O que acontece é que, as mais das vezes, conhecemos as pessoas por meio de
outras pessoas que, voluntariamente ou não, nos fazem saber como sentir em
relação a elas: "fulano X é um porreiro, vais gostar dele", "sicrana Y é tão a
tua onda, vão-se dar lindamente" ou, pelo contrário, "tem cuidado com W, não é
de confiança", "Z é boa miúda mas, coitadinha, não deve nada à
inteligência".
E nós alinhamos e fazemos coincidir as primeiras impressões
reais que temos das pessoas com a imagem apriorística que nos ajudaram a
construir, porque o ser humano é bicho de consensos e se puder concordar com as
pessoas de quem decidiu gostar, bestial. E continuamos a jogar o jogo, durante
tanto tempo quanto nos for possível, apreciando qualidades onde nos disseram
havê-las, encontrando defeitos exactamente onde nos garantiram que
existiam.
Até o dia em que já não aguentamos desculpar as idiotices de quem
resolvemos que era boa pessoa porque escolhemos não pensar pela nossa própria
cabeça (às vezes, um descansozinho cai bem). Ou até ao momento em que
descobrimos que alguém de quem nunca permitimos aproximar-nos afinal é boa
gente.
É por estas e por outras que perfiro formular as minhas próprias
opiniões, consciente da formatação inerente ao facto de conhecer pessoas por
meio de outras pessoas: tendemos a aplicar àquelas o juízo de valor que temos
destas. Assim: se A namora com B e eu gosto de A, então tenho de gostar de B; se
C fez mal a D e eu aprecio D, então C deve ser uma besta - e todas as derivações
possíveis, a partir daqui.
Porque se trata de pessoas, não há linearidade. A
minha amiga A, que eu adoro, pode namorar com B, que é um anormal (e não faz mal
que eu não goste dele, não sou eu quem tem de gostar), e C tratou da saúde a D
porque D mereceu (e D pode continuar a ser um porreiro ou, pelo contrário, D, de
quem eu gostava, pode ser um perfeito idiota - há que aferi-lo absoluta e não
relativamente).
Habituemo-nos a esta falta de sentido, porque o ser humano
deve ser das coisas mais ilógicas que para aí andam.
Eu não sei se algum dia me habituarei...
ResponderEliminarA vida dos relacionamentos é como as carruagens dum comboio: embora na mesma viagem não podem ir todas junto à locomotiva
ResponderEliminarCom essa deste-me um nó...
Eliminareu em matéria de comboios já sabem, carruagem vassoura...
EliminarDepende do bilhete. Há lugares reservados...
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