abril 28, 2012

«O novo surto de emigração» - Jaime Ramos

Não só não atraímos imigrantes como estamos a aumentar a saída de naturais. De 1998 a 2008, 697.963 portugueses foram para o estrangeiro. Desde 2000 o número anual de novos emigrantes tem vindo a crescer. Em 2007 e 2008 foram mais de cem mil por ano. Os cinco maiores destinos foram por ordem decrescente Suíça, Espanha, Alemanha, Angola e Reino Unido.
Este aumento da emigração é mais um contributo para a descida do número de residentes, baixa natalidade e envelhecimento da população. Provoca também uma baixa do PIB embora tenha um efeito positivo sobre a balança externa.
A redução do número de pessoas residentes em Portugal permite uma redução da despesa com as importações. Somos menos a comer, logo gastamos menos. O aumento das transferências graças aos novos emigrantes irá melhorar o défice externo, pois entram nas contas nacionais aumentando a receita.
Perante o deficit da balança externa, decorrente fundamentalmente do facto de termos mais importações que exportações, há duas soluções simples e evidentes.
Uma, reduzir os salários em 20 ou 30% como foi defendido por alguns economistas internacionais e alguns tolos nacionais. A redução dos salários imporia uma diminuição brusca do consumo pois as pessoas e as famílias só poderão adquirir o que é mesmo essencial. O corte nos consumos supérfluos, devido à descida dos salários, provocaria uma descida drástica no PIB e um aumento brusco no desemprego.
A subida generalizada do desemprego e a baixa no poder de compra originariam uma forte convulsão social e aumentariam a disponibilidade para os portugueses emigrarem.
Este aumento da emigração reduziria ainda mais o PIB e o número de postos de trabalho, provocando uma imediata e longa recessão económica. Teria efeito positivo na importação de moeda, pelo aumento das transferências por parte dos trabalhadores no estrangeiro, reduzindo a necessidade de importações, favorecendo a recuperação do défice externo.
Uma redução da população, seja provocada pelo envelhecimento e pela não reposição por baixa natalidade, seja originada pelo êxodo devido ao aumento da emigração, provocará sempre redução do PIB, empobrecimento do país e melhoria compensadora das contas externas.
Desde há quinze anos que em vários artigos, entrevistas e declarações públicas, fui alertando para o facto de Portugal correr o risco de se “Alentejenizar”. O Alentejo, sendo um território português que sempre beneficiou da mesma moeda, foi perdendo população e possibilidade de criar riqueza. Nas últimas décadas também todo o interior centro e norte sofreu o êxodo populacional, envelhecimento e empobrecimento regional. Nos EUA há estados centrais, possuidores das grandes pradarias, historicamente fortes na agricultura de gado e cereais, que se têm despovoado.
Portugal ao aderir ao euro e melhorar o seu contexto no espaço europeu não garantiu o seu desenvolvimento e enriquecimento, ao contrário do que pensou a larga maioria de portugueses e alguns reputados economistas. Portugal pode, se não cuidarmos do território e dos nossos interesses nacionais, comportar-se na Europa como estas regiões ( Alentejo, interior norte e centro, estados do interior dos EUA) que continuam a empobrecer e a despovoar-se.
Mesmo sem a redução salarial, a divergência arrastada da nossa economia relativamente ao crescimento médio europeu, provocará um aumento da emigração e perda da população, embora de forma mais lenta. Nos últimos anos esta evolução começou a ser evidente.
Numa primeira fase deixámos de atrair imigrantes, nomeadamente do Leste, ao contrário do que acontecera no final da década de noventa e início de 2000. Nessa época, todo o país foi invadido por imigrantes, facto que se deixou de verificar à medida que a nossa divergência de crescimento se veio a sedimentar.
Numa segunda fase passámos novamente a ver crescer a nossa emigração, devido à falta de emprego razoavelmente remunerado no nosso país.
Portugal tem história de emigração, tem tradição, tem comunidades espalhadas pelo mundo que são porta de entrada para a América e Europa, temos países de expressão portuguesa, como o Brasil e Angola, cujas economias vão crescer pelo que, a manter-se a crise nacional, a consequência vai ser uma aceleração da emigração.
De imediato nada podemos fazer para a contrariar e podemos afirmar que é um dado positivo pela melhoria que permite na nossa balança externa, diferença entre o total de entrada de moeda pelas exportações, turismo e transferências de fundos europeus e dos emigrantes, e o total da saída de moeda para pagar as importações, adicionadas ao pagamento de capital e juros da dívida do Estado e da banca (intermediária da dívida das empresas e famílias) ao estrangeiro.
Perante esta evidência, uma hipótese é nada fazer, mantendo a realidade económica e social do país, continuando o nosso empobrecimento relativo, tal como vem a acontecer há cerca de 15 anos.

