O Expresso trouxe-nos, neste fim de semana, o preclaro documento de quarenta e sete insuspeitas (algumas nem tanto e outras nem por isso…) individualidades quanto à imperiosa necessidade de haver, em Portugal, e cito: «um compromisso entre o Presidente da República, o Governo e os principais partidos, para garantir a capacidade de execução de um plano de acção imediato, que permita assegurar a credibilidade externa e o regular financiamento da economia, evitando perturbações adicionais numa campanha eleitoral que deve contribuir para uma escolha serena, livre e informada».
Referem também tais eminências nacionais, insistentemente, nessa «maioria inequívoca», como base de sustentação do tal «compromisso entre os principais partidos…» etc., etc.
Ora, no estado a que as coisas chegaram impor-se-á, obviamente, um pragmatismo – termo tão caro aos políticos da treta, quando as coisas não correm de feição… - na lide da coisa pública. Creio que nisso teremos de estar todos de acordo e, nesta fase da conversa, quer queiramos, quer não.
Perturba-me, no entanto e sobremaneira, a expressão da «maioria inequívoca dos principais partidos» e o que ela tem implícita. Esta exclusão, à partida, dos presuntivos partidos «não principais», assumindo as tais eminências que serão despiciendos no panorama político português, marginaliza, assim, antidemocraticamente, porventura dos mais significativos grupos de cidadãos activos e de profunda consciência de cidadania, goste-se ou não dos dirigentes que, em dado momento, possam estar alcandorados ao topo hierárquico das respectivas organizações, ou das ideologias que professem.
Perturba-me, de igual modo, que suas eminências – a modos que um leal senado da nação – tenha cometido a imperdoável insensatez de não embrulhar no seu pacote de boas (?) intenções os chamados «parceiros sociais» – igrejas incluídas e das diversas fés – se, na verdade, é de um desígnio nacional e democrático que aqui se fala.
Isto pela liminar razão de que podem os «partidos da inequívoca maioria» cozinharem os nossos interesses e seu bel prazer que dificilmente chegarão a qualquer lado – e a bem! – se não contarem com a cumplicidade e apoio activo da chamada sociedade civil. E isto, que se me depara singelamente liminar, parece ter escapado a este grupo dos 47, denunciando um tique antidemocrático de «democratas por interesse», se assim se lhes pode civilizadamente chamar, que muito me penaliza que integre alguns nomes que fazem parte do meu círculo de referências.
Alguém de bom senso pode imaginar que manterá todas as «gerações à rasca», organizadas ou não, indefinidamente passivas e caladas sem recorrer a severas cargas repressivas, provavelmente já a curto prazo?
O Bloco de Esquerda ou o Partido Comunista Português, ou os Verdes, a CGTP e, até, a UGT, a CIP, a CAP, etc., etc., por aí fora, vão ser ilegalizados, é? É que marginalizados já estão a ser, quer pelos sucessivos governos, quer por este grupo de nobres cidadãos preocupados.
Querem ver que a infeliz receita da Manuela Ferreira Leite, aquela da interrupção por seis meses da democracia, afinal colheu eco em todos estes bons pensadores?
É que esta chatice da democracia ter mesmo de contar com todos, sendo chata e incómoda, é assim mesmo… E quando não é, não é democracia!
Nota de rodapé – Um dos signatários dá pelo nome de António Vitorino. Será o mesmo, aquele baixote, que, ainda ontem, perorava em favor do seu querido amigo Zé, no suposto Congresso do PS, contra o resto do mundo, pois que, depois deles, viria coisa mais horrenda que o dilúvio? É este o tal superior interesse de conjugação de esforços? Ou, lamentavelmente, apenas se confirma que o rei continua a ir nu?
Confirmo: o presidente vai nu!
ResponderEliminarDeus nos poupe a tal visão!
ResponderEliminarVolto a estar de acordo contigo, parceiro, e assim vamos dar cabo da estatística no mercado das apostas.
ResponderEliminarNão sou próximo de nenhum dos pequenos partidos, mas não concordo de todo com esta vontade irreprimível de reduzir a capacidade decisória aos iluminados das grandes maiorias.
