foto, central de Fukushima
Ha dias tive a surpresa extraordinária de assistir a um debate na RTP2, integrado no programa "Sociedade Civil" sobre o tema da actualidade: A central Nuclear de Fukushima.
Moderado pela extraordinária Fernanda de Freitas tinha, como participantes no painel, elementos pró e contra esta forma de gerar energia.
Antes de continuar a dissertar e a opinar sobre o que foi dado a ouvir por quem se dignou a assistir - como eu- ao programa, devo dizer que abro neste momento uma excepção à geração de energia com recurso ao nuclear. De facto, um dos intervenientes disse que a energia nuclear é a única forma verdadeiramente natural de gerar energia. Todas as outras formas que conhecemos, não criam energia verdadeiramente mas sim reproduzem a energia acumulada ao longo de milénios por força da única fonte de energia autêntica e que é nuclear: O Sol.
O emissor desta notável pérola técnico-filosofica, todo ele a favor das centrais, continuava: a energia das ondas, donde vem?: do Sol! A energia do vento? De onde vem a energia que o vento representa?: do Sol!
De onde vem a energia do carvão e do gás, da gasolina etc?
Do Sol, cuja energia ficou acumulada quimicamente durante um processo de milhões de anos e que através da queima se liberta! Continuava ele depois triunfante dizendo então que uma Central Nuclear era a forma mais natural de gerar energia pois o processo nuclear nas centrais cria de facto energia- como o sol- quando todas as outras apenas a devolvem. É claro que perante um argumento destes, eu, só poderia ter ficado de imediato recrutado pelo entusiasmo desta fonte de energia motivo pelo qual reproduzo o conteúdo do mail enviado onde manisfestava o meu volte-face: de anti nuclear teria passado a defensor acérrimo da energia contida nos núcleos dos átomos, com um ligeiro senão: desde que as Centrais ficassem onde não pudessem fazer mal a ninguém, por exemplo a 160 milhões de Km, na superficie do nosso Astro-Rei!
Ficara estupefacto! Sinceramente, estupefacto...
Extraordinário como depois de tudo o que está acontecendo, apesar de todos os avisos e alertas atempadamente produzidos, continua a haver gente a defender com unhas e dentes estas apocalípticas estruturas. A posição desta figura no painel era duma arrogância e sobranceria impressionantes. Sorria com desdém das mais que justificadas apreensões dos que do outro lado contrapunham os seus argumentos. Do lado dele havia um outro elemento especializado na minorização dos efeitos radioactivos e no fim, não fosse o contraditório, a geração eléctrica por este meio seria a mais eficaz, barata e inócua forma,alguma vez produzida, da Humanidade dispor de energia eléctrica ...
A verdade no terreno é por demais evidente para perdermos sequer tempo a dar ouvidos aos que ainda estão a favor das centrais, mas a tentativa de lavagem de imagem constitui no mínimo um atentado ao mais elementar bom senso, para não dizer as coisas de outro modo e chamar os bois pelos nomes!
O fenómeno do "Síndroma da China" de que falei no post anterior, ja começou. As águas subterrâneas à volta de Fukushima estão ja contaminadas numa ordem de grandeza inimaginável: 10.000 vezes acima do máximo que os organísmos vivos suportam. Isto significa que parte do material nuclear, pelo excesso de aquecimento, fundiu o seu suporte, derreteu o solo por debaixo e foi descendo pela acção da gravidade, sempre fundido a rocha até chegar aos veios freáticos. Agora toda a água doce subterrânea na região da central está contaminada.
O passo seguinte é a sua absorção pelas raízes das plantas. Tal como em Chernobyl toda a flora irá desaparecer no local e sofrer mutações genéticas nas zonas limites. A fauna irá ter sorte semelhante e morrer e os tumores cancerosos reproduzir-se ão nos sobreviventes em enormes proporções. As águas do mar ao redor da central estão também fortemente contaminadas: à volta de 5.000 vezes acima do máximo permitido e considerado "seguro". Jamais se poderá voltar a pescar naquelas águas, nem cultivar os terrenos numa área - para já- de quarenta quilómetros ao redor da central.
