Depois de me ter deliciado, atemorizado, atrapalhado e embasbacado perante a entrevista deliciosa, atemorizadora, trapalhona e basbaque com que, ontem mesmo, Paul Krugman, eminentíssimo economista americano, nos brindou, deixei-me resvalar no sofá das grandes ocasiões e dei comigo a matutar sobre as transcendências inacessíveis e muito para além de iniciáticas da Nova Economia e de como já é chegado o tempo de ser fundada uma nova religião.
Religião panteísta, obviamente, com incontáveis deuses e não menos inumeráveis apóstolos, seitas que avonde, pitonisas, oráculos e seguidores à fartazana…
Ouve-se, então, tão eminente sapiência, com tantos laivos de democrata à americana – que é uma espécie de coisa que não se sabe bem o que é…. - vestindo um ar compungido a falar, reticente, da eventualidade de baixar remunerações, a bem da competitividade das empresas portuguesas em relação à dos «estados fortes» da Europa, como condição de sobrevivência.
E não se lhe ouve uma palavra, uminha, sobre os custos de produção, como energias, combustíveis, impostos, burocracias várias que deixam as empresas portuguesas a perder de vista, pelo lado mais negativo e sombrio, em relação às suas congéneres europeias. Ora, assim, também eu...
E quase, quase nem uma palavra relativamente à exploração desenfreada desse manancial inesgotável de mão-de-obra dos países chamados emergentes, como China ou Índia, como elemento determinante para criar algum equilíbrio no tal mundo globalizado, onde perante tais fossos abissais de desigualdade – e enquanto eles se mantiverem – não é possível criar o que quer que seja em termos de ordem mundial regulada… e razoável, racional, etc..
Ouvem-se, então, perante, as «inevitabilidades» do abismo e até da previsão de novos conflitos à escala mundial, as sugestões mais inconcebíveis, ainda que haja logo, também, o despudor de se afirmar que, afinal, cada sugestão avançada poderá não servir para nada, tal o nível de dependência de um país como Portugal destes enormes, gigantescos e avassaladores centros de decisão que regulam o mundo.
Perante isto, dei por mim a considerar-me capaz, também, de mandar com as minhas achegas a este muro de lamentações. Assim como assim, opinar é próprio do homem. Então, cá vai:
- ao nível externo e a médio prazo, como política de «um dia eu deito a casa abaixo», Portugal apenas tem de preconizar a sua saída do euro, como meio de abalar as estruturas hipócritas da Europa mai-los mercados. Mas não tem de regressar ao escudo, obrigatoriamente, não senhor. Pode tentar o yuan, que me parece muito mais promissor e agressivo, assumindo-nos como testa de ferro dos interesses chineses na Europa e no mundo.
Pelo caminho, pode tentar aliciar para a mesma atitude países como a Grécia, a Irlanda, a Espanha, a Itália, mandando às urtigas esta «ocidentalidade» manhosa e anquilosada em que nos atascamos e partir para outra vida;
- ao nível interno e no curto prazo, como meio radical para equilibrar o défice orçamental e em vez de se andar com mariquices e pieguices carnavalescas de acabar com feriados e outras minudências do estilo, se eu fosse governo instituiria a criação de mais dois meses por ano – poderiam ser o Coelheiro e o Relvembro – e a produtividade nacional anual comparada iria subir por aí fora, que nem vos passa pela cabeça.
Depois, bastava acertar o calendário pelo resto do mundo para aí de seis em seis anos – o que nem me parece um ciclo demasiado longo - … e estava a coisa resolvida.
Afinal, no meio de tanta estupidez proferida por tantas eminências, porque não hei-de ter eu, também, direito à minha? Se não, que raio de democracia é esta…?