Nisto da política, para além da assumida ignorância, existe em mim um equilíbrio precário no que respeita à validação do trabalho dos políticos que esta época marada nos ofereceu.
Há dias em que até tento pugnar pela causa, a da democracia que amo, a da esquerda que perfilho, mas há outros em que a saturação de desmentidos, de desmascarados, de trocas de piropos entre gente de uma classe que só deveria albergar, no mínimo, a inteligência necessária para defender o sistema das suas leviandades me conduz a um beco sem saída mental.
Em causa para mim está o dilema entre a defesa instintiva dos mecanismos da Democracia, da credibilidade que resta à classe política que, mal ou bem, é a que temos para fazer a coisa funcionar, e a vontade de desatar à chapada nesta inverosímil cambada que parece fazer de propósito para nos afugentar.
E têm conseguido, como a abstenção crescente comprova. Porém, a subida do tom do discurso sob os efeitos da pressão da crise (das eleições que se avizinham) nas bocas de quem não possui o bom senso para moderar a linguagem em prol de um debate civilizado, decente, acerca de um problema tão grave que uma pessoa já se está mais nas tintas para as causas e menos para as consequências ameaça levar a coisa para outro patamar que me evoca tristes memórias dos carros que vi incendiados na Nazaré por estarem forrados, à época um pecado, com cartazes do “fascista” CDS ou das cenas de pancadaria constantes entre a malta das esquerdas com o MRPP sempre misturado na confusão.
São memórias foleiras de outros tempos igualmente conturbados, inquinados pela intolerância e pela ansiedade de quem queria lutar por algo de importante mas se esquecia que com o excesso de empenho podia destruir a Liberdade pela raiz, na voragem de guerras civis iminentes e outras aberrações típicas de casa sem pão. E sem juízo também.
E a nossa, esta que chamamos Portugal há uns séculos valentes, começa a enfrentar de novo essa realidade da falta de tino generalizada mas desta vez com as rédeas entregues a lideranças bem distintas das que nessa altura definiam o rumo a seguir.
É mesmo de temer, no meio do desespero de causa dos que querem lá chegar e dos que não querem ir embora que multiplica calinadas e aumenta a desconfiança quanto a pessoas, a partidos e mesmo à validade das ideologias, uma escalada de agressividade daquelas que acabam por fomentar os pretextos para a malta na rua querer aliviar à porrada esta permanente tensão.
Os rostos dos figurões sem palavra, sem consistência, sem brilho no olhar, movidos pelas razões erradas e incapazes de distinguirem a emergência de se fazerem mulherzinhas e homenzinhos e arregaçarem mangas por uns anos para reerguerem o que a sua inépcia conjunta mais a conjuntura aziaga que a destapou arrasaram já enjoam.
E cada vez mais me vejo obrigado a engolir em seco perante este impulso que me leva a tentar defender males menores e soluções de recurso a bem de um simulacro de ordem no caos quando, tantas vezes, quase sempre, o que apetece mesmo é mandá-los a todos procurarem alternativas de emprego consonantes com a falta de capacidade que o resultado do seu trabalho anos a fio ilustra nesta situação de merda a que deixámos todos chegar este país.
Ora, aí está! E como estou, outra vez, de acordo contigo.
ResponderEliminarPor outro lado, o cenário pode acabar por descambar numa coisa interessante, se ao povinho lhe der para aí: 20% vezes 5. Aí, sim, tínhamos essa malta obrigada a entender-se. Se calhar, a bem ou a mal, para o caso... E o fartote que ia ser para o senhor Presidente da República?
Está tudo num patamar tão surreal que qualquer devaneio é legítimo.
Por exemplo: FMI e BCE, BCE e FMI. Muito bem! E, por acaso, as medidas que venham a preconizar e que tudo quanto é gente opinativa assume de barato podem passar por cima da Assembleia da República? Parece-me evidente que não... Mas se aí o equilíbrio de forças for da instabilidade que podemos antecipar - o sonho é que comanda a vida - o que é que fazem o FMI mai-lo BCE? Amuam? Dizem que assim não vale, vamos fazer novas eleições? Fazem as malas e vão chatear outros?
Vocês sabem, eu ando a ficar mesmo um pouco passado com toda esta cena...
O Estado - leia-se os (des)governos - fazem hospitais de muitos e muitos milhões com o dinheiro dos nossos gordos impostos. Depois de concluídos, entregam-nos aos Mello, de mão beijada e com contratos de exploração leoninos... só mesmo por exemplo.
Ai, assim não há-de haver dinheiro para pensos nem seringas, claro. E o que é que o FMI-BCE fará? Compra as seringas, compra os Mello, compra o povinho e vai explorar directamente o hospital?
Estou confuso...
Deveríamos fazer como na Islândia!
ResponderEliminarAtravés dum referendo ficou assente que não iriam pagar as dívidas.
Segundo eles, os causadores da crise foram os especuladores e inventores de fundos fictícios e assim sendo, o prejuizo do país já foi suficiente ao aceitar esses papeis sem valor como bons. Agora, o Governo decretou apoiado no referendo, que os bancos ficassem com os papeis e que se entendessem com eles; o país não deve coisa alguma! Vão à falência?