No fundo, os media já começaram esse processo quando negam a participação nos debates aos partidos com representação parlamentar ou aos candidatos presidenciais melhor colocados nas sondagens...
Ora bolas, isto assim não dá luta, se estais de acordo :O(
ResponderEliminar(eu queria dizer "sem" representação parlamentar. Para lamentar é o estado geral do conteúdo da minha caixa craniana)
ResponderEliminarSão Rosas Maria: acabamos de ter um simultâneo!
ResponderEliminarSe isto não é contra natura...
Somos almas gémeas. Tu não és lésbica, também?
ResponderEliminarAinda vamos ser dados como exemplo de concertação social... ;-)»
ResponderEliminarEu, que franco-atirador me confesso e que nisto dos partidos todos quero guardar distância, ainda que (ou por causa disso) tenha tido a minha pesada dose de militância activa, poderei, pontualmente, ter maiores simpatias para aqui ou para ali, tenho a convicção profunda de que a democracia não se esgota nem pode esgotar-se nos partidos.
No entanto, o voto nos «pequenos partidos» é de tão transcendente importância como nos demais e ninguém pode presumir sequer esta arrogância e fingido menosprezo com que se tratam os «partidos com menor expressão parlamentar».
Afinal, os votos no BE e no PCP, em 2009, totalizaram 1.003.585 votantes, ou seja, essa merdita de um décimo de TODA a população portuguesa!
O CDS/PP totalizou 592.778 votos. Mas este tem lugar garantido... e os outros não.
Chamam-lhes os partidos do «arco do poder». Cunscanecos, já estou com o camarada Jerónimo, eles são é do arco-da-velha!
Agora, marginalizem aquele milhãozito e, depois, queixem-se...
E não se esqueçam da seitinha :O)
ResponderEliminarEsses, o da seitinha é que são os piores.
ResponderEliminarMas esta malta não aprendeu nada, mas mesmo nada.
Faria bem a todos os que se intitulam economistas, saberem muito mais de História. Não os episódios devidamentes escolhidos e enquadrados para baterem certo com as teorias, mas sim a História com um fluxo contínuo de acontecimentos encadeados onde não se pode isolar um acontecimento, atribuindo-lhes propriedades que a História no seu permanente correr desmente.
A solução FMI é um desses mitos.
Ao mesmo tempo que nos põem "dinheiro generosamente emprestado" em cima da mesa, obrigam-nos a diminuir a nossa capacidade de poder paga-lo de volta.
Lembram-se daquele post que publiquei aqui "há atrasado?".
Mal o nativo chegava com os dois sacões de amendoím ao entreposto, ja o colono tinha posto duas garrafas de aguardente, um saco de feijõa e de arroz em cima do balcão. No livro apontava em quanto dizia em voz bem alta: ...Estavas devendo X agora levas mais isto e agora estás a dever X + Y, Deves agora.... ( e depois fazia a conta e derrubava o desgraçado com o número). Só depois é que pesava o amendoim, negociado o preço, pois quem tão generosamente aguenta uma dívida merece desconto....
E não há quem ponha mão nisto, cacete!!!!!
~Querem ajudar-nos? Comprem Português, produtos nacionais, incentivem a nossa produção etc e mais não digo,
Charlie, és grande! Bateste aí no ponto G da dona Economia. Ela tratará de gerir o dia e terá aí a sua transcendência. Mas a História - principalmente a dos povos - vai muito para além do dia, dos meses, dos anos, dos séculos... E apenas essa visão - abrangente e integrada - nos ajuda a perceber quem somos e nos ajuda a descobrir os caminhos por onde queremos ir.
ResponderEliminarEssa do ponto G da dona Economia presta-se a muitas divagações :O)
ResponderEliminarTens alguma (di)vaga ideia?
ResponderEliminarO Orca, (Mestre Orca), meus caros co-bloguistas, deverá ser possuidor de artes-e-fícios que desconhecemos, mas se ele diz que conhece o ponto G da menina economia, é porque sabe onde fica, de certeza :D
ResponderEliminar"De ser tesa", queres tu d'zer.
