Então lá vamos então tentar falar sobre o tema. O não fazer nada, não existe pois a expressão contém uma antítese e deveria chamar-se de "fazer nada", coisa que se revela muito dificil, pois por pouco que se faça, faz-se peso à terra que se pisa, além de se lhe devorar alimentos e devolver dejectos. Só por aí já o simples facto de existir enquanto ser orgânico é já obra que baste. O fazer nada, deve ser assim remetido ao universo de actividades às quais se chama de "trabalho". Ou seja, fazer as coisas que os outros não fazem, pois se alguém faz algo, esse algo depois de feito, feito está e mais ninguém irá fazê-lo. Pode sim fazer outra igual ou parecida, mas no delta espaço-tempo assinalado, aquele indivíduo fez aquilo e ficou feito. Onde está o estado supremo de existência, o Nirvana? Fazendo nada, ou tendo consciência de que já fez tudo e assim passar ao estágio de existência superior? O paradoxo surge recorrentemente quando as pessoas atingem as idades de aposentação, onde poderiam recolher-se a esse estado de felicidade suprema e descobrem o aborrecimento de ter tanta coisa que ficou por ser feita. Ou seja, projecta-se o Nirvana para o estado de ausência: somos felizes a pensar no fim de semana que mal chega já está a acabar, o mesmo se passa com as férias que depois de tão grandes, algumas, aborrecem e levam ao pensamento: quando-é-que-começa-o-trabalho, coisa igual aos que caídos em desemprego desesperam para um emprego do qual dizem mal depois de terem alcançado. Sera o nosso Nirvana esta felicidade de conseguir gerir a infelicidade? Lembro-me de repente de um poema de Fernando Pessoa, este génio infeliz sempre em fuga para a frente, muito à frente; o Nirvana é já ali:
Liberdade
Ai que prazer não cumprir um dever. Ter um livro para ler e não o fazer! Ler é maçada, estudar é nada. O sol doira sem literatura. O rio corre bem ou mal, sem edição original. E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa em que está indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma. Esperar por D. Sebastião, Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças, Flores, música, o luar, e o sol que peca Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças, Nem consta que tivesse biblioteca...
Quero ver os filósofos de serviço a discorrer sobre isto...
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ResponderEliminarEntão lá vamos então tentar falar sobre o tema.
ResponderEliminarO não fazer nada, não existe pois a expressão contém uma antítese e deveria chamar-se de "fazer nada", coisa que se revela muito dificil, pois por pouco que se faça, faz-se peso à terra que se pisa, além de se lhe devorar alimentos e devolver dejectos. Só por aí já o simples facto de existir enquanto ser orgânico é já obra que baste.
O fazer nada, deve ser assim remetido ao universo de actividades às quais se chama de "trabalho". Ou seja, fazer as coisas que os outros não fazem, pois se alguém faz algo, esse algo depois de feito, feito está e mais ninguém irá fazê-lo. Pode sim fazer outra igual ou parecida, mas no delta espaço-tempo assinalado, aquele indivíduo fez aquilo e ficou feito.
Onde está o estado supremo de existência, o Nirvana?
Fazendo nada, ou tendo consciência de que já fez tudo e assim passar ao estágio de existência superior?
O paradoxo surge recorrentemente quando as pessoas atingem as idades de aposentação, onde poderiam recolher-se a esse estado de felicidade suprema e descobrem o aborrecimento de ter tanta coisa que ficou por ser feita. Ou seja, projecta-se o Nirvana para o estado de ausência: somos felizes a pensar no fim de semana que mal chega já está a acabar, o mesmo se passa com as férias que depois de tão grandes, algumas, aborrecem e levam ao pensamento: quando-é-que-começa-o-trabalho, coisa igual aos que caídos em desemprego desesperam para um emprego do qual dizem mal depois de terem alcançado. Sera o nosso Nirvana esta felicidade de conseguir gerir a infelicidade?
Lembro-me de repente de um poema de Fernando Pessoa, este génio infeliz sempre em fuga para a frente, muito à frente; o Nirvana é já ali:
Liberdade
Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
O Fernando não era só uma Pessoa
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