outubro 16, 2012

A posta sem paninhos quentes


Os filmes e documentários acerca da II Guerra Mundial e do terceiro reich divulgaram alguns arquétipos das figuras sinistras que o nazismo produziu.
Uma das que primam pelo realismo é a da típica guarda-prisional alemã, sempre uma personagem repelente, autoritária, fria, desumana, capaz de abusar do seu poder sem qualquer espécie de escrúpulo com base na eterna desculpa das ordens para cumprir. É um clássico, de resto profusamente ilustrado e documentado para podermos identificar o tipo de gente que não queremos voltar a ter perto de qualquer tipo de poder, de qualquer ascendente sobre seja quem for.
Esse cliché do autómato humano, de uma criatura isenta de emoções perante a exigência de cumprir uma lei, uma norma ou apenas uma teimosia pessoal, não é uma caricatura.
A falta de escrúpulos das guardas-prisionais da Waffen SS e derivados não é um exclusivo de outro tempo e de outro país. A crueldade também não.
A prova está AQUI.

É difícil reprimir o apelo ao insulto perante este tipo de casos que provam existir mais do que uma espécie humana, a que possui algum mecanismo de protecção contra a desumanização e a outra.
Essa outra, que inclui crápulas das mais variadas proveniências, só varia na dimensão da sua repugnante interpretação da existência (a sua e a dos outros) e em função das circunstâncias, da conjuntura em que se podem permitir libertar a besta interior. Vão tão longe quanto mais solta a rédea e maior a fragilidade daqueles que possam dominar de alguma forma.
São pessoas sem um entendimento dos limites do razoável, sobretudo quando nos pratos da mesma balança estão os seus interesses pessoais e os das vítimas potenciais de consciências equivalentes às de um predador faminto.

Obrigar uma criança com fome a assistir à refeição de outras crianças com base numa dívida de 30€ contraída pelos pais em plena crise financeira é um crime contra a humanidade e, no meu entender de leigo, deveria implicar uma pena de prisão efectiva a somar à exoneração definitiva em matéria de funções ligadas aos mais jovens ou a seres humanos menos capacitados para se defenderem dos/as canalhas capazes de coisas assim.
É nojento, é imperdoável, não tem justificação possível e deve constituir-se exemplo de punição severa como aviso à navegação para outros répteis quanto à capacidade de reacção da sociedade a estas aberrações.

Se não levarmos a sério estes fenómenos de crueldade latente e os expurgarmos de alguma forma, quanto mais a crise nos debilitar mais esta gente sem princípios ou emoções nos poderá ter, qualquer um de nós ou os nossos filhos, nem que por um infeliz acaso do destino, à sua mercê.

4 comentários:

  1. Esta situação parece que está associada às políticas de autoritarismo cego e desumano.
    Existiu na Alemanha com o nazismo e em Portugal com o Salazarismo, na Espanha com o Franquismo.
    Essas figuras desumanas surgem do nada. Pessoas que apenas querem subir na carreira e se entregam a uma ideologia cega e prepotente.
    Esperamos que esses tempos não voltem mais.

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  2. Não podem voltar mais. Nunca mais.

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  3. E não ter ficado no canto, de castigo...

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  4. Uma das coisas que mais me fez pensar, foi a de ver nesses filmes, como os carrascos imperturbáveis perante o sofrimento alheio, eram doces e sensíveis criaturas em suas casas junto aos seus filhos. Em como ouviam peças de música nos seus lares, muitas vezes tocadas por aqueles que no dia seguinte iriam ser executados. Esta despersonalização do "outro" é algo perturbante. O "outro" deixa de ser gente, é apenas um assunto profissional.
    Temos de facto isso junto a nós. Desde as punições inconcebíveis de que o texto dá conta, até aos governantes que se afastam da realidade, tudo isso pertence ao campo paranoico da despersonalização, da incapacidade patológica de sentir o sofrimento alheio como algo mau.

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