ResponderEliminarSe querem a minha opinião, o Charlie tem razão, e o Orca sabe mesmo onde fica o G da dita. A São e o Shark não são almas gémeas apesar dos simultâneos. E, por fim, (e isto toda a gente sabe)a São é lésbica de ser tesa.
ResponderEliminarQuanto ao resto, já que pelo meio da conversa também se abordaram outros temas, esta democracia de partidos, em que ao cidadão é dada a possibilidade de escolha de um representante "banana" ou "banana" ou banana", sendo este seleccionado pelos macacos, é uma grande macacada. E o melhor daquilo que persiste da expressão (residual) de alguma pluralidade são mesmo os pequenos partidos. De maneira que, sem eles, estaremos ainda mais longe da tal almejada "democracia", com a dificuldade, ainda por cima, de não termos nenhum ditador à altura.
Mas é em fases de ciclos como a presente que aparecem os ditadores...
ResponderEliminarExactamente, São!
ResponderEliminarE quem fizer de conta que não percebe é porque não aprende nada com as lições da História.
(Basta recuar até 1926...)
Exacto. E é bem fácil de perceber porquê. Com democracias destas, o povo até tem saudades da ditadura! (estou a brincar, embora esteja a falar a sério...) Mas o momento é, de facto, especialmente propício. Começa-se pelo sentimento colectivo de que só um milagre, ou a vinda de um "salvador", pode endireitar a coisa... e depois, pimba!
ResponderEliminarMas o momento também é propício a revoluções... e, quem sabe, não se mudará para melhor? Pelos menos essa possibilidade existe. As pessoas querem um governo melhor, querem um sistema melhor... O que se será preciso, ou, quantos serão precisos, para que isto aconteça?
ResponderEliminarE o que é "melhor"?
ResponderEliminarIsto de consensos é algo bem complicado.
O melhor de alguns é o pior de outros... e neste caso, o melhor de poucos é o pior de muitos. E começa a fazer falta uma inversão desta tendência... nem haverá outra solução. Por um conjunto variado de razões isto vai tudo ter que levar uma grande volta. Do que observo da história, resumindo, os impérios caem sempre que o número de escravos é demasiado. E este nosso império de corrupção e terrorismo financeiro não será excepção. Não me refiro só a Portugal, claro.
ResponderEliminarPara o que é "melhor", concretamente, eu poderia alvitrar muitas soluções concretizáveis. A minha opinião, contudo, de pouco valerá. Mas neste momento há de certeza muitas cabeças a ocupar-se do mesmo... e mais dia, menos dia, algum efeito haverão de produzir. A história não é apenas feita de "mais do mesmo" ou de "andar para trás". Pelo menos, a possibilidade de se fazer algo de diferente estará sempre em aberto. Melhor? Pior? Esperemos que melhor. Como está, e para onde vai, não tem viabilidade.
ResponderEliminarOlha que bem que eu me sinto com esta cascata de comentários !!!
ResponderEliminarPois, para já, para já, eu creio que a melhor palavra de ordem - até contra algum ditadorzeco mais ou menos iluminado, é votar nas «franjas». Até no CDS, carais!
Sem preconceitos, pois.
Quanto maior for a «molhada», em princípio, mais condenados estarão a entender-se, global ou sectorialmente. Esta cena do «arco do poder» é que dá na treta que conhecemos e de que estamos fartos. Ou não será?
Eu ando tão confusa que ainda não consegui decidir se voto CDS ou BE... :(
ResponderEliminarCandidatamos a Seitinha?
ResponderEliminar(Vê lá se arranjas aí lugar para mais três nas listas, eu, a outra, e a pequerrucha, que a gaja tem uma mandíbula potente, o que dá sempre jeito em horas de ponta...)
ResponderEliminarMandíbula potente, a pequerrucha?!
ResponderEliminarihihihihihihih
Desculpa, Libelita
ihihihihihihih
Fica então ela nomeada nossa guarda-costas
ihihihihihihih