Basta ir ao Google Earth, visualizar o Japão, e centrar a atenção sobre as coordenadas 37º25'17.98N / 141º02'00.36E. O serviço disponibiliza imagens a três dimensões da central, e podemos depois utilizando a régua para medir trajectos e distâncias que a barra de ferramentas do Google Earth dispõe, traçar a área afectada. Considerando os 40Km em redor como área contaminada impõe-se a chamada zona tampão que poderá ser de outros tantos quílómetros. Considere-se então uma circunferência com 80 km de raio, 160 km de diâmetro, e teremos a dimensão correcta do impacto que a estupidez humana é capaz de exercer sobre o seu próprio e imediato suporte de vida, e mesmo assim, encontrar espécimes capazes de vir a um meio de comunição social e declarar enormidades como as que referí terem sido afirmadas no ínicio deste post. Países há, e são muitos, mais pequenos que a área afectada por este acidente, mas isso parece não ter qualquer importância para as sumidades em apreciação que não se coibiram de exprimir despudoradamente tamanhas enormidades...
Ainda no Google Earth poderemos focar a nossa atenção sobre a central nuclear de Almaraz, -29º48'25.00" N. / 5º42'12.00" W. mesmo à nossa porta e que a foto em cima retrata- e repetir os mesmos passos. Veremos então o alcance que um acidente grave teria e até que ponto atingiria o nosso país. Os que se derem ao trabalho de visualizar Almaraz verão como existe uma barragem ao lado da central. Trata-se da barragem de Arrocampo cujas águas se destinam ao arrefecimento da central. Esta barragem enferma desde a sua construção de diversas deficiências, não respeitando alguns preceitos anti-sísmicos. Este facto tem sido repetidamente denunciado e a empresa que administra a central tem sido alvo de consecutivas coimas por falhas críticas no funcionamento do equipamento e que puseram em causa aspectos básicos de segurança . Um sismo de intensidade média poderá destruir o paredão da barragem e fazer com que a central fique sem possibilidade de arrefecimento, podendo reproduzir-se então algo semelhante ao sucedido em Fukushima.
Um dos problemas mais graves da energia produzida por centrais nucleares reside no que está já a jusante da vida útil das estruturas que a produzem e que é de extrema gravidade, com horizontes temporais dilatados e quase inimagináveis no caso do plutónio: os resíduos radioactivos. Espanha não é excepção e isto é um facto que nos afecta de forma imediata e irremediável. Espanha está a planear um cemitério para depositar os resíduos das diversas centrais nucleares Espanholas a oitenta quilómetros da nossa fronteira em Albalá, provínca de Cáceres. Não é necessário enfatizar o que poderá acontecer no caso de um acidente, dum sismo com consequencias de fuga de material tóxico para o subsolo nem insistir no exemplo Japonês para imaginarmos os riscos a que estaremos sujeitos a partir do momento em que o cemitério for instalado. A par disto, notemos que Almaraz, mesmo depois de formalmente encerrada, ficará a pender sobre a nossa fronteira como um fio de cabelo a sustentar a espada de Damocles. Dependente duma manutenção constante mesmo depois de já não produzir nem mais um Watt, será obviamente e progressivamente votada ao esquecimento e ao abandono, mal grado a memória eterna dos subprodutos nucleares.
Podemos imaginar um cenário habitual nos complexos industriais que a voragem dos tempos deixa desactivados; cercas ferrugentas, edifícios abandonados de vidros partidos, e um progressivo afrouxamento da segurança e manutenção, que custa dinheiro, e este não abunda nos tempos de crise, ciclicamente repetidos....
A chamada de atenção que este post constitui é apenas mais uma- quiçá a mais modesta entre tantas- no sentido da sensibilização que é imperioso ser levada a cabo.
Recupero para esse efeito um velho "slogan" fora de moda no seu aspecto formal, e talvez pleno de ingenuidade perante a gravidade desmedida do perigo que o nuclear representa: Mais vale ser activo hoje, do que ser radio-activo amanhã.
Chiça, Charlie. Tu é que deverias ter ido lá falar com o moço de recados do nuclear.
ResponderEliminarCharlie, companheiro, tiro o chapéu ao teu entusiasmo por esta causa.
