março 12, 2011

Uma resposta limpinha à argumentação ORCAlhona

Bom, meu douto parceiro, começo por contestar esse bode expiatório fraquinho que são os pais. Os pais, Orca? Tu que és pai, mesmo tendo a sorte de te tocar um puto à maneira, sabes que é uma lotaria. Por outro lado, desculpabilizar as aventesmas com base nas asneiras bem intencionadas ou por mera inépcia dos progenitores equivale a passar atestados de incompetência a uns e cartas brancas para a estupidez aos outros seus herdeiros.

É claro que o meio envolvente pode determinar/condicionar a evolução de um indivíduo mas se lhes damos acesso a mais informação do que em algum momento da História da Humanidade esteve ao dispor dos plebeus isso permite aos melhores moldarem as suas convicções e, por tabela, abraçarem a democracia participativa como opção.
Deveriam até ser capazes de formarem uma alternativa séria (porra, eleitorado potencial não lhes falta), para poderem criar as condições para as tais manifes bem organizadas e com soluções e não apenas queixinhas.
E não aceito de forma alguma o paralelo com as causas pelas quais tiveram que se bater os que citas. O país é democrático e qualquer cidadão pode (deve) ser capaz de berrar com base em ideais bem concretos e não em queixinhas que se somam às dos restantes e não justificam (até pelas benesses que lhes apontas por via dos pais que criticas) especial relevância em relação à dos reformados ou mesmo à dos trabalhadores que se vêem, esses sim, à rasca para honrarem compromissos já assumidos.
E é a palavra compromisso a chave do meu raciocínio.
É baril participar numa manife, bem o sabemos. Mas a coisa nasce e morre ali se não há planos sérios para o futuro da coisa. E esses, não há volta a dar, fazem-se antes da gritaria e não depois de se ver no que dá, depois de contar espingardas.
É uma cobardia política e um comodismo intelectual, convirás.

Claro que reconheço o perigo das generalizações, mas eles mesmos ao aceitarem rótulos e ao elevarem os mesmos à condição de punch line abraçam a generalização que até lhes convém (para parecerem uma organização com um fio condutor e apelarem à força da multidão).
São a geração à rasca e qualquer de nós sabe que à rasca, insisto, estão aqueles que para além de lhes sustentarem os vícios ainda têm que honrar compromissos e, lá está, fazerem funcionar os mecanismos da democracia que entre outros privilégios que, por exemplo, os jovens líbios não possuem, lhes garante o direito à livre manifestação das suas dores.
E esse não contesto, de todo. Pelo contrário, é o meu apreço (e o meu currículo) nessa matéria que mais motiva o tom da posta que serve de base para esta prazenteira troca de impressões.
A luta popular merece o respeito de ser levada a sério, não pode ser confiada ao livre arbítrio das conjunturas e dos impulsos agregadores. Merece, por exemplo, aquilo que as revoltas no Egipto ou na Tunísia possuíam: causas sérias.
E agora vamos lá à seriedade deste pseudo-movimento deolinda:
dificuldades? recibos verdes? As gerações anteriores à deles conheceram o trabalho sem direito a férias, a necessidade de alugarem casas a meias com hóspedes para as poderem pagar e uma data de coisas que conhecerás tão bem como eu, porra...
Fizeram o quê? Um 25 de Abril, que por muitas pedras que lhe mandem aos telhados de vidro que as múltiplas seitas e associações lhe criaram nestas décadas ainda hoje lhes oferece de bandeja uma democracia que não sabem (nem querem - o discurso abstencionista e a alergia à política partidária predominam) cultivar e defender.
Preferem dar nas vistas, aproveitarem a embalagem do que vêem na tv para reclamarem uma voz que ninguém lhes nega no sistema em vigor. Têm é que vergar a mola, investirem tempo e carola para fazerem aquilo que vão para a rua exigir a terceiros.
E isso é uma seca, não prestigia a pessoa como encher a boca a dizer "eu estive lá".
Mesmo que esse "lá" não passe de uma birra, por muito que alguns deles vejam o futuro negro neste presente cinzento.
Mudem o mundo, mas com maneiras. Com inteligência, com persistência, com ideias alternativas que em não existindo fazem com que os protestos de rua apenas sirvam para apelar ao vazio.
E se para os líbios e os egípcios isso não é ir para pior, na nossa democracia ocidental antes pelo contrário.


6 comentários:

  1. Pois também acho, Shark, que estaremos do mesmo lado da barricada... Eu não encontro, como já antes sugeri, especiosa matéria de controvérsia na tua abordagem. No entanto, se me permites a galhofeira abordagem, parece-me apenas que estamos a utilizar filtros diferentes no momento de vasarmos a beberagem para os copos.
    Se calhar, não estamos a falar dos mesmos jovens...

    Mas interessa muito saber que há uma responsabilidade imensa na insensatez com que construímos u mundo idílico e irreal aos nossos filhos. E tantos de nós, porventura, sem a minima preparação para «assumir Abril» - seja lá isso o que for...

    Dramático verificar quantos dos marcelistas ou salazarentos de 24 eram lídimos democratas a 26. Dramático apurar o entendimento sobre a Liberdade quando alguém, na rua, era entrevistado sobre o assunto... Mas assim éramos e vamos sendo.

    As coisas têm o seu tempo de construção e eu talvez tenha a sorte de saber, hoje, de um bom número de jovens com os quais eu me identificaria plenamente lá para os meus 20 anos. Com a diferença de que estão com uma bagagem cultural a que eu, então, não poderia chegar.

    Enfim, isto dá pano para mangas. Não me leves a mal, mas eu vou ali num instante à manif, muito como o Paulo, para ver como é, e já volto...

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  2. Não levo a mal, de todo. Até porque nunca se sabe o que pode resultar destas coisas e eu prefiro-me um homem com fé.
    Espero mesmo que tudo corra pelo melhor.

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  3. Interessante digladiação entre elementos do mesmo lado da barricada.
    Se os Deolinda linda linda, dizem evidências inconsequentes, e ou se estamos agora melhores que em 1755? Todas as coisas tem o enquadramento subjectivo dos nossos interesses enquanto seres, e "ser" tem subjacente o conceito de "agarrados à vida".
    E aí digo, grito, por muito que sinta a minha insignificância quando assisto - como todos nós de forma impotente - como um tremor de terra e os tsunamis levam de forma inerte todos os valores pelos quais hipotecamos o nosso viver: casas, carros, estradas. Bens subitamente não-bens, inúteis.
    Perante isto, nada vale, somos niilistas, os valores são so o "eu" e o estar vivo.
    E é esta margem perigosa e por enquanto ainda psicológica que estamos a ultrapassa. Um homem perdido já não pensa, apenas age e quase sempre mal.
    Não quero saber se estávamos pior há 100 anos, não dou é de barato voltar para trás, por mais que adormeçam a rã em caldinhos quentes-

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  4. Eu sabia! Isto de ter os pés quentinhos é de desconfiar...

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  5. Ó ó, se é....
    É assim que te assam a rã----

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  6. Nunca alguém me tinha chamado a isto uma rã. É porque ficaste com os olhos esbugalhados?

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