São muitos os cenários avançados pelos analistas relativamente ao que o futuro desta crise nos poderá trazer. Os mais optimistas, e que soam mais cretinos, acreditam sempre numa reviravolta milagrosa e surfam lá em cima, na crista imaginária da onda sinusoidal no gráfico feliz para sempre do ciclo económico que, às urtigas com a tradição, depois de muitos anos flat começou a recuar como acontece antes dos tsunamis. Os assim-assim, mais prudentes na camuflagem da sua absoluta incapacidade para entenderem o fenómeno e menos ainda para esboçarem soluções pertinentes, balouçam o discurso ao ritmo do vento que sopra cada vez mais descontrolado pela sobreposição de temporais.
Porém, os ventos sopram de feição para os mais pessimistas. Com o caos a instalar-se aos bocadinhos na vida de todos nós, as conjecturas mais rocambolescas dos profetas da desgraça e dos teóricos da conspiração assumem um realismo que as decalca na perfeição por cima dos passageiros de um barco com timoneiros desastrados e visivelmente cada vez mais atarefados a açambarcarem para a tripulação os poucos coletes salva-vidas a bordo.
Mas de todos os fantasmas e ameaças que este naufrágio financeiro desenha no horizonte, o mais dantesco é o espectro do afogamento da Democracia no meio de um mar revolto e repleto de vítimas da pirataria a braços com a luta pela própria sobrevivência, demasiado aflitas para recordarem que quando a Democracia vai ao fundo arrasta sempre consigo a Liberdade sua siamesa como se esta tivesse de repente um bloco de cimento amarrado aos pés.
O maior papão desta fase gelatinosa do sistema capitalista é sem dúvida a certeza (esta soou esquisita) de que ao seu eventual colapso sucederá o pandemónio social e a crise política desmesurada, propícia ao surgimento dos vazios de poder mesmo a jeito para ditadores e/ou oportunistas sempre prontos para ocuparem o palanque dos iluminados de circunstância que discursam a salvação fardada como uma medida de força.
No meio da escuridão, aprisionados pela sensação de impotência e pelo desespero de causa, todos se ajuntam em redor dos detentores de isqueiros e seguem essa luz. O medo e a desorientação constituem ingredientes perfeitos para cegarem uma população com a incandescência de palavras fortes e de opções radicais que são as que sobram na falta de alternativas.
Muitas vezes é o pânico o maior responsável pela desorientação colectiva que abre caminho aos momentos mais negros da eterna luta da elites pelo poder, por qualquer tipo de poder. Com os líderes democráticos desacreditados pelos maus resultados e pelas parangonas que lhes denunciam fraquezas e tentações afinal tão disseminadas nos hábitos das populações, a pequena escala de um problema global, as pessoas apontam o dedo aos maus exemplos e depois, como é típico, generalizam.
A Democracia acaba conspurcada pelo mau desempenho de alguns dos seus protagonistas transitórios e definha às mãos do crescente desinteresse dos cidadãos nos seus mecanismos, mesmo sem estarem esgotados todos os recursos e serem tentadas todas as suas versões, tantas arestas possíveis de limar que podem fazer toda a diferença entre fracasso e sucesso do único regime possível, aquele em que o povo é mesmo quem mais ordena se assim o entender.
Para salvar um país, e isto aplica-se à escala planetária, por vezes nem uma revolução basta. A simples troca de rostos e de personalidades nos tronos ou cadeirões, mesmo com operações de cosmética ideológica e até de funcionamento dos mecanismos de acesso ao poder (quando restam alguns), não resulta se o regime não mantiver um contacto próximo com a população que o sustenta.
É a História, que tão bem documenta esse pressuposto, a afirmá-lo na realidade dos factos que regista: nenhum povo informado e na plena posse das suas faculdades racionais suporta eternamente a privação da liberdade ou o mau desempenho dos seus líderes, eleitos ou não.
Em Portugal estamos encurralados pelo binómio desastre financeiro e governativo/ausência de alternativas credíveis para o resolverem ou, no mínimo, lhe amortecerem a pancada.
Por isso mesmo, muitos até desabafam saudades de Salazar e dão o peito às balas demagógicas dos que não têm receitas milagrosas mas podem brilhar por comparação com líderes trapalhões e políticos desmotivados, dos que falam mais alto e mais grosso do que os restantes papagaios de serviço nestas confusões.
No entanto, a esperança que podemos até depositar nesta ou naquela figura circunstancial não pode ficar entregue ao livre arbítrio do comando à (cada vez maior) distância dos eleitores, de xis em xis anos, e nenhuma atenção prestada durante os intervalos. E é nos intervalos que se cozinham estas sopas dos pobres que nos oferecem quando as coisas correm mal e as asneiras se expõem como f(r)acturas que nos privam cada vez mais de uma vida como a entendemos normal.
Associação? Feito.
