outubro 26, 2012

Emigração para um mundo onde já não há lugar para quem deu mundos ao mundo..


Li como muitos milhares de Portugueses, a mensagem e as reflexões que por parte de mais um jovem obrigado a emigrar aqui ficaram publicadas, mas a carta que o Pedro escreve é uma carta de todos os Pedros e outros e outras, a quem já se ouviu em tempos alguém- e não sou mosquinha-, chamar nomes tão diferentes como Zé e Maria e sobre os quais todos temos também de reflectir.
Os Pedros, as Marias, os Zés, e todos os outros, estão de facto a ser expulsos do país.
Pressionados não pelo desejo de melhor vida, como antes faziam os emigrantes no tempo dos pais, mas para ter o mínimo de vida digna.
No entanto os tempos são agora muito complicados, pois enquanto o mundo económico conhecia o boom de crescimento do período após-guerra, em que os países de acolhimento tinham carência de mão de obra, agora o quadro é inverso. A mão de obra, por lá também sobra, restando apenas alguns nichos especializados. Tirando isso, temos a velha e sempre nova África, cujas ex-colónias ainda precisam de qualquer coisa portuguesa a mexer nas riquezas que depois de potenciadas e transformadas em dinheiro, servem para comprar as empresas que na antiga Metrópelo os governantes tristes e ceguetas estão a deixar ficar nas mãos daquels a quem dantes chamavam de colonos.
Muito a propósito, recordo um nome que diz muito em Coimbra.
Norton de Matos teve a coragem de dizer uma vez ao velho Botas, de que Portugal era em África, porque cá, no velho continente, este rectângulo não era mais do que uma pequena colónia do todo Português. Capital em Luanda, disse ele ao velho Salazar, que julgava a TV como uma coisa assim tipo máquina fotográfica onde ele em miudo tinha tirado umas fotos instantâneas lá nas feiras, mas desta feita com muitos fios à volta...
A História mostra hoje  à saciedade o que o dito ditador decidiu a propósito da visão à distância do Norton.
A compra constante, na actualidade, por parte dos Angolanos de participações importantes (e até da tomada total) em empresas Portuguesas dispensa quaisquer especulações, mas o facto de Norton ter sido um visionário num País de vistas curtas, desmente o aforísmo de que em terra de cegos quem tem um olho é rei: sessenta anos antes era mais fácil tirar um passaporte para emigrar para a América do que para Angola ou Moçambique. O governo de Salazar, rosto visível da oligarquia dominante, não queria ninguém a concorrer com os grandes proprietários que descansadamente engordavam nas colónias. O desenvolvimento foi por isso complexo, passando repentinamente pelo inverso: um fenómeno de colonização apressada e desenraizada feito de forma estúpida com o transporte do modelo de aldeia portuguesa para a imensidão africana. Os movimentos de libertação que começavam a despontar e a conseguir triunfos nas outras colónias europeias assustaram os "donos" de toda a imensa riqueza. De repente descobriram que era muito importante ter gente da metrópole instalada no terreno, mas já era tarde e o modelo seguido, a da chamada "colonização interna", algo assim parecido às escolas primárias do Estado Novo: todas iguais de norte a sul. Apenas a perfeita ignorância de alguém que nunca tinha posto os pés na grandeza e diversidade Africana,e que tinha do mundo uma ideia de prolongamento das particularidades da sua minúscula aldeia,  é que poderia ter decidido disparate tamanho. Norton tinha razão, a ideia dele era harmónica e progressiva e levaria a uma convivência proactiva e produtiva.
A independência das Colónias poderia ter tido outro desfecho mais favorável a Portugal e as suas ex-colónias: uma comunidade de Estados resultante de um processo progressivo, pacífico e harmonioso de independência em vez da fuga apressada com a perda da maior parte dos nossos interesses e património construído e as terríveis guerras civis que no terreno subsituiram o súbito vazio de poder, mas chorar sobre o leite derramado não o põe de volta. Agora não nos resta outra alternativa que não seja a de nos sujeitarmos a migalhas, seja lá, seja noutro lado qualquer menos neste bocadinho que nos resta do Velho Império...

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