Séculos atrás a existência era vivida em diferentes planos, em diferentes dimensões, em função do grupo em que as pessoas se inseriam. Era o clero, poderoso por controlar o conhecimento e assim manipular a seu bel prazer a opinião pública desses dias, era a nobreza, poderosa por controlar o dinheiro e a esmagadora maioria dos bens imóveis, ambas ainda mais poderosas por partilharem a gestão política, e depois havia o povo, esmagadora maioria, que dava jeito para trabalhar e para guerrear quando convinha a quem mandava.
Carne para canhão, em termos práticos.
Nos nossos dias vendem-nos a ideia de que as coisas mudaram. Acabou a monarquia, acabou a nobreza e o clero já conheceu melhores dias em matéria de influência.
O problema é que não acabou uma coisa chamada dinheiro. Pior ainda, não acabou e escasseia imenso entre a esmagadora maioria, o povo, algo de muito eficaz para despertar consciências.
De repente percebemos todos, não há como uma crise a sério, que regressaram os dias em que a sociedade se dividia em classes, em castas, em elites, em autênticas cortes a quem passam ao lado os dramas populares, as aflições dos pelintras a quem espremem as poupanças e o resto como um xerife de Nothingham gigantesco, seja pela via fiscal ou pela via tradicional que sempre consistiu na desfaçatez oportunista por parte de quem tem que é quem pode, neste tempo como em qualquer outro.
Os galhos e os macacos
A existência volta a assumir de forma descarada as tais dimensões distintas em função dos grupos em que nos inserimos, com a liderança confiada a quem presumimos capaz de entender as dificuldades dos outros e de, enquanto modelos a seguir, adaptarem a sua conduta à conjuntura para exibirem algum tipo de solidariedade, a que se puder beber a conta-gotas do maior recato por parte dos que mandam.
Depois de ouvir o Primeiro-Ministro, o nosso, a divulgar aos microfones a sua certeza nas férias do costume, tudo como dantes no seu casulo livre de sobressaltos no final de cada mês, fiquei com a clara noção de que aflição é um conceito relativo no patamar em que, eleitores, povo, colocamos meia dúzia de nós para nos valerem com a sua sabedoria, a sua capacidade decisória mas também a sua sensibilidade para os problemas alheios que, por inerência de funções, deveriam abraçar como seus.
Não abraçam.
O nosso PM, que no meu bairro do Charquinho faria parte do que apelidávamos de betinho ou betoso, é igualmente totó e por isso expôs a sua vidinha santa num raro momento de sinceridade de inspiração balnear e percebemos todos que a crise a sério não passa por ali.
Contudo, aqui ao lado os vizinhos não estão a passar melhor. Com um quinto da força de trabalho desempregada e com as finanças a resvalarem para o alcance do afiado cutelo dos especuladores e agências de rating os espanhóis, os que são povo, esperariam dos seus líderes o mesmo que nós: apenas um nadinha de pudor.
Será melhor esperarem sentados, pois enquanto a esmagadora maioria vê fugir o chão sob os pés sua majestade, a deles, meteu os seus pelas mãos e espalhou-se ao comprido na savana onde podia andar a caçar gambuzinos ou outra actividade mais na onda do chá de caridade mas entendeu, presidente honorário de uma associação ambientalista, andar a caçar elefantes à conta do povo aflito para lhe sustentar tais vícios.
Com esta história dos elefantes é natural que os espanhóis fiquem de trombas, de tal forma ficou à vista o tal universo paralelo por onde deambulam os poderosos enquanto a esmagadora maioria, o tal de povo, sofre as consequências dos desmandos de algumas dessas elites (não apenas ibéricas) que mexem os cordelinhos e fingem fazê-lo pelo bem comum embora apenas quando isso não interfira no jogo de golfe marcado para a mesma semana.
Espero que os elefantes não se incomodem que eu lhes sirva de porta-voz e tradutor directo do elefantês: "Muito vos queixais vós, humanos, do quanto pagais com os vossos bolsos os devaneios e as loucuras de Vossas Majestades... Imaginai agora o que seria pagardes com os corpinhos só uma dízima infinita periódica da factura das vossas insanidades..."
ResponderEliminar... desculpem... tenho aqui uma galinha arruaceira a buzinar-me a orelha que também quer que eu transmita por ela uma mensagem qualquer... deixa ver... sim... diga... tou a ouvi-la mal... Epá! Calma! Também não é preciso gritar! Ok... Diga... Diga agora que vai sair em directo para a caixa de comentários: "É que isto é uma vergonha, pá! Este país é uma vergonha!! São uns mentirosos, pá! Mandaram-me um papel a dizer que me iam melhorar o bem-estar, fiquei muito satisfeita... e agora afinal venho a saber é que me vão cortar o pescoço!! Pois... porque é melhor estar morto a não poder abrir as asas!! Ó humanos!!! Pá!! O que vós quereis sei eu!! É uma vergonha, pá! Só pensam em dinheiro, pá!!".
EliminarEssa galinha é muito urbana.