Pois que siga a falência: 93% dos votantes islandeses estão de acordo que o país não deve pagar prejuizos decorrentes da especulação.
Porque no fundo é disto que se trata: os senhores que inventaram os papeis sem valor querem que todos nós lhes demos por essas virtualidades coisas reais! Bens verdadeiros, dinheiro de facto!
"Ora, já é muito descaramento", disseram em islandês os habitantes do páis do gelo...
E nós o que dizemos? Sim patrão! Com certeza patrão. Descer as calcinhas? Sim patrão. Dou-te o meu carro? Sim patrão, o patrão manda. Queres ficar com três ordenados meus por ano? Certo patrão...hhehehee o meu patrão é muito generoso...heheeh deixa-me ficar com nove ordenados....obrigado patrão. Como?
Quer mais dois ordenados? Certo patrão...A minha mulher é muito jeitosa? ....pois patrão ... :(
Ah... mas sim...Ela pode ir lá passar pela hora do jantar patrão...
Como? Passar lá a noite? .....pois ....pois.... patrão.....
Vou publicar aqui um excerto da última crónica do Boaventura Sousa Santos na Visão.
ResponderEliminarClaru, Ção Rozas...
ResponderEliminarAfinal tú ésh o patrãu, digo, patrôa a açim....( e açim como açim, melhéres, despir as calçinhas çoa-me beim, nam çei purqueim...)
És danada, tu, camarada, melhér!
ResponderEliminarJá era tempo de crescerem... era... e para muitos, de desaparecerem. Eu sei que não faz uma diferença prática muito grande mas, a sério, há pessoas que já não posso ver. Até fico com náuseas. Ando a sentir coisas estranhas... instintos assassinos... suspeito que isto seja induzido por uma overdose de indignação. E é curioso que encontro aqui pessoas a apresentar os mesmo sintomas. Isto se calhar "pega-se"! :)
ResponderEliminarEu prefiro "pegar" de outra forma... não desmerecendo as vossas :O)
ResponderEliminarLibélua, isso que referes não só se pega, como se paga!
ResponderEliminarOverdose de indignação, também é bom, mesmo com as reacções alérgicas colaterais. A mim anda a dar-me uma borbulhagem danada na fachada... E, quando questionado, digo sempre: - Olha, esta borbulha é Teixeira dos Santos, esta outra é do Passos perdido, aquela é socrática, etc., etc. E só me aparecem na cara, que é para ver se eu tenho mais vergonha delas, de certezinha...
Mas tramado é o ficar-se mudo e quedo. Começam a cair-nos coisas: o cabelo, a dignidade, os tintins. E é chato porque são coisas que nos compõem muito...
É verdade. O efeito piora quando se fica mudo e quedo. Eu também sinto isso...
ResponderEliminarPor isso mesmo vou ser objectiva.
Eu, perante isto tudo, assim no imediato, o que queria mesmo, mesmo, mesmo, (além de enfiar gajos de género teixeirinha, sócrates e outros que tais nas galés... e outras coisinhas mais que a gente já sabe...), era a seguinte distribuição de votos para as próximas eleições:
70% a distribuir entre CDS e BE
30% a distribuir por PS e PSD
(e entre isto, o mínimo de abstenção)
Isto é que ia ser desempoeirar a casa e limpar as teias de aranha!
Também seria uma lição para não esquecer tão cedo.
Acção ao alcance de todos.
Senão... muita manifestação, muito queixume, muito teré-tété... e depois, na hora do "vamos ver"... nada!! É de tudo aquilo que mais doente me deixa!
... não me leve a mal o PCP não estar incluído... podia ser... não sou mesquinha... Por mim, desde que fosse qualquer coisa do género, já estaria óptimo, excelente, maravilhoso.
ResponderEliminarEntão e o PPM?
ResponderEliminarPronto. Expressei-me mal.
ResponderEliminarAonde eu queria chegar era: desde que o rosa/laranja não tenha mais que 30%... já é uma festa! (isto para ser benevolente com os critérios das massa, porque não mereciam tanto...)
O voto é o único sapato que temos a jeito para lhes atirar à cara. Censura e demagogia não vão resolver nada. Nem ideias bonitas e utópicas ou cruzar os braços na célebre passividade do "ah, não voto, não há nada a fazer, não vale a pena". Fazer um esforço para tentar mudar mentalidades é sempre positivo, mas no imediato, e face às possibilidades que existem a curto prazo, parece-me que isto seria o melhor a fazer: cartão vermelho (ou pelo menos amarelo-avermelhado).
As pessoas receiam a mudança. Têm medo do "pode ser pior". Mas será que pode? Será que pode ser pior?
Haverá alguma coisa pior que consentir que estes senhores prossigam com o belíssimo trabalho que têm feito pelo país?
Falidos e subjugados. Que nos reste ao menos uma gotinha de dignidade.
ResponderEliminarDignidade... era algo que os políticos deveriam procurar sempre ter...
ResponderEliminar(Tá muito calor e depois a gotinha evapora.)
ResponderEliminarE eles ficam nas nuvens... e depois dá no que se vê.
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