fevereiro 03, 2012

«O desastre da educação» - por Luís Cabral

Texto publicado no «Expresso - Economia» de 28/1/2012 e disponível no blog do autor:

"O valor de uma economia é o valor do seu capital humano. Por isso o sistema educativo é tão importante. Por isso o estado lastimoso da economia portuguesa tem muito a ver como o estado lastimoso da educação.
Não faltam “culpados” para este desastre: uns dizem que o problema é o “eduquês”, outros que são os professores, ou o sindicato dos professores, ou o ministério, ou o clima, ou a água da torneira, ou sei lá o quê.
Não nego que sejam causas importantes, mas o principal culpado pelo desastre da educação em Portugal é: Você. Sim, refiro-me a Você, encarregado de educação, que passa a vida culpando os outros em vez de aceitar que o fracasso do processo educativo começa em casa. Os principais responsáveis pela educação não são os professores mas sim os próprios pais. É claro que são os professores que dão as aulas, que sabem ensinar Português e Matemática, História e Geografia. Mas todo este esforço vale pouco ou nada se não começa num ambiente familiar que dá valor ao esforço e à disciplina que uma boa educação exige.
A única desculpa que vejo para os nossos encarregados de educação é que estamos perante uma questão “cultural”. A mentalidade do “desenrasque” e do “chico esperto” também se manifesta na escola: um gaba-se do seu “novo” método de “copianço” como se tratasse de uma conquista amorosa; outro orgulha-se por ter passado a cadeira “sem estudar praticamente nada”; e o aluno mais “cool” é o que se lembra de mais “partidas” durante as aulas.
Mas o pior não é tanto a atitude dos adolescentes como a reação dos adultos: o sorriso que traduz uma certa nostalgia (“ah, se soubesses o que eu fazia quando tinha a tua idade”); o piscar de olho que manifesta aprovação (“assim é que é!”); ou simplesmente a indiferença.
O “melting pot” que são os Estados Unidos serve como teste da minha teoria, que pode não ser “politicamente correcta” mas é simplesmente correcta: as etnias com melhor prestação escolar (os judeus, os coreanos, os vietnamitas, etc.) são as que têm culturas familiares que valorizam a educação. Talvez os genes contem alguma coisa, mas neste caso o ambiente claramente se sobrepõe aos cromossomas: “nurture” vence “nature”.
Não é o ministro da educação nem o ministério da educação que resolverá o problema; nem as reformas curriculares dos teóricos da educação; nem os professores nem o sindicato dos professores; nem as escolas públicas nem as escolas privadas. A melhoria da educação em Portugal começa e continua com Você, encarregado de educação. Como? Evitando a mentalidade “outsourcing” da educação (“a escola que trate disso, é para isso que pago impostos e propinas”); exigindo esforço do filho (embora seja muito mais fácil ser o “pai popular” do que o “pai exigente”); e exigindo resultados da escola (neste sentido a maior concorrência entre escolas é uma das medidas positivas deste governo).
Estamos perante uma reforma que demora pelos menos uma geração. Estamos assim mais do que 25 anos atrasados, pelo que temos de começar quanto antes. O objectivo é monumental mas acessível: mudar a atitude perante o esforço do estudo, filho a filho."

Luís Cabral
Blog «Economics and art»

2 comentários:

  1. E assim somos educados ou mal educados a cumprir mo-nos como ganhadores de dinheiro, quer seja a produzir utilidades ou inutilidades para trocarmos com as (in)utilidades dos outros, quer seja a vender droga, no pior caso, ou o corpinho, que alguns acham ser caso melhor.

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    1. Que triste sina ser assim... que sorte vil, degradante...

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