outubro 23, 2012

A posta que está na hora de intervir


Sim, há dias em que a vontade que dá é deixar andar, deixar correr e ficar parado a ver o que acontece e entretanto torcer por milagres ou profetizar um apocalipse em lume brando.
Mas os dias têm o problema de passarem, uns atrás dos outros, e o tempo que passa é tempo desperdiçado quando os problemas teimam em não se resolverem por si. E alguns são como infecções.
E há dias em que a vontade que dá é mesmo a de não deixar gangrenar.

O país já começou a despertar para a necessidade de um antídoto para este veneno que nos consome as contas públicas ou privadas, para esta lenta agonia que destrói sonhos, ambições, vidas que tínhamos planeado com base em pressupostos que deixaram de se verificar e agora há portuguesas e portugueses a padecerem de males que julgávamos impossíveis, falência sistemática de empresas e de cidadãos, desemprego, emigração em massa, despejos a toda a hora e a fome (a fome!!!) a romper o véu do segredo quando as pessoas, enfraquecidas, já nem conseguem esconder a miséria da sua condição.
É essa a situação que enfrentamos, todos sem excepção, a cada dia que passa, a cada dia que nos ameaça com um medo qualquer.

Depressa percebemos a futilidade dos discursos por parte de quem nos lidera ou de quem parece melhor colocado para a sucessão, a vacuidade das palavras que denuncia a ausência de soluções. Basta prestar um pouco de atenção, apenas a necessária para entender o quanto temos a perder se em cada dia que passa nos permitirmos cruzar os braços e esperar que o dia seguinte nos sirva de bandeja uma reviravolta nas circunstâncias, embalados na mesma apatia que tantos povos já tramou e muitos ainda acabará por tramar.
Depressa percebemos que não basta esperar, à sombra de uma esperança sem alicerces e que a brisa dos factos desmorona a cada dia que passa sem o empenho estender a mão à vontade de mudança para que esta possa acontecer.

Está na hora de mudar, a crise confirma esse facto inegável. E não basta olhar para as alternativas como um conjunto de variações de cinzento e acabar por escolher a que estiver mais à mão: é necessário o passo seguinte de aperfeiçoamento da Democracia, a sua reconversão à medida destes dias em que só a participação activa dos cidadãos poderá efectivar, nas ruas, como nas redes sociais, como nas urnas, com a urgência que se impõe.

3 comentários:

  1. Eu acho que deve passar também por uma maior capacidade de cada cidadão (poder) exigir clarificações. Um regresso à Ágora

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  2. Eu também acho que as ruas são apenas uma forma de descargar tensões acumuladas mas que pouco resolvem. Na verdade, os governantes podem sentir as pressões das populações e decidir ou não algumas inflexões. Podem até jogar na antecipação e publicitar subidas brutais de impostos e outras medidas, na intenção de recuar depois um pouco atingindo assim o objectivo inicialmente previsto. Algo tipo negócio de feira: pede-se cem a pensar vender por dez, se conseguir doze, óptimo, se conseguir oito é mau, mas talvez ainda melhor do que se vendesse por cinco. Seja como fôr, a rua apenas consegue moderar um pouco a lógica deste regateio e os governantes acabam por conseguir impôr os aumentos os quais por moderados, ficam contabilizados como vitórias da parte dos que protestaram contra eles.
    Nada disto leva a lado algum pois os governantes estão enfeudados às suas lógicas doutrinárias e tal como as bestas com as palas entre-olhos, só vêem a palha que lhes põem em frente aos olhos.
    Do que precisamos de facto é canalizar a energia das manifestações para uma efectiva mudança pois este caminho não vai a caminho do desastre, é o próprio desastre. Se fosse possivel multiplicar o tempo por mil e fizéssemos um filmezinho veriamos o que agora estamos a viver em câmara lenta: um tremendo estatelar da sociedade portuguesa e o seu desfazer em mil cacos.
    Nada vai ficar de pé e a parte da ideia é mesmo essa. À boleia da crise desmantela-se o estado social para que o modelo neo-liberal tenha margem, ou seja, a construção de uma sociedade não inclusiva, o regresso às cidades muradas, como já se vê nos condomínios fechados onde quem tem dinheiro vive numa ilha de felicidade a que a sociedade de modo geral não tem acesso.
    É a negação da Polis e da Ágora e por extensão a negação do Homem, por parte dos que se julgam Adonis nos seus Olimpos.

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  3. Eu acho que nem cacos vai dar. "Pó, cinzas e nada"...

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