ResponderEliminarE tens em mim um seguidor incondicional.
Olá companheiros Persuactivos.
ResponderEliminarDe facto São Rosas, falar como o moço de recados é uma boa opção.
Mas falar grosso, de voz bem entoada e de preferência de cacete na mão, ou moca, tanto faz, desde que argumente bem.
Shark, camaradamigo pá.
Sou incondicionalmente contra esta porcaria. Pois é de uma porcaria que se trata. Mas claro que há sempre quem esteja disposto a tudo e que corrompa engenheiros e cientistas desde que isso lhe dê vantagem nos negócios.
Recupero a esse propósito Patrick Monteiro de Barros e a sua ideia de por em portugal uma Central destas. Sempre os mesmos argumentos, o preço, etc. Afirmava ficar a energia a 3,5 Cêntimos de €uro por KW. Mas nem aí conseguiu dizer que uma central destas exige um consumo constante que ultrapassa em muito o nosso consumo nocturno, o pico de baixa. O que faríamos então? Se desligassemos as outras todas, mesmo assim a central produziria energia a mais, que teria de ser deitada fora sob forma de vapor de água em quantidades gigantescas, logo aí os 3,5 centimos ficariam bem mais pesados. Para a ter a trabalhar constantemente a 10 ou 20%, não daria o retorno previsivel nos 30 ou 40 anos que no máximo aquelas gironças conseguem ser minimamente controladas. E isto porque, tal como um transatlântico, não se pode acelerar nem travar instantaneamente a sua marcha.
Uma vez iniciada é muito complexo fazer a sua paragem.
Por isso, aos entusiastas do programa digo, nem pelas "marteladas contas" conseguem justificar uma treta daquelas.
Agora que já temos dados, os moços de recados que apareçam.
ResponderEliminarEles andem fugidos, camaradas,andem fugidos... ;)
ResponderEliminarAtrás do arbusto?
ResponderEliminarCharlie,
ResponderEliminarMais uma vez gostei de te ler ainda que chegue a ser arrepiante o que aqui tão bem descreves! E olha, sabes que mais?! Este teu Post merecia um grande e diversificado público... talvez ajudasse alguns de nós a ver mais claro sobre este tema!
Olá Laura, ha bocadinho passei junto ao teu jardim e parei para admirar as belas flores que esta primavera fez despontar.
ResponderEliminarO assunto de que falamos é de facto tenebroso e tento passar uma mensagem clara e nada embrenhada em tecnicismos os quais, longe de facilitar o entendimento, apenas confundem, e eu acho que devemos sempre falar para todos. Como funciona de facto intimamente a fissão controlada é um assunto tão complexo e perigoso que não cabe explicar aqui, mas digamos em jeito de quase metáfora, que é como se fosse uma bomba atómica em câmara lenta: em vez de explodir num milisegundo, explode devagarinho durante um ano e meio a dois anos, como se de arder em lume brando se tratasse, só que é um "brando" tão pouco brando que exige 2.500.000 litros de água por MINUTO a passar pelo circuito secundário, enquanto no circuito primário a água ou o líquido, gás ou seja lá o que os técnicos acharem mais conveniente, não pode nunca mas mesmo nunca parar de circular. A temperatura do cerne das varetas atinge milhares de graus....
Eu reparei Charlie, eu reparei! Volta sempre! ;)
ResponderEliminarChiça...! E metendo lá todos os moços de recados aquilo também não arrefece, pois não? :-(»
ResponderEliminarO post já está fora da ribalta, mas os efeitos terríveis não.
ResponderEliminarA radioactividade nos arredores da central, já passou toda a racionalidade entendível no nosso estreito quadro de valores numéricos.
Ninquem ainda contou um a um até um milhão, mas no momento em que escrevo este comentário, a radioactividade ultrapassou mais de um milhão de vezes o valor máximo admissivel....
E ainda ontem ouvi novamente os tais moços de recados a assobiar para o lado....
xi....que nervos....
Na revista C (de Coimbra) desta semana, vinha um artigo com o professor Delgado Domingos que tem os mesmos receios que tu... e nós.
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