EliminarUm dia destes até os rinocerontes são suburbanos (se ainda estiverem vivos...)
EliminarAinda estão? Como espécie livre?
EliminarAinda existem "espécies livres"?? Por fim, boas notícias!! Os rinocerontes que para aí andavam à solta... não sei se não terão já levado todos com um tiro no meio do corno... Mas não faz mal, porque se guardam os genes todos num frasquinho naquela base de dados genéticos que há lá para os pólos...
EliminarHá dias ouvi o José Pacheco Pereira dizer que um desafio da Humanidade é encontrar formas de vida inteligente noutros planetas. Como nós?! Dificilmente eu classificaria o ser humano como espécie inteligente.
EliminarSe tivermos a "sorte" de encontrar outra forma de vida tão inteligente como a nossa, ainda vamos acabar como os rinocerontes... num frasquinho...
EliminarEu acho é que já estamos dentro do frasquinho.
EliminarMas por enquanto ainda temos espaço para abrir as asas... Ainda ontem falei com uma aranha, daquelas pequeninas, (que isto aprende-se muito a conversar com os animais...), e na opinião dela uma das coisas que poderia ajudar muito a humanidade seria uma terapia de conversação com as formigas. Na ideia dela, é um problema muito grave que os humanos não compreendam que, à escala do Universo, a diferença em dimensão e significância que os separa das formigas é muito pequena... de maneira que a conversação com formigas poderia ser um passo muito positivo para a evolução da mentalidade humana, e, consequentemente, para um futuro mais auspicioso para a "humanidade"... (e arredores...)
EliminarE.... quanto a aranhas...
EliminarNenhum insecto me morde, nem mosquitos, nem abelhas, mas as aranhas...
chego a vir de uma volta de BTT com várias mordidelas e aranhiços....
... elas lá terão as suas razões... porque, que eu saiba, só anda para aí uma espécie com o gosto pela agressão desportiva... Aposto que não adivinhas qual é! É um "case study" muito interessante, cheio de singularidades... por exemplo, "pensam que pensam", e também pensam que são feitos de um barro especial diferente do do resto da bicharada... e alguns até pensam que são feitos de um barro diferente do dos outros da sua espécie... Olha! E se calhar são mesmo! É bem possível que tenham na composição algum ingrediente mágico que, em função do gradiente, lhes determina o grau (maior ou menor) de apego à "Lei Universal do Absurdo".
EliminarNão adivinho mas já li sobre isso. Só que a cabecinha não dá para tudo :O(
EliminarA minha então... não dá para nada. Antes ainda sabia que nada sabia... agora já nem isso. Mas olha... fui ver... e parece que ao menos a caça ao rinoceronte tem corrido muito bem... (quer dizer, depende, para os rinocerontes tem corrido mesmo muito mal...) O pior é que, "livres" lá numa "Reserva Natural" qualquer, de alguns tipos já só existem meia dúzia (literalmente), de maneira que dá ideia que num futuro próximo esta actividade também vai entrar em crise... é uma maçada. Do que é que aquela malta vai viver?
Eliminar... e para os apreciadores de caça também vai ser um desatino... O "big five", as cinco espécies de animais selvagens mais difíceis de caçar, vai passar a ser "big four". Não é uma porra? A malta divertia-se tanto...
EliminarAnd counting...
EliminarAS libelita-linda sente-se muito bem nesta casa-árvore com galinhas, macacos,olifantes e demais bicharocos. E dá uma boa arruada pá!! Ó ó, se da, pá!
ResponderEliminarA fazer barulho com fartura para enxotar o macaco-coelho, trangénico já se vê, para outroika árvem, que esta é nossa.
Bem pode ele vomitar as certezas absolutas em tom de fleuma a dizer que os bichos tem vivido muito acima das possibilidades e é preciso descer da árvore.
Ora que vá ele, emigre e desapareça. Quanto muito pode apanhar um ramo solto do chão e montar a árvem dele para outro lado, em Marte por exemplo...
Já que falas nisso, os coelhos são outros que não se calam. Dizem eles que é uma clara violação aos "Direitos dos Animais" o uso abusivo do seu nome de espécie para designação de um primeiro-ministro português. Só para teres uma ideia do que eles andam para aí a dizer: "... nós achamos muito bem que escolham à vontade o animal que quiserem para vos governar. Agora... Bolas! Chamem-lhe o que quiserem, burro, cavalo, boi... "coelho" é que não, que nós temos a nossa dignidade, não é?" Eu bem lhes tentei explicar que os outros animais também não haveriam de gostar, e então eles sugeriram que usássemos o nome de um animal de outro país, tipo "urso" ou "camelo"... Era violar os "Direitos dos Animais" na mesma, mas ao menos eles não davam conta...
