abril 08, 2011

Bacalhau e chicote

A propósito desta posta desencantada, deixo-vos aqui dois comentários que lá deixaram:

Kikas: "O problema é que passámos muitos anos a dormir... entre o sono, a letargia e o sonho. O nosso clima é ameno, não temos extremos que nos desafiem. Não temos furacões, enxurradas, frios assassinos que nos obriguem a lutar para não morrermos – apenas brumas cálidas e céus azuis que nos adoçam o carácter e a auto-estima. Até em matéria de tradições – devemos ser o único país do mundo cujo prato nacional é feito com algo que não existe nem nunca existiu no respectivo território: o bacalhau.
Sempre fomos buscar o que precisávamos lá fora – e como o encontrámos, desabituámo-nos de procurá-lo cá dentro. Tivemos a pimenta da Índia, o ouro do Brasil, os escravos de Angola e, quando ficámos sem isso (se é que o tivemos verdadeiramente) recorremos aos fundos da União Europeia e aos carrascos do FMI.
O problema é que agora, não somos colonizadores, somos escravos que vão a leilão, facilmente transaccionáveis no mercado de capitais, à mercê de gente sem escrúpulos que nos vão sugar a carne e o sangue."

Charlie: "O Homem sempre fez o mesmo. Fomos nós que, indo lá fora buscar a pimenta, transformámos o «lá fora» em coisa nossa: Portugal. As nossas fronteiras expandiram-se numa geração. Fomos mundo, todo o mundo cabia no Terreiro do Paço e batemos o pé a Espanha, enganámo-los através de uma das manobras de diversão mais espectaculares da História com a invenção das Índias para Oeste, quando nós íamos para o Oriente contornando as Áfricas que desde Ptolomeu se julgavam terra contínua, sem passagem para outros mares. Os outros, mais tarde, fizeram o mesmo. Inglaterra por todo o mundo. Fala-se Inglês por todo o lado, ainda hoje.
Mas manter colónias é pesado, cria desconfortos. Os tempos de hoje são de neo-colonialismo. Os Portugueses sabiam como fazê-lo de forma hábil: de entre os povos dominados, escolhiam uma elite, nunca um grupo, apenas alguns elementos e escolhidos um a um. Davam-lhes privilégios, mordomias e, uma vez ascendidos, utilizavam o que mais faz mexer o Homem - a angústia. Basta uma pequena ameaça, velada, o fazer sentir um desconforto, do tipo de «algo que não está bem». Depois é retirar um privilégio, ter uma conversa mais distante e fria e isto durante uns dias. Depois vai-se ao ataque:
- Escuta.... preciso mesmo de falar contigo.
O interlocutor, pessoa que sentia estar a perder o status, ficava quieto e em expectativa e ouvia:
- Sabes? Não ando satisfeito. Os teus não estão a trabalhar como deve ser e preciso de mais produção. No Puto (Portugal, como se dizia em África) andam aborrecidos porque querem mais café e eu não lhes consigo enviar mais, se calhar tenho que arranjar outra pessoa para o teu lugar...
Não existe melhor forma de ficar com mãos limpas, transferir o odioso e aumentar lucros. No dia seguinte, o chicote estalava nas costas desses malandros, não pelas mãos do Colono, mas através desse que via estar a fugir-lhe das mãos um mundo de benesses, privilégios e status, sem cuidar, pois a memória é volátil, que tudo aquilo já era seu por direito de nascença, por ser daquelas terras muito antes dos chefes brancos terem chegado...
O que se passa nos tempos de hoje é fotocópia, com outros protagonistas, outros chicotes, outros colonos, mas o mesmo fio que mexe as marionetas: a angústia.
Vivemos benesses, criamos status, e agora vivemos o desconforto. Onde está o chefe branco?
Está lá longe, por detrás das secretárias dos Ratings, mancomunadas com o FMI e com as empresas dententoras da dívida dos países.
Por cá estala o chicote. Malandros que não ganham para os juros, bando de malandros, que por vossa causa não vou poder trocar de automóvel este ano nem andar de ski..."

8 comentários:

  1. Podes publicar o meu comentário sim, Sãozinha.
    Mesmo que dissesse não, já não havia remédio! lolol
    Obrigada Charlie pela sequência ao meu comentário, eu parei ali porque fui prós braços do Morfeu ... sonhar, é preciso, SEMPRE!

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  2. Eu aguardaria a tua autorização mas o Paulo Moura está sempre com pressa...

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  3. Olá Kikas :)
    É Off-topic, mas de repente ao ver a ilustração com a bela posta de bacalhau, alembrei-me melhér, que nam á çonho milhor pró bacalhao que çer cumido entri o aseito e o alhu :DDDDDD

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  4. Ó Charlie, agora pões o Nelo a dizer frases pró-bacalhau?!

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  5. Olha a Ção Rozas,
    Não foi nada senão um lapso, Magister ;)

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  6. Já te estou a imaginar:
    - Charlie, a tua língua está na minha passarita.
    - É só um lapsus linguae, menina.

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  7. O que vale é que tens uma passarita voadora, dessas que uma melhér çó vei ao lonje hehehheehh

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  8. É mais um pássaro pica-miolos, como o da anedota :O)

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