- Eh, pá! Há quanto tempo!
- Xi, pois é! Então, que tens feito?
...
- Olha, casei, tenho dois miúdos.
- A sério? Eu tenho uma rapariga. Como se chamam os teus rapazes?
- Sonasol e Sunlight!
- Sério? Bem... a minha filha chama-se Maria...
- Ahahahah! Tem nome de bolacha!
E a que propósito vem isto, esta anedota que bom amigo me remeteu, recentemente? Pois, tenho para mim que isto anda tudo ligado. Por exemplo: como é disso bom exemplo aquele pai do Sonasol e do Sunlight, a percepção da realidade de que cada um de nós dispõe, sedimentada em segundos, minutos, horas, dias, meses e anos da vida ou da vidinha, leva-nos a reagir de um modo ou de outro, consoante essa constante aprendizagem, interagindo diferentemente com o nosso interlocutor de acordo com o que trazemos gravado na matriz original.
Ora isto, que aparenta não ser mais do que um extraordinário lugar-comum - e que o é, de facto -, traz, se virmos bem, muita água no bico. Porque ele há a nossa incontornável capacidade de disfarce, associada a doses maiores ou menores de manhosice, consoante o nível de stress a que se está sujeito, o que, por sua vez, anda associado e dependente de muita coisa, desde a conta bancária ao preço do leite, passando por tudo quanto é inquietação mais ou menos transcendental das esquinas da vidinha.
Veja-se o caso do nosso actual primeiro ministro que, na exacta medida em que a marcha inexorável do tempo lhe descontrola a arrumação pré-feita dos neurónios, tende a desconchavar-se em meandros linguísticos que lhe destapam a careca, já de si rarefeita.
Não se lhe estranhem, pois, o episódio dos «piegas» e menos, ainda, o desabafo de que «agora, não é a altura para pensarmos em tradições».
Tudo pela óbvia razão da contradição patente nos próprios termos: ser-se piegas é uma tradição nacional. E chamo-lhe contradição, mas poderia rotulá-la de esquizofrenia, que até era mais contundente.
Não fora essa metafísica pieguice e onde iria parar o fado, património imaterial, ou tantos desabafos proferidos pelos próprios elementos do elenco governamental? Pior: não fora a corriqueira pieguice e para onde iriam parar os «bancos alimentares»? E as Misericórdias? E os escuteiros? E o voluntariado? E…
Se seguirmos, então, acriticamente estes maus conselhos do nosso primeiro que o enfastiamento lhe provoca, ainda nos havemos de ver, vestidos de formiga, a verberar a pobre da cigarra, transida de fome e de frio no inverno do seu descontentamento, com o dedo em riste, censório e acusatório: «- Cantaste? Pois dança, agora!».
Se este conceito ainda fosse extensivo ao BPN, a quem os sucessivos governos do centrão vão cobrindo mazelas à força dos nossos euros, ainda vá que não vá. Agora, assim…
O que me traz ao fim destas reflexões dispersas e algo desconexas: o que mais me perturba, então, nestes senhores que parecem não saber o que dizem, em certos momentos, é o receio de que estes deslizes, que os latinistas da psicanálise chamariam de lapsi linguae, possam, afinal, esconder (revelando) um fundo pouco ou nada consistente de humanidades, coladas com a saliva das circunstâncias… e nada mais.
Porque lá diz o povo que quem não quer ser lobo, que não lhe vista a pele. Mas que dizer dos disfarces de carneiro?
Ai, valham-nos, então, as tradições, mesmo as mais piegas!
Já para não falar do Piegas Moniz!
ResponderEliminarJá não há pachorra para as investidas tontas do Passos e do Relvas.
ResponderEliminarDo Gaspar, não sei se por ter nome de rei mago, nem o levo a sério, apesar de tão sério ser o seu ministério.
Estes dois figurões da tontice e tão contra as tradições, não deverão comer a boa e tradicional cozinha mediterrânea, pois então. Saudável e promotora da longividade.
Já se sabe -e que bem se nota- o mal que as comidas modernas, pouco tradicionais, e cheias de o "castrol" faz às artérias; entopem tudo e já só saiem palpites com sabor de Al, o alemão, o Mein herr Zheimer.
Não se deve observar o Carnaval?
E já agora nenhum dia de férias, nem Sábados nem Domingos, nem horas de almoço, nem as horinhas para dormir, nem nada dessas coisas que só atrapalham a produtividade, como estar doente, ou engravidar. Tudo coisas que acontecem por tradição a pessoas normais que apenas querem da vida o gozo de poder vive-la.
Por eles, haveria um regresso à escravatura... desde que para eles salvaguardassem que não seriam os escravos.
EliminarÉ isso e as privatizações a martelo. Constou-me até que o posto da GNR de Armação de Pêra, no Algarve, está sob vigilância da Prosegur...! É extraordinário! Com a nossa beatífica complacência estamos a atingir níveis de nonsense a que nem os Monty Pythton aspirariam.
EliminarMas isso são privatizações... seguras :O)
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