abril 22, 2012

A posta que no mínimo faço umas cábulas...


Era um casal desavindo e um dia discutiram e o marido atirou a matar, porque lhe acertou no pescoço, mas falhou a intenção e acabou numa prisão por oito anos que já cumpriu.
A pena dela pelo desacerto na escolha de companheiro foi outro tipo de prisão, uma cadeira de rodas, mas para a vida inteira.

Agora ela, a vítima, encontra-se completamente à mercê do agressor e de um seu eventual milagre da regeneração ética e da reinserção social que, surpresa, nunca pagou a indemnização estipulada pelo tribunal.
Agora ela, a vítima, anda a recolher donativos para uma cadeira de rodas eléctrica enquanto o advogado residente do programa explica como ela poderia e deveria reclamar isto mais aquilo a que tem direito pela Justiça, logo a seguir à explicação detalhada da impotência do sistema para proteger as vítimas sem existirem indícios claros da ameaça.
Ou seja, sem acontecer o pior.

E então ela, a vítima, ali esteve, num programa da manhã da RTP1, a tentar o trampolim mediático para a generosidade de sofá, obrigada a assistir à aprendizagem dos outros, ingénuos, acerca da vulnerabilidade absoluta a que o Estado, a Justiça, nós todos, condenamos quem tenha a desdita de vestir a pele do agredido e não a do agressor.

A mim calhou ver a coisa assim de raspão.
E recuso-me a interiorizar essa lição.

17 comentários:

  1. Foi uma das razões pelas quais acabei com a televisão. Prefiro não saber. Embora volta e meia seja obrigada a tomar conhecimento na pele. Vá lá que com muita sorte no meu caso não foi muito grave, foi mesmo só a saúde toda lixada, a vida pessoal virada ao contrário, a vida profissional também, e a conta bancária nos zeros. Nem correu assim muito mal. Se tivesse acabado na morgue ou com uma deformação física grave era bastante pior. Claro que devia processa-los e tal... o que me aconteceu foi absolutamente bizarro... com um dossier inteiro de "provas"... Mas, no fim, nem sequer vou apresentar queixas. O meu concidadão que me perdoe por deixar andar por ali à solta aqueles tipos, entre os quais um que anda a matar pessoas à vontade umas a trás das outras... Lamento. Não está ao alcance impedi-lo. E em "tentativas" não vale a pena estar a perder o escasso tempo de vida que me resta... e também não tenho dinheiro para isso...

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    1. E é assim que eles escapam...

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    2. O problema é que não se trata apenas de ir à caça de "um"... Senão, se tudo o mais falhasse, até que se arranjava uma caçadeira... Mas como não é assim, nem de longe nem de perto, mais vale investir tempo e energia em manobras de "escala"...

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  2. Pois eu acho que o estar parado dá o sinal da impunidade. O fazer nada é igual dar ao prevaricador o estatuto de estar um grau acima dos outros.
    Para começar, a Libelita, não sei o que lhe passou, só sei que não esteve nada bem.
    Mas, como dizia, para começar, que tal pedir o livro de reclamações???
    Só para começar. E depois há coisas que são designados crimes públicos que nem precisam de queixa privada, basta dar conhecimento para que de alguma forma a máquina comece a mexer. A gente sabe que ela está cheia de ferrugem e vícios, mas se não a forçarmos fica cada vez mais enferrujada.
    Também acho que expor as entranhas e as misérias em programas de TV, é uma fórmula monstruosa de conseguir audiências. Mas tem tido ao menos o condão de ter levado à solução de alguns problemas e injustiças que se arrastavam. É uma tristeza que tenha de haver peixeirada nas tv's para que alguém com poder em algum ponto da máquina lhe dê o andamento necessário, mas se não houver outro processo...... :S(

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    1. Eu compreendo a Libelita, Charlie. Já passei pelo mesmo, quando tive que pesar o tempo e dinheiro que iria gastar, juntamente com as chatices que iria ter, num prato da balança...

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    2. Eram precisas várias vidas... e eu não sei se, mesmo que tivesse sete, estaria disposta a desperdiçar alguma em pólvora seca...

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    3. ... prefiro atacar a chumbo grosso... :O)

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  3. No caso concreto a que aludo no post a coisa vai mais longe do que a impotência perante as dificuldades inerentes a qualquer processo ligado à Justiça, já de si inibidor do bom funcionamento do Estado de Direito. A somar a essa barreira burocrática e atulhada de procedimentos vem o completo abandono do queixoso à sua sorte contra eventuais represálias.
    É aí que entramos no domínio da lei da selva e a justiça pelas próprias mãos surge no horizonte com maior nitidez...

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    1. Ai, Shark, se eu te contasse os casos em que eu já sofri ameaças por causa de me "armar em valente"...

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    2. Acho que estás a usar de termos muito eufemísticos... "Inibidor do bom funcionamento do Estado de Direito"? Qual "bom funcionamento"? Qual "Estado de Direito"? Algum dia isto foi um "Estado de Direito"? Algum dia houve justiça? Quanto mais igual para todos? E da forma como o dizes até dá ideia de que no futuro entraremos na "lei da selva"... No futuro?

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    3. Pois...
      O que vocês diriam - e fariam - se ouvissem um advogado dizer a alguém "deixe o processo seguir até ao Supremo [Tribunal de Justiça] que temos lá forma de o ganhar"?

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    4. vá prá (pi) que o (pi)?
      (assim de repente foi o que me ocorreu...)

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    5. Não era uma conversa comigo. Os intervenientes não se aperceberam que eu estava próximo do gabinete... com a porta aberta.

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  4. A falência do Estado de Direito..

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    1. Eu nunca reconheci que estivéssemos num Estado de Direito. E aquela conversa de que falo ali em cima ocorreu algures em 1987...

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  5. Pois...
    Lá diz o velho ditado: mais vale um mau acordo do que um bom pleito, mas atenção; um mau acordo não significa acordo algum.

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    1. E se eu te disser que, desde 1990, altura em que tive uma experiência muito negativa com um pseudo-gestor, advogados e tribunais, jurei que nunca iria recorrer a tribunais para resolver fosse o que fosse? Se tiver que ir, que seja por iniciativa da "outra parte".

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