abril 30, 2012

III “Estupidez de espécie”

Uma ´”espécie inteligente” é uma espécie em que os indivíduos a par dos seus interesses individuais consideram os interesses da espécie, quando não, põem os interesses da espécie acima dos seus. Numa ”espécie inteligente” os indivíduos não põem os seus interesses acima dos da espécie, nem nunca vão contra os interesses da espécie, e se algum falha, os outros caem-lhe todos em cima. No caso da nossa espécie, que não é de todo “inteligente”, os indivíduos nem percebem o que sejam os interesses da espécie. Nem sabem que isso existe. E não é agora porque temos telemóveis, e automóveis, e aviões, e satélites, e internet, e muitos livros, que nos tornamos mais “inteligentes” nem enquanto indivíduos e muito menos enquanto espécie. O Homo sapiens sapiens de hoje é igualzinho ao Homo sapiens sapiens de há dois mil anos, ou de há dez mil anos. A Natureza é muito vagarosa para a escala de tempo das nossas vidas. Ninguém pense que lá porque fomos à lua, acordamos todos mais inteligentes. Isso é um disparate. Nós acordamos todos foi mais estúpidos e mais perigosos que nunca!

Se alcançamos coisas extraordinárias, como é o caso da tecnologia, foi à conta das nossas ambições individuais somadas (e cada um a lixar o próximo à força toda!). É por isso que é o poder e o dinheiro que movem isto tudo. Sem dinheiro ou poder, sem cenoura à frente de cada animal (ou grupo de animais), o avanço tecnológico parava já. Enquanto “espécie” nunca fizemos nada de jeito… excepto unirmo-nos para lutarmos (muitas das vezes com muito sangue) contra um inimigo comum (Natureza pura). Avanços tecnológicos que favoreçam a espécie, mas não favoreçam os interesses individuais, não vão nunca para a frente. O que quer que seja que seja bom para a “espécie”, mas não favoreça o “indivíduo”, não avança. Pelas mesmas razões, em lugar nenhum do mundo se conseguem encontrar indivíduos capazes de pôr “o bem da espécie” acima do seu. Porque é contra a Natureza da nossa espécie!! O que há são alguns indivíduos (poucos) capazes de o fazer mediante um grau satisfatório de abundância. Ou seja, o que existe são alguns indivíduos (poucos) capazes de conter os limites da sua ambição. O que existe, me parece, são alguns indivíduos (poucos) com uma “inteligência de espécie” um pouco mais desenvolvida. A Natureza também está dentro de nós. Nós também somos Natureza. Como é que não conseguimos entender isto?? Não se pode ir nunca contra a Natureza, no que quer que seja! Não se pode! Tudo o que seja contra a Natureza está votado ao fracasso. A Natureza é muito forte. A Natureza é perfeita! Não temos condições mínimas para desafiar a perfeição. Isto é evidente, ou não? A única hipótese que nos resta é a da tentativa de nos juntarmos a ela.

É por isto que o capitalismo funciona muito melhor com a nossa espécie que o comunismo. E também é por isto que os modelos liberais funcionam muito melhor com a nossa espécie que os modelos socialistas. E também é por isto que as nossas “democracias” degeneram muitas vezes em “ditaduras”, tanto de forma assumida como de forma dissimulada. Se nós fossemos só um bocadinho inteligentes enquanto espécie, púnhamos isto a funcionar, dando liberdade ao indivíduo para produzir e para criar, e corrigíamos a nossa “estupidez de espécie” com leis gerais que impedissem os problemas que dela advém… as acumulações desmedidas de poder e de riqueza, a destruição massiva do planeta e o crescimento populacional desenfreado. Até que nem era assim tão difícil de fazer…

  … e quem sabe com o tempo arranjássemos maneira de inventar deste “barro” realmente um “Homem”.

8 comentários:

  1. Tu tens ideias bem interessantes.

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    1. O problema, querida, é sempre o mesmo, a vaidade extrema que nos impede de uma visão realista ao olharmo-nos ao espelho, de forma a vermos aquilo que afinal está à vista e nas barbas de todos, e que no momento pode ser comprovado por dados históricos e científicos mais do que suficientes...

