essa a lógica, Orca, desse teu raciocínio. É que para mim todas as opiniões são válidas (como os votos, não é?) e expressam uma realidade ainda que, na tua teoria, não representativa».

    Vais fazer-me o favor de ires mesmo com calma ou então não me vale a pena perder mais tempo com esta amena cavaqueira... Não me conheces, de todo, nem tens, como é óbvio que conhecer. Mas se conhecesses um pouco, saberias que o que dizes acima é exactamente a antítese do meu comportamento, em cada manifestação social em que me envolvo - e são muitas - pois estou muito longe de pendurar as luvas. E, como comentário... não o é, pois passa a roçar a apreciação de comportamento pessoal, o que não é edifcante.

    Não, Shark, a mim não me interessam especialmente os comentários arranjados junto do primeiro totó que quer aparecer na tv, sejam favoráveis ou adversos, e muito mal estaria a minha objectividade se apurasse da justeza de atitudes de duzentos mil através da opinião de meia-dúzia...

    Olha, acabei de referir acima a cena das pedradas. Acreditas no que eu digo? Mais do que digo, do que escrevi? Pois é. Ainda não ouvi nenhuma entrevista dessas em qualquer dos inúmeros canais.

    É o problema dos filtros. Cada um tem os seus... Às vezes é bo, outras vezes, nem por isso. E por aqui me fico.

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  21. Apreciação de comportamento pessoal não engloba um bitaite acerca dos elementos que usamos para formar opiniões? Um dos elementos que usei foram as entrevistas que comparaste às das greves que, diga-se de passagem, reflectem exactamente a voz da maioria e desafio-te a ires comigo confirmar na rua esse pressuposto.
    Claro que as pessoas de bom senso não reagem assim, mas é o que é. E faz parte do todo.
    Portanto, achaste errado da minha parte levar a sério as entrevistas e eu achei errado o contrário e começaste logo a subir a parada.
    Não me parece favorecer o debate, mas vejo que és um gajo que sabe imensas coisas e não gosta de as ver questionadas. E sei, porventura, menos coisas, mas no resto sou como tu.
    Daí talvez me fique por aqui também.

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  22. Isso, isso, fiquem-se por aqui :O)

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  23. Porra, que isso é tique! Também já descobriste que eu sou um gajo que sei coisas e que não gosto de as ver questionadas? És grande. Mas tens um pendor para a provocaçãozinha que, não trazendo objectividade à conversa, tende a encher-me de urticária nos tecidos moles.

    Aí vai mais uma daquelas muuunta demagógicas mas que vão no sentido do teu raciocínio, acima expendido e que toda a gente conhece: o Hitler tomou o poder com o voto da maioria da população alemã... nha-nha-nha-nha-nha-nha. Coisa chata, principalmente para os judeus esclarecidos e outros militantes de somenos importância.

    A «voz da maioria» no tal estado a que chegamos - que até pode ser a «maioria silenciosa» de bons tempos... - é também a que mantém o centrão no poder. Ou seja, nada disto quer dizer coisa nenhuma, ou pode, muito pelo contrário, querer dizer alguma coisa.

    A bem dizer, é como os tais 200 ou 300 ou 500 mil que saíram à rua no dia 12. Se calhar não quer dizer nada, se calhar são os esclarecidos, se calhar não são, se calhar o mundo é redondo, outras vezes tem dias, se calhar esta nossa troca de galhardetes nunca existiu, se calhar isto não serve para coisa rigorosissimamente nenhuma e estão para aqui dois tagarelas a perder tempo...

    Se calhar...

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  24. Ganhaste, pá.
    Não consigo aguentar o peso na consciência de te provocar tamanho desconforto cutâneo...

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  25. (Mas realmente tenho mesmo jeito para arreliar a pessoa, não é? E ninguém me leva a sério quando falo do meu mau feitio, toda a gente diz logo que também tem um e mainãoseiquê...)

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  26. Bem, desde que esse mau feitio não faça saltar daqui o resto da malta como aconteceu com a AnAndrade n'a funda São, continua lá a expor o teu contraditório :O)

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  27. Cruzes credo, nem pensar, São, em provocar uma coisa dessas.
    Da minha parte já não há mais para (contra)dizer.

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  28. Ó meninos, deixai-me lá meter o bedelho, só para esclarecer que o que me levou a sair do blogue da São não foi o mau feito alheio mas o meu (e a parvoíce alheia, isso sim!). ;)

    [há assuntos em que é inevitável saltar-nos a tampa; por que é que pensam que tenho estado tão caladinha, hein...? ;) ]

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  29. Estava capaz de partir caras. Vai espreitar o Câimbras, que percebes. Já desabafei, estou mais calminha. A blogosfera é mesmo terapêutica - pelo menos às vezes, pronto...

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  30. Já te lá fiz a recomendaçãozinha da ordem :O)

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  31. O engraçado é que ambos têm pontos de vista interessantissimos e que nem sequer se contradizem.
    E logo entre duas pessoas que eu gosto tanto de ler...

    (onde é que estão os bonequinhos neste blog, Sãozinha?)

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  32. Também me parece, Margot.
    E que bom ver-te por aqui.
    Este é um blog sério :O)
    Só eu é que venho para aqui brincar :O) e por isso não há bonecada :O(

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  33. Eu costumo aqui vir, só não tenho deixado rasto porque me parece um ambiente mais familiar e tal...

    Quanto aos bonecos, e não tendo que ser exactamente os do blog porcalhoto (não sou eu que assim o denomino, até porque acho que é muito além disso)eles têm a virtude de deixar perceber o estado de espirito de quem escreve e ilustrar a mensagem com o que num comentário, que se quer curto, não transparece.
    E isso ajuda a evitar mal entendidos.

    Penso eu de que... :)

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  34. Familiar?!
    Não seja por isso, prima!

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  35. Tens graça, tu :))
    E quem sabe não somos mesmo primos, na Beira Baixa todos são primos uns dos outros...

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  36. Agora é que o assustaste...
    Ele corre o risco de incesto?!...

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  37. Porquê, casou com uma prima?
    E incesto não é um risco, é uma invenção com 1/2 dúzia de centenas de anos.

    (põe lá aqui uns bonequitos...)

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  38. Só se na Beira Alta também são primas :O)

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