Eliminarahahahahahha
ResponderEliminar******
Concordo contigo, e acho também que a esta hora nenhum dos bicharocos quis emprestar os seus Passos ao nosso PM e sobrou para o coelhinho que estava, distraído, a ir com o Pai Natal no comboio ao circo. Mas aposto que se o PM se virar de costas para a parede, o coelhinho trata de lavar a sua honra com uns 100 rápidinhos "vai ser muita bom, não foi?" enquanto o Diabo lhe esfega (ao Passos) o olho
Não adianta tirar de lá o Coelho, Charlie... Ia para lá outro bicho idêntico ou pior... Eu ainda tive esperança que dada a gravidade e urgência da situação a malta acordasse... Mas estamos longe!! Porra!! Estamos longe!!! Muito longe!!! O que era preciso era mudar as mentalidades!! O que era preciso é que as pessoas pensassem!! Mas como??? Tenho-me perguntado com seriedade se de facto o "mundo" (o nosso) irá acabar para breve... E é curioso que o que sinto é que não acredito nisso... é daquelas coisas do tipo "só acontece aos outros"... como a morte... É exactamente como a morte. Toda a gente percebe que é inevitável, mas na prática... é sempre algo do futuro... do futuuuuroooo... Racionalmente, isto está tudo lixado. Não nos safamos. Não é o país: é a guerra com a ásia, que já começou a não tarda a tornar-se feroz, é o esgotamento inevitável de recursos agendado para breve, é esta coisa esquisita da ganância sem limite, são os abanões da natureza, e, sobretudo, a absoluta loucura e falta de senso dos humanos... a somar a um milhão de razões e de danos irreparáveis... Mesmo que mudássemos de atitude todos, hoje, não sei se nos safávamos... Suponho que ainda dará para nós... para quem tiver filhos será à justa... e mais à frente, será um salve-se quem puder... se sobrar algum... Mesmo assim, apesar de todas as evidências, eu ainda tenho esperança (a tal que, ninguém sabe porquê, estava também dentro da vasilha dos males do mundo). Conclusão primeira: o que é preciso é mudar as mentalidades e depressa. Conclusão segunda: se houver ainda alguma coisa a fazer, o sexo é o meio mais eficaz para o conseguir. Não é por acaso que as religiões se apoderaram da sexualidade como meio de dominação dos corpos e das consciências. Agora é preciso fazer o contrário: libertar os corpos e as consciências. Sexo! Sexo! Bom sexo! Prazer positivo! Prazer até o mundo acabar! O sexo, dizem os orientais, e eles entendem disto, é o caminho mais em linha recta para a "iluminação". Mas não é preciso tanto, basta que as pessoas se tornem mais inteligentes. Bom sexo é bom para a inteligência. E se tudo o mais falhar... mal não faz... e sempre se previnem umas depressões e uns cancros pelo caminho... (de qualquer das formas, para mim, ainda é das poucas coisas que realmente interessam... o que não invalida que eu acredite no que acabei de dizer, e me agrade muito, dentro das minhas modestíssimas possibilidades, dar o meu pequeno contributo não apenas para o que considero ser um "mundo melhor" mas mesmo para a "sobrevivência da minha espécie"). (E pronto... lá se foi uma página inteira... mil perdões...)
EliminarOlha lá, Libélula... tu estás mesmo a precisar de desabafar, rapariga. Queres começar a publicar posts aqui neste nosso cantinho?
EliminarHera bom, ai se hera!!! t
EliminarTer aqui a comentar
as asinhas da Libela
Eu sei que tu com cordas.
EliminarA çorda de bacalhau?????
EliminarQuanta honra, querida! Quero sim, com todo o gosto. Possivelmente não será uma coisa "regular", porque sabes que sou uma tipa de "taras"... Mas se eu "for"... eu volto... (estando viva, claro). Mas sim. Agrada-me muito dar uma perninha aqui no vosso cantinho... (onde de certa maneira já me sinto um bocadinho como em "casa"... Lamento. A porta estava aberta...)
EliminarFixe. Seguiu o convite.
EliminarDiz-me que imagem e pequeno texto queres ali ao lado direito, OK?
Eu acho que ficava bem uma foto de uma gaja em chamas...( toda envolta em traços que sugerissem umas asas libelulares...)
EliminarBem que podia ser :O)
EliminarDetesto caçadores. E sou cada vez mais republicano.
ResponderEliminarNem para caçares gajos de trombas?
Eliminaresse é o tipo de gajo que mais caço. Namorados de trombas, maridos de trombas...
Eliminar:)
Caças ou crias?!...
Eliminar:O)
A propósito de trombas, esqueci-me de dizer que o custo da emissão em ondas curtas para TODO O MUNDO era de apenas 800.000 euros anuais, o que dá por português e por ano, 800.000 : 10.000.000= 0,08, ou seja, oito cêntimos de euro.Coisa que decerto a Libelita não se importaria de pagar, se soubesse que aqueles oito cêntimos por ano fariam com que no mundo se continuasse a ouvir falar português.
EliminarAfirmou então o ministro Relvas quando confrontado com a comissão de investigação sobre a cessão de emissão, que o erário público tinha de ser preservado destes gastos....
Tá dito, e só nos resta indignar-nos com tamanha desfacatez e falta de vergonha