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  2. A verdade é que o capitalismo etimologicamente considerado, é uma coisa boa, quando enriquecedora da comunidade. É minha a frase ( enquanto alguém não pegar nela e a chamar de sua) de que um homem rico não é o que enriquece, mas sim o que espalha a riqueza à sua volta.
    Capitalizar é acumular benesses, melhorias. Capitalizar é olhar em frente com a relativa certeza de que se vai a caminhar no bom sentido. Não há filósofos de barrriga vazia, e assim, o desenvolver do pensamento, da arte, das relações entre elementos da comunidade apenas é harmonioso e progressivo se todos comungarem de uma riqueza em maior ou menor grau. Quer os produtores, quer os "consumidores de artigos do espírito" precisam de estar libertos da pressão da sobrevivênvia. E para isso a comunidade capitaliza recursos, acumula e afasta o patamar crítico. É um bom capitalismo pois enriquece e reparte riqueza pelos elementos e assim é um comunismo primitivo e puro.
    Este capitalismo actual pelo contrário derivou para a depredação. Acumula o máximo de riqueza para o indivíduo a todo e qualquer custo, (custe o que custar....)e consegue isto com uma relativa paz social, pois conseguiu insidiosamente fazer o apelo, explicito ou subliminar, aos egoísmos individuais.
    Assim um dos chavões é o da livre iniciativa: cada um pode vir a ser multimilionário. O apelo ao mito e ao sonho: em cada um de nós há um deus, igualzinho ao deus cheio de dinheiro que nos querem obrigar a seguir, admirar e invejar. Não há outro limite do que o virtual respeito pela liberdade do outro, mas sabemos como se pode limitar e condicionar a liberdade alheia...
    Na verdade, sabemos é que Balzac tinha razão ao dizer que na base de uma grande fortuna há sempre, nalgum ponto, um crime.
    Estamos muito longe das pequenas sociedades primitivas, onde o chefe não era o mais rico, mas o mais sábio. Onde os bens do individuo o eram enquanto produto do seu trabalho sendo o trabalho do chefe dispôr deles em caso de necessidades comuns, não de- e para-, um individuo em particular, mas de,-e para-, todos já que todos participavam de todas as tarefas e a riqueza do indivíduo é uma parte da riqueza de todos.
    Nesta altura, neste preciso momento estamos à beira da maior crise de todos os tempos.
    Após a Segunda Guerra Mundial, a produção de alimentos contava com reservas estratégicas de sessenta dias.
    Há meia dúzia de anos esta reserva havia recuado para pouco mais que uma semana, e actualmente estamos a consumir o que se produz praticamente sem reservas. Basta uma crise ambiental, umas chuvas a mais ou a menos para de imediato a escassez se reproduzir sobre o preço, quando antes o preço gozava de uma estabilidade derivada da capitalização dos recursos alimentares. Não havendo quase reservas estratéticas, o preço tem vindo a subir, na lógica da oferta e da procura. Este facto é sabido e cuidadosamente ocultado. O alarme social com o assambarcamento e/ ou pilhagens é muito fácil de espoletar.
    A maior ameaça, a fome está aí, e ela é um dos cavaleiros do apocalipse. A ansia de enriquecer a todos o custo, custe o que custar, levou às economias ao paradigma do crescimento constante num planeta finito, e conduzio esta bola ao ponto de já não conseguir produzir alimentos para todos os seres humanos. Tudo valeu, mesmo o comprometer do futuro, desde que desse muito dnheiro hoje, já! A ilusão de que o amanhã não existe mau se o presente é tão bom...
    Crescemos demais, somos demais para esta barcaça. Seria bom os homens que mandam neste mundo ir visitar a ilha da páscoa e durante uma semana se inteirarem do que aconteceu aos Rapanuis. Somos agora todos, Rapanuis numa ilha verde e ainda bela, muito mais bela do que o verde de qualquer saco plástico cheio de notas da mesma cor, e tal como aqui ao lado está em destaque num post, quando já não houver nada para comer, descobriremos este logro suicida que se revela no facto de que o dinheiro não serve para comer.

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    1. Na minha opinião, chegámos a maus resultados, porque partimos de pressupostos errados, e para muito breve chegaremos aos péssimos resultados. A ilha da Páscoa é um bom exemplo, porque exactamente o que pode haver de novo na forma de perspectivar o problema é o facto de termos passado dos sistemas abertos para um sistema fechado. A nossa natureza e o nosso comportamento animal (irracional) serão agora (e num futuro muito próximo) mais evidentes que nunca, embora nisso não haja novidade nenhuma. Novidade seria que tentássemos evitar a catástrofe servindo-nos da "inteligência"... um cenário que aparenta ser muito pouco realista... mais provável será acabarmos na luta corpo a corpo por um naco de pão e às pazadas de valas comuns sem que por um segundo abandonemos a certeza da nossa "racionalidade".

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    2. ... e sempre cheios de ideias para "um futuro melhor" apenas possível se fossemos feitos do "barro" dos golfinhos ou do das baleias... e possivelmente não chegaremos sequer a concluir a respeito de "um futuro melhor" partindo, não de utopias, mas dos "materiais" que realmente temos à nossa disposição...

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    3. Ainda agora, os espertos donos dos hipers, deram mais um golpe na (pouca) inteligência alheia ao dar aos clientes neste feriado 1 de Maio,- conquistado à custa da morte das mártires de Chicago queimadas vivas, as quais "apenas" reinvindicavam o direito a oito horas de trabalho-, descontos substanciais.
      Que é como quem diz a cada um dos compradores: "não te importes com os outros, importa-te só contigo, e eu é que sou bom que te dou um belo desconto na factura final, não ontem, não amanhã ou depois, mas hoje, que é dia 1 de Maio. Ou seja, nada vale coisa alguma, a não ser a bolota em frente ao olhar do porco. Assim somos nós, estúpidos e egoistas.

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    4. Razão me dás quanto a concluir que a investir alguns neurónios nesta "causa" (perdida), mais valerá fazê-lo em torno da qualidade da "bolota" e da natureza do "cercado", porque, quanto ao "porco", o melhor que se poderá fazer é justamente apresentar-lhe um espelho para que se aperceba e lembre que muito antes de ser "Homem", não vai além de "porco"... algo que talvez o faça "meditar"... ou "pensar"...

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    5. ... um "porco inteligente", mas ainda assim, apenas um "porco"...

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