É preciso fazermos alguma coisa ou arriscamos que outros o façam por nós, com os resultados que estão à vista. Para uns a opção poderá ser a luta nas ruas, já lá andam muitos. Mas para outros a coisa, o combate que urge travar, pode passar por mais do mesmo, Democracia robusta com Liberdade a sério para dela poder usufruir, mas com maneiras.
O conceito não é novo, mas continua na moda por via do artigo 2º de uma tal de Constituição que parece ter-se tornado num estorvo para quem aprecia a governação distante, feita à revelia dos interesses dos cidadãos e eleitores. Chama-se Democracia Participativa e devolve ao povo as rédeas do seu destino num período em que esse controlo directo se revela mais necessário.
Ontem nasceu a Global Vox, o primeiro passo de um movimento de cidadãos anónimos com ganas de proporem uma alternativa isenta dos erros e das fragilidades que o sistema, tal como está a ser interpretado pelos seus executantes, evidencia. Mas não com base em novidades ou em ideologias (re)feitas à pressa e à medida dos interesses de apenas alguns, antes sustentada, essa alternativa, no reforço dos mecanismos democráticos por via da intervenção popular, da emergência da cidadania que todos sabemos estar na hora de incentivar. Pela erradicação de vícios e de impurezas que só um contacto próximo com o poder nos permite, pelo fim da carta branca para a rebaldaria.
Orgulho-me de ter partilhado com outros cidadãos a assinatura do documento que dará origem, num futuro muito próximo, à criação de uma alternativa que vos convido a conhecer.
Pelo menos deixamos todos de poder afirmar que não existe uma...
Já leste, de Jürgen Habermas, "Um Ensaio Sobre a Constituição da Europa"? Um livrinho saído na primeira metade de 2012, com prefácio do Gomes Canotilho... Acho que têm ideias em comum, vocês. E eu cum bós, como se diz por aqui.
ResponderEliminarNão... e já me lixaste o orçamento familiar...
EliminarEu também não li, mas vou tratar do assunto com a máxima brevidade.
Eliminar:))))
EliminarCá está mais um a querer ler, apesar de um orçamento cada vez mais gasparento.... :(((
EliminarAlém de que, concordando como o artigo do tubarão acaba, eu ser um dos ferozes opositores à teoria da TINA.
EliminarQue teroia é essa?!
EliminarTeroia é uma teoria a ter... em atenção...
EliminarA Teoria da TINA foi inventada pela senhora Tatcher ou, Xáxer, como dizia o Ti Joaquim aqui de Alfundão City, Alentejo Profundo...
ResponderEliminarConsiste num acrónimo da expressão " There Is No Alternative".
E baseados no axioma, vai-se até ao dogma, e cheios de certezas, os Neocons dão cabo das nossas vidinhas, porque dizem eles, não há alternativas ao desmantelar do viver comum de populações inteiras para benefício de um grupo- mais do que mafioso -internacional. O Carlos Pimenta, insuspeita figura do mundo social-democrata, tem sobre isso um artigo na "Visão" onde explica e fundamenta muito bem o que mais ou menos o filme "Inside JOB" mostra. Demonstra como grupos financeiros, constituem verdadeiras task forces, instilando na primeira fase um mecanismo tendente a criar dívida. Os processos são sublimes e fazem parte do ciclo de crescimento económico. O crédito corre como água da chuva, depois, a partir de uma determinada fase, esperam o bater de asas de uma borboleta para fazer disparar o momento do ciclo inverso, em que como verdadeiros predadores que são vão atrás das vitimas abatendo uma após outra.
As privatizações fazem parte desse cíclo e se virmos quem está por detrás dos interesses que adquirem as empresas alienadas, depressa vamos dar aos do costume. Um pequeno grupo que financia essas transacções, e curiosamente o mesmo grupo que aos países repentinamente caídos sob o sentimento de culpa da dívida, não emprestam um chavo, ou se o fazem, fazem-no sob uma imensa agiotagem que endivida ainda mais e que acaba na mesma por fazer com que esses países (as pessoas) fiquem muito mais pobres.
Assim, aos incompetentes ou criminosos que fazem coro com a TINA, e que se instalam à frente dos governos dos países, eu contraponho Keynes: Não hã razão alguma para que alguma vez falte dinheiro, pode fabricar-se até ao infinito. Os movimentos especuladores sabem muito bem disto, e por isso mesmo, antes que a crise chegue também à Alemanha, decorre esta pressa em agarrar tudo o que tenha "real state" no que diz o valor de posse real: os bens.
Porque o resto, é apenas papel que vale enquanto for aceite como tendo valor, e sabemos que a partir de determinado momento, um bem de referência, por ser escasso deixa de circular passando a ser substituido por outra coisa qualquer de troca comummente aceite e que passa a ser chamado de moeda.
E quando é que a malta desaTINA?
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