Jaime Ramos
Excerto do livro «Não basta mudar as moscas»

12 comentários:

  1. Há políticos vazios de ideias e quando mudam alguma coisa nem pensam nos prejuízos que causam.
    Alterar nomes de instituições e apenas se gasta em papel pois tudo fica na mesma ou ainda pior.

    Outras vezes mudam só para criar os tachos para os amigos. Agora voltam ao antigamente...

    Como mudaram as politicas da agricultura as pessoas deixaram de produzir. Não é preciso subsidiar mas apoiar e motivar as pessoas.

    Os que entram ainda são mais pobres que os residentes e se os residentes emigram é só porque aqui lhes fecham todas as portas.

    Todos os dias batem nos funcionários públicos. Até pensei que não existiam mais esses seres que se dedicavam à administração central - Finanças, hospitais, tribunal, escolas....

    Afinal quem é que rouba a quem e o quê...???
    O dinheiro entra e vai para alguns bolsos... e nada muda...

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  2. Isso de mudar nomes não é só dos políticos. Há empresas (incluindo públicas) que fazem disso o desporto favorito.

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  3. O maior atentado que esta gente faz é precisamente à inteligência média das pessoas. Repetem as mesmas mentiras até à exaustão, até as pessoas a começarem a aceitar como verdade.
    Como esta mentira de termos vivido acima das nossas possibilidades. Ou esta outra, que dá imenso jeito aos que se querem apropriar dos bens e meios de produção, e que consiste nesta coisa inacreditável de que temos de empobrecer para ficarmos melhor!!!
    E nesta esteira, tudo entregem a mão alheias, esperando que os que passaram a ser donos das nossas coisas, invistam em nós.
    Nâo entendo se são mentecaptos, ou corruptos, ou mais leve, ingénuos, mas por mim que já vivi mais do que quase todos eles, digo que podem esperar sentados, que-o-pai-já-vai.....
    Não é nunca por demais dizer a estes meninos, tontinhos e tolos, como diz o Jaime, que NÃO TEMOS MANEIRA DE UTILIZAR O MECANÍSMO DA MOEDA PARA ACERTAR A COMPETETIVIDADE DA NOSSA ECONOMIA. A única saída eram as empresas estratégicas que jamais poderiam sair da nossa esfera de decisão. Coisas como energia, combustíveis, transportes, são de tal forma determinantes que basta mexer um pouco em qualquer delas para ter um tremendo efeito multiplicador sobre todo resto do tecido produtivo.
    Mas estes meninos, tontinhos e palermas, nunca foram à feira ver os gajos a jogar à vermelhinha, onde debaixo de três copos, ninguém acerta na cor da bolinha...

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    1. Adivinhaste!!!
      Só podes ser uma das gajas das barracas das feiras :DDD

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    2. Não digas nada que a malta do Bairro Norton de Matos escreveu uma peça de teatro em que eu sou "a vidente de Caria". E querem levar aquilo à cena...

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    3. Acho que és mais uma evidente do Cara.... isso mesmo

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    4. A minha bola de cristal diz-me que sabe a palavra completa...

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  4. Como se não bastassem já todas as limitações, estamos a ser governados por um grupo de idiotas (com inteligência abaixo da média). O que não deixa de ser um reflexo da nossa máxima estupidez.

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    1. Vai tudo saltar fora da barcaça. Só cá fica a "palha".

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    2. É verdade, Asinhas de lua.
      Se isto é o que nos representa, somos mesmo muito fraquitos... :S

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    3. É uma pena... Foi uma distracção do Criador... Em vez de nos ter feito do "barro" dos golfinhos, enganou-se, e meteu a mão no "barro" das ratazanas... e a inteligência (ou a falta dela) é a cereja em cima do bolo...

      ("Asinhas de lua"... é bonito... ao menos de vez em quando no meio desta entulheira sempre há